21 de dezembro de 2008

marcou?

Eu tava rodando pela net quando acabei encontranto no Yahoo respostas a seguinte pergunta: "Qual a frase que marcou sua vida?" Bem, fiz uma pequena seleção daquelas que achei mais legais e resolvi postar aqui. Umas, para um boa reflexão, outras pra uma boa risada.
Vale lembrar que nenhuma das frases aqui refletem necessariamente a opnião do autor do blog....

"naum dá mais.....”

"É nos momentos de decisão que traçamos o nosso destino."

"Ás vezes só do inferno é que se vê o céu"

"pai eu te amo"

"Confio muito em você"

" Olha lá: ele está se mexendo" Foi dita no meu velório...

“não. ainda não”

" Mamãe, vc vai ter um bebê !!!"

"Eu aceito"

"Desgraça gosta de companhia."

Foi quando eu me batizei e o Pastor com a mão na minha cabeça me disse: " Tenha agora o nome escrito no Livro da Vida ".

''A vida não é um sonho, mas os sonhos fazem parte de nossa vida."

"Com você eu vivi os melhores momentos da minha vida......

Agora sem você aqui neste inferno estou me alimentando de lembranças, lembranças estas que me faz ter força para continuar... Você foi e sempre vai ser a melhor pessoinha que passou nesta porcaria de vida..........”
Meu Ex-namorado me escreveu esta frase, em uma carta....Agora ele se encontra preso e privado de sua liberdade...

“não importa pelo que tenha que passar, passe...e chegue do outro lado uma pessoa melhor, seja homem...seja forte...seja você mesmo...”

A frase que me marcou foi essa "Você está pensando que estou cagando dinheiro?". Minha mãe sempre falava isto quando pedia dinheiro para ela.

" Você é a pessoa certa na hora errada”

“Não temas! Crê somente”

“Sou virgem, mas não sou Santa!”

"eu aceito"

“Será que você é a mulher da minha vida?"

" Vai que é sua Tafarell..."

“O tempo vence toda ilusão.”

“A vida só pode ser entendida olhando-se para trás. Mas só pode ser vivida olhando-se para frente.” (S. Kierkegaard)

“Não vemos as coisas como elas são, mas como nós somos”. (Anais Nin)

"Até que a morte os separe"

“Você está reprovado de novo.

''Quem brinca com Deus morre''

Quando meu pai me disse:"se vira!"

“Seu filho acaba de falecer....”

''Você e a mulher da minha vida, eu te amo muito.''

"olha, papai, uma formiga!!!"
frase pronunciada pelo meu filho aos 2 anos de idade, ensinando-me olhar o mundo.

“Tudo passa”

"Eu sou o caminho, a verdade e a vida" (Jesus)

“Rapadura é doce mas não é mole não...”

“ACORDA PARA VIDA MEU FILHO! Vai cuidar do que é teu!” Mudou toda minha vida. Frase de meu pai!

“Quero fazer com você uma família...”

“Não é pessoal é a política da empresa.”

“Sua mãe morreu”

Você é a melhor mãe do mundo!

"Você era todinha minha, eu não soube cuidar de você"

olha o aviãozinho...

Diálogo entre Josué e a sobrinha Beatriz, na época com 5 anos:

-Querida, você precisa comer pra engordar mais um pouquinho e crescer...

Ela responde fazendo bico:

-Eu não quero engordar e ficar feia igual àquela menina de Malhação nãaaaoo...

toca mp3?

Tenho a estranha sensação de que o avanço tecnológico tem contribuido para a idiotização da espécie humana.

no credits

Às vezes acho que estamos muito distantes de nós mesmos para distinguirmos entre um celular e um celumano.

29 de novembro de 2008

pergunte ao oráculo

No meu tempo de criança, as pessoas perguntavam 'o que é a vida?' aos pais, aos gregos, a si mesmo, ao líder religioso, ao cacique, ao pai de santo, aos deuses..e por aí vai. Hoje, nada melhor que o Google. O Google sabe coisas como o que seu filho vai comprar no Amazon, quando ele tiver 14 anos, antes mesmo dele já ter nascido. O Google també sabe do que você gosta, por onde você anda, com quem você conversa e sobre o que, pra onde você vai, de onde você veio, o que você procura, o que você resolveu deletar, quem você gostaria de pegar, quem você gostaria de matar, seu signo, idade, sexo, nacionalidade, email, orkut, endereço, o valor de sua fatura de cartão de crédito, sua profissão, onde você estuda, seu anjo da guarda, quem você foi na última encarnação, o que você quis ser quando crescesse...enfim, podemos dizer que o Google sabe infinitamente sobre tudo. Saber 'o que é a vida' é básico.
Bem, digitei 'vida' no buscador e a primeira coisa que me apareceu foi o link para o wikipedia. Chegando lá, encontrei algumas definições (ninguém nunca tem certeza) após alguns arrodeios do sujeito que escreveu aquilo ali. Dentre as que achei mais legais, considera-se que a vida é:

um"fenômeno que anima a matéria" (se você não está animado, considere-se morto)

"um sistema autopoiético (que se gera a si próprio) de base aquosa, limites lipoproteicos, metabolismo de carbono, replicação mediante ácidos nucleicos e regulação proteica, um sistema de retornos negativos inferiores subordinados a um retorno positivo superior " (dá pra repetir?)

um sistema de auto-canibalismo altamente organizado naturalmente emergente de condições comuns em corpos planetários consistindo numa população de replicadores passíveis de mutação em redor dos quais evoluiu um organismo de metabolismo homeostático que protege os replicadores e os auxilia na sua reprodução" (anh?)

"um sistema que reduz localmente a entropia mediante um fluxo de energia" (ah, energia, isso eu já sabia..)

ah, é importante destacar também que, segundo o mesmo site, 'as estrelas também poderiam ser consideradas seres vivos, por motivos semelhantes aos do fungo'. (anote isso)

e também que "o fogo não está vivo, pois liberta toda a energia oxidativa do seu combustível sob a forma de calor." (se morto já esquenta assim, imagine se estivesse vivo)

Mais alguma pergunta?

26 de novembro de 2008

soltas ao vento, presas aqui

"Me desculpem a expressão, mas às vezes pra você não sair prejudicado, você tem que se colocar no lugar do outro e pensar igual a um filho da puta.”
Professor de Marketing, em aula numa faculdade de Salvador.

“No mundo de hoje, ou você se adapta às mudanças, ou no final acaba virando um alcoólatra.”
Professor americano de Gestão Estratégica, em aula nunca faculdade de Salvador.

Josué pergunta à professora de Sociologia, no primeiro dia de aula, no seu primeiro curso de ADM, em 1999:
-Depois desses anos todos de estudo de Sociologia, o que a senhora descobriu de mais interessante?
-(Nenhum segundo para reflexão) Que todos nós somos hipócritas sociais.

Homem na rua: “agente é a plebe, agente faz a revolução”

Mulher sentada na rua:

-“menino, me dê cinco centavos”
-"eu não tenho".

Minha sobrinha de 3 anos:

-titio, o senhor está passando ferro?
-sim, estou.
Ela então indaga novamente franzindo a testa:

-o senhor não está passando roupa não?

Um amigo me pergunta:
-Cara, o que faz o homem se apaixonar por uma mulher?
-Os hormônios. Se tirarem sua testosterona você não sentirá mais atração por mulher nenhuma, igual ao que fizeram com o ratinho na experiência de laboratório.

Meu ex-cunhado, de Pernambuco, experimentando a Lavagem de Itapoan, Salvador, no ano de 2000:
“Aquilo foi a visão do inferno”

Apresentador de programa de tv, Salvador, horário de almoço:
“hoje só vai ter bagaceira”

Josué fala pra amiga que vai receber um mensalão,nos próximos meses:
“lembra-te de mim quando estiveres no paraíso”

Mulher estranha, na faixa dos 50, me dá conselhos para o casamento no intervalo do almoço, tomando sopa:
“procure usar sempre palavras doces; não se ache o gostosão achando que é só você que trai; não crie confusão por bobagens”

Amigo de meu primeiro curso de ADM em Pernambuco, tenente do exército, chefe do comando da região, em 1999, me diz:
“o único homem que a mulher ama é o filho”

Um amigo me diz, numa tentativa de se auto-confortar:
“cara, eu sei que quando eu morrer, vai ser como se eu estivesse dormindo”
Eu respondo: “Não. Quando você está dormindo, seu corpo experimenta sensações porque seu cérebro continua funcionando. Quando você estiver morto, simplesmente não vai haver sensação nenhuma. Vai ser um nada."

Josué fala a amigo:
“Eu pisei num côco e quase o ônibus passar por cima da minha perna. Se eu perdesse a perna, eu ia virar um deficiente rancoroso”

Josué conversa com amiga de cinqüenta e poucos anos, que tem 4 filhos:
-filho é preocupação pro resto da vida, não é?
Ela responde:

-É sim. Foi por isso que tomei o chumbinho naquele dia.

Pedreiro fala pro amigo, em Pernambuco, 1996.
“Eu não tenho estudo, mas eu sei da vida”

Mulher fala pra filho, após sepultamento do marido:
“acabou nino, acabou.”

Minha sobrinha de 3 anos me diz:
“titio, eu te amo”

5 de outubro de 2008

da Bahia

Quando eu morrer eu vou sentir saudades da Bahia...

27 de setembro de 2008

tentei né...

Durante os jogos olimpícos de beijinho eu tentei ver uns vídeos que a NBC tava transmitindo na internet. Só um otário feito eu achava que a NBC, que havia comprado o direito exclusivo de transmitir as olimpíadas online, iria disponibilizar o conteúdo para o mundo inteiro. Foi preciso eu chutar um cep americano lá qualquer pra poder bisbilhotar. Mesmo assim não consegui. O problema até hoje não foi identificado nem pela China. Numa segunda tentativa frustrada, hoje pra ser mais exato, tentei ver algum vídeo pelo hulu.com, mas a mensagem era a mesma: conteúdo disponível apenas dentro dos EUA. Invadir países militarmente, vir aqui pra américa do sul enfiar uma base militar na região que guarda a maior reserva de água doce do planeta, infiltrar centenas de espiões e ladrões na Amazônia disfarçados de ONG's e de pesquisadores de borboletas, abrir fast food daquele palhaço sem graça mundo a fora, isso eles sabem. Agora abrir uma simples janelinha pop up pra um brasileiro em desenvolvimento tentando se alinhar à dinâmica da globalização, nada feito. Logo eles que tanto defenderam e prometeram livre circulação de informação around the world, blá, blá blá, e na hora H colocam tanta barreira, justamente, na internet. Acho que ignoram o impacto psicológico desse tipo de atitude em crianças e adolescentes espalhados pelo mundo que já transformaram definitivamente o mundo virtual na sua realidade real. Tudo tem um custo eu sei, mas promessa é dívida. Tudo bem, o youtube tá lá, mas eu queria ver uma coisa diferente com uma qualidadezinha melhor, do you know?
Resolvi esquecer. Continuei então navegando quando me bato com o mais famoso site nos EUA que oferece serviço de digitalização de fotografias com qualidade, segurança e eficiência inigualáveis. Bem, falando em fotos:
Clique aqui para a primeira experiência.
Clique aqui para a segunda experiência.
Enfim, tentei falar com a moça do suporte via chat, mas quem me respondeu foi uma máquina dizendo que não havia operadores disponíveis no momento. Tinha um linkzinho ali do lado para solicitações internacionais (pelo que pude entender), mas estudante de administração que se preze gosta de submeter as organizações a um testezinho de vez em quando. Tudo bem que era sábado, 22:00 hs, fuso horário, eu não tinha nada pra fazer... mas era país de primeiro mundo, poxa. Quando fecho a janela porque ninguém quis falar comigo, me aparece outra, perguntando amigavelmente como eu classificaria a qualidade do suporte. Uma merda, claro. (não havia essa opção)
Fiquei me perguntando se os EUA tavam pegando a mania do Brasil, ou se a crise daquele país tinha chegado no meu quarto.

26 de setembro de 2008

A falha de Marx e o apogeu do Tchan

Tenho a impressão de que no Brasil a mulher que possui a bunda grande usufrui de mais poder e direito que o restante dos seres mortais desbundados. Claro que o tamanho grande já lhe confere, naturalmente, maior espaço na sociedade, pelo menos, geometricamente falando. Em certas situações estreitas, como dentro de um ônibus, num beco, num corredor, no empurra empurra de um supermercado ou avenida de carnaval, a mulher bunduda leva vantagem sempre. Não há como concorrer.Trata-se de um bundagopólio. Talvez por isso, por na prática, no cotidiano perceber esse poder de obter mais espaço que qualquer outro ali do seu lado, a mulher bunduda acaba experimentanto um certo sentimento de superioridade. Como em nossoa cultura, o homem, reformulando inconscientemente a psicologia da Gestalt, considera a bunda não só diferente, como também mais importante do que a soma de todas as outras partes do corpo feminino, por motivos quem nem Gilberto Freyre soube explicar, e é visualmente controlado pela trajetória que a bunda percorre, em qualquer tempo e espaço, a mulher que detém esse atributo, passa a exercer domínio sobre indivíduos do sexo masculino e, por conseguinte, sobre a sociedade, o que a faz viver à exceção da teoria de Darwin, pois não precisa se adaptar a nada para sobreviver.
Acho, portanto, que a bunda, tomando como perspectiva seu volume e consistência, constitui, na sociedade brasileira, um fator determinante da posicão social da mulher, entendendo-se por isso status e controle social, o que significa que Marx estava bundásticamente equivocado quando achou que as condições materiais é que determinavam a situação social dos indivíduos.
Na verdade, Marx falhou porque não visitou o Brasil nem conheceu Carla Perez. Perdeu a oportunidade de ampliar sua teoria por viver enfronhado e alienado no meio de tanta inglesinha chulada.
Aqui na Bahia, ah... na Bahia...quem tem bunda manda, que tem juízo sai da frente.

21 de setembro de 2008

confessa Saramago, confessa...

Entrevista com Saramago - Ensaio sobre a cegueira

Josué: Em que ou quem o senhor se inspirou pra compor essa obra?
Saramago: eu estava em Brasília quando...
Josué: ok, thanks.

20 de setembro de 2008

ponto crucial

Eu já pensei em escrever sobre coisas importantes. A partir daí, eu parei pra pensar o que realmente seria importante. O que era importante pra mim hoje talvez não fosse daqui há uma semana. Então seria melhor falar sobre coisas muito importantes que o seriam pro resto da minha vida. Mas isso não signica que seriam importantes pra mim agora. O que é importante pra mim também talvez não fosse importante pra um urso polar ou pra tartarugas marinhas. Talvez não fosse importante pro presidente da república nem pra comunidade científica internacional. O que seria importante pra mim, talvez não o fosse pra Obama nem pra um homem-bomba palestino. Assistir pica-pau por exemplo, de vez em quando, é importante pra mim. Fazer as coisas que quero, do jeito que eu quero, na hora que quero, também é importante pra minha saúde mental, mas nem sempre isso é possível. Talvez por isso eu tenha o hábito nocivo de escrever de madrugada, porque minha necessidade de conceder liberdade ao meu cérebro pra que ele se pronuncie da forma como poucas vezes se sente à vontade para se pronunicar é nesse horário. Eu acho que preservar a vida de um peixe de aquário seja importante, embora para outros cometer chacinas seja coisa banal. É importante pra mim dormir bastante. Sinto-me melhor assim. Mas não vou culpar quem é viciado em trabalhar. É importante pra mim falar o que penso porque talvez seja a única maneira existente pra se liberar o conteúdo mental. É importante pra mim fazer as coisas no meu ritmo sem ser atropelado. É importante pra mim ficar comigo mesmo e rir sozinho das coisas que lembro e imagino. É importante pra mim querer e depois não querer mais, enfim, não é só o mundo que muda. Embora a vida seja uma só, é importante pra mim errar, porque usei esse método quando criança e deu certo. Eu tenho 28 anos, então acredito que o tempo passa e é importante pra mim também deixar as outras coisas passarem.Eu não sei o que é importante pro meu vizinho. Eu não sei o que é importante pra cada um dos habitantes de nosso planeta.
Ah, pouco me importa.

por que não eu? ah ah...

Nas próximas eleições para prefeito eu vou me candidatar e, evidentemente, votar em mim mesmo. Por que devo votar numa pessoa que nunca vi, nunca toquei, com quem nunca conversei, nunca senti o bafo, o cheiro, não sei se existe mesmo ou se é uma alucinação cinematográfica? Eu, pelo menos, convivo intrinsecamente comigo mesmo há 28 anos e sei todos os meus defeitos, manias e falsidades. Já li Maquiavel de cabo a rabo. Vou fazer um curso de oratória e nos comícios vou prometer saúde e educação, abraçar o povo na periferia, dizer que amo minha cidade e que vou gerar emprego e renda. Tenho certeza de que não existe outra pessoa mais confiável do que eu mesma pra conceder meu voto.
Minha sugestão? Que cada indivíduo em plena posse de suas faculdades mentais faça o mesmo.

13 de setembro de 2008

forever

Quando eu era pequeno eu achava que a vida era infinita.

11 de setembro de 2008

365 dias

A liberdade me intriga. Não fazer nada talvez constitua crime na sociedade do trabalho. Se eu parar, o mundo implode.Tenho que respirar no ritmo da atualização de um jornal eletrônico. Olha só, eu não quero fazer nada hoje. O problema é meu, a vida é minha. Se a Terra demora trezentos e sessenta e cinco dias pra dar uma voltinha em tono do sol não sou eu quem vou acelerar nada. Quero antecipar pro nosso país tupiniquim o ócio criativo. No mínimo, mofo eu garanto criar. Mofo é uma forma de vida. O resto, só depende da evolução das espécies. Por que eu preciso responder pelos meus próprios atos se Freud já disse que nem mesmo eu sei porque faço ou deixo de fazer? Se alguém tem dificuldade pra entender a causa de meu comportamento sugiro que faça um curso de interpretação de sonhos. Eu não estou aqui reclamando liberdade religiosa, política, econômica, nem de expressão. Isso já tá incluso no pacote básico. Eu quero liberdade pra passar uma semana no quintal de casa tacando pedra em rabo de lagartixa. Eu sei que na vida em sociedade todo mundo tem que fazer sua parte e ninguém vai sustentar um vagabundo e que eu preciso pagar meus impostos pra ter meu carro roubado e morrer numa fila de hospital. Mas, eu quero um tempo, uma dácada, pode ser? Que tal repartir melhor esse bolo? Talvez um salário mais robusto pra eu me tornar logo um consumidor compulsivo. Eu não preciso de uma faca de trezentos mil dólares que corta de algodão a chapa de aço de dois quilômetros de espessura, mas eu compro, ok? Eu compro e depois não jogo fora, mando pra uma indústria bélica como doação porque tenho consciência ambiental.
Ah,esse ano não vou fazer compra de Natal. Nunca vi Papai Noel in my life e lá em casa nem chaminé tem. Na verdade, Papai Noel é um pilantra. Todo ano diz que vem, mas no final das contas quem acaba no Serasa sou eu. Espírito de Natal? Já tenho o meu próprio espírito, obrigado. Eu não quero essa rotina humana. Eu quero me mudar pra Brasília e viver um conto de fadas. Quanto aos adolescentes, é importante salientar que não existe mais crise de identidade hoje em dia. Eles sabem perfeitamente que são pessoas ansiosas, estressadas, compulsivas e neuróticas. Olimpíadas pra mim só se for de meditação e ioga. Também não quero viajar de avião. O balão é a solução definitiva pra todos os males da civilização. Quando não servir mais, joga na Amazônia. Não é nossa mais mesmo.

7 de setembro de 2008

Um centímetro por favor

Eu sempre achei ônibus uma entidade esquisita. Eu até devo ter achado natural em algumas ocasiões mas, simplesmente, porque o cérebro deixa de agir de forma consciente e crítica quando um comportamento se torna hábito. Primeiro o indivíduo vai pro ponto de ônibus e, após bastante tempo perdido esperando, tem que usar algo que não lhe pertence e que é dirigido por um ser totalmente desconhecido. Outras pessoas também esperam o mesmo veículo e tomarão o mesmo destino embora tenham destinos de vida totalmente diferentes. Quando o veículo chega, o sujeito tem que competir para entrar naquela brecha que todo mundo quer passar primeiro como se do outro lado houvesse um baú abarrotado de diamantes. Passada a fase do "farinha pouca, meu pirão primeiro", também conhecida como a fase do esmagamento em legítima defesa, chega o momento de pagar. Se faltar cinco centavos o cobrador olha com cara feia e é capaz de mandar o sujeito de volta à terra dos sobreviventes. O problema maior é quando o ônibus enche e aí fica todo mundo apertando todo mundo como se fosse uma suruba. Pessoas totalmente desconhecidas, que não têm nenhuma intimidade física nem espiritual umas com as outras, ficam ali se empurrando, se esfregando, se acotovelando. Eu não entendo como pessoas diferentes, com objetivos diferentes, com necessidades de distanciamento diferentes, com compatibilidades físicas diferentes, têm que ficar todas ali espremidas umas nas outras, formando uma só carne. No interior tudo bem. Todo mundo conhece todo mundo. Aí sim, dá pra aceitar algum nível de intimidade. Mas numa cidade grande, o indivíduo ter que ficar grudado no outro, às vezes horas de viagem, é realmente um desgaste psico-físico. Contato é bom, eu sei, eu gosto e é importante pro desenvolvimento psicológico e emocional dos seres vivos. Mas é realmente um saco ter que ficar junto na marra, numa intimidade que não tenho nem com minha cadela. Acho que é hora de repensar isso. Porque andar de ônibus cheio, em pé, é antes de qualquer coisa, um atentado ao direito essencial do homem de manter um mínimo de distância de tudo aquilo que ele sente vontade, desejo e necessidade de manter distância.

5 de setembro de 2008

No meio do caminho, um cavalo

Era noite quando meu pai chamou a mim e a minhas irmãs no quarto para assistir a um filme. Eu grudei meus olhos numa tv Sanyo colorida 14" para assistir aquele filme fantástico que fez parte da vida, das brincadeiras, dos sonhos e da imaginação da galerinha anos 80/90. Era Superman. Acho que o ano era 1986 e eu teria uns 6 anos. Naquele quarto pequeno, eu vi pela primeira vez o homem que vestia uma capa vermelha, tinha um S enorme no peito, voava e tinha super-poderes. Quando Christopher Reeve caiu do cavalo e ficou tetraplégico, fiquei emocional e intelectualmente inconformado. Pra mim, a maior ironia da vida, da história da humanidade e do cinema mundial foi aquele homem extraordinário, vindo de outro planeta, com super-poderes para proteger a humanidade e lutar por justiça, agora, não ter poderes sequer pra andar. A imagem do homem-de-aço numa cadeira de rodas, que mal conseguia mover o pescoço, na verdade provocou um choque na mente de milhões de habitantes de nosso planeta. Claro que o ator não era o homem de aço, mas nossa mente tende a associar as coisas. O cérebro humano absorve qualquer imagem como verdade, tende a misturar fantasia e realidade como se a mesma coisa fossem. É evidente que distinguimos uma coisa da outra. Mas, mesmo fazendo a devida separação, o fato é que mito já havia sido criado. Mesmo sabendo que o ator e personagem eram indivíduos distintos, toda a simbologia do supremo protetor da América, de alguma forma personificada, encarnada no ator, fazia parecer que o homem de aço é quem tinha caído do cavalo. A mente precisava de um tempo pra descontruir a fantasia.
Descontruir. Penso que esta seja uma das atividades que mais fazemos no decorrer da vida. Quando crianças construímos um mundo. É certo que a criança tem muitas dúvidas, mas de um modo geral, o mundo da criança é mais coeso. O mundo é entendido de uma forma mais simples e coerente. Um mundo dado, onde tudo funciona de forma harmônica. O mundo pra criança é algo que sempre existiu e sempre existirá. Mas o tempo vai passando e o mundinho infantil vai começando a sentir seus primeiros abalos sísmicos. Mais à frente, algumas tempestades e terremotos e, pronto, um mundo foi desconstruído. Mas mundo é algo muito grande. Talvez por isso, não é todo dia que desconstruímos um. Mas não é por isso que deixamos de desconstruir durante o resto da vida. Desconstruímos e reconstruímos nossa visão sobre tudo que existe num processo contínuo e interminável de resignificar as coisas. As coisas acontecem lá fora nos forçando a repensar. Tenho a sensação de que desconstruo com frequência. Não no sentido de reviravoltas. Mas as coisas vão ganhando novos contornos, surgem novas cores, novos contrastes, linhas se quebram ou se alongam, ganham novos tons, nova textura sem, necessariamente, mudar sua essência. É certo que as experiências que passamos vão moldando e definindo nossa percepção, alterando nossa forma de interpretar e compreender as coisas. Eu acho que nunca olho pra uma foto e percebo a mesma coisa. Eu mudo e a foto muda também. É algo sutil.
O que falar então das pessoas e dos eventos sociais, que diferente de uma fotografia não estão parados no tempo? Estamos diante do caos. Precisamos organizar mentalmente o caos. A realidade se apresenta fragmentada e eu preciso formar uma figura coesa. Eu preciso de uma fotografia do mundo e acreditar que o mundo seja aquela fotografia. Se diante do estático mudamos nossa forma de enxergar conforme o tempo passa, diante do caos parece que queremos o estático. De qualquer forma, me parece que ambos envolvem desconstrução. Alguém já disse que nossa mente não gosta de ambigüidades. Precisamos formar modelos mentais coerentes. O problema é quando imaginamos que o mundo se resume às nossas fotografias.
Acho que com tantas mudanças que vivemos nos sentimos na verdade impelidos a desconstruir quase sempre. As pessoas discutem a todo momento o papel do indivíduo na sociedade, do governo, da tecnologia, da ciência, do trabalho, da família.
Enfim, é desconstruindo que temos a possibilidade de redescobrir.
Pelo menos, na minha cabeça, super-homem não é o único mito que precisa cair do cavalo.

4 de setembro de 2008

coisa de gente

A mulher entrou na sala e fechou a porta. Nesse dia, havíamos eu e alguns poucos alunos. Ela disse que era uma psicóloga e pediu pra gente fechar os olhos. Fechar os olhos e refletir. Foi meu primeiro contato com uma psicóloga, com o que ela dizia ser psicologia e eu devia ter uns doze anos e não sabia o que era refletir. De qualquer forma, não tive medo de fechar os olhos. Eu fazia isso todo dia quando ia dormir. Ela então foi ajudando. Não lembro exatamente o que ela falou. Eu também não lembro geralmente de quase nada. Acho que ela falava pra gente pensar sobre o que tava passando na nossa cabeça. Então depois de alguns minutos eu fui começando a entender o que era esse negócio de refletir. Fechar os olhos pra pensar. Ninguém falava nada. Só a mulher com uma voz branda ia conduzindo aquela experiência. Depois que ela mandou agente abrir os olhos, tive a sensação de que aquilo tinha sido, de fato, algo absolutamente novo. Acho que foi um mergulho dentro de mim. Um mergulho raso, segurando na bóia, coisa de iniciante.
Mas antes de ser cobaia nesse experimento científico, acho que já tinha feito algumas reflexões na minha vida. Sobre o mundo e sobre mim. Quando eu tinha uns cinco ou seis anos, minha mãe falou que a vida era uma luta. Com minha mente infestada de desenhos animados, eu imaginava que a luta que ela falava era um monte de gente brigando a murros. Acho que essa foi minha primeira projeção de futuro. A vida seria um lugar onde as pessoas agiam com violência pra conseguir alguma coisa. Parece que não errei muito. É engraçada a descoberta da vida e de nós mesmos. Descobrimos que temos mãos, rosto, que podemos andar, pular, correr, mas não voar. Descobrimos que pertencemos a uma família, que existe vizinho, que podemos fazer amizades, escolher algumas coisas, que sonhamos. Descobrimos que moramos fora e não dentro da Terra. O tempo vai passando e descobrimos que temos sentimentos, que gostamos de alguém, que podemos sofrer, que tudo tem limite, que as coisas mudam, que um dia vamos ficar velhos, que os adultos praticam uma coisa chamada sexo. Descobrimos que as pessoas mentem, podem matar e que nem sempre nos querem bem. Descobrimos que o futuro é incerto, que os políticos são corruptos, que mãe só existe uma, que a vida é passageira, que tudo na natureza nasce, cresce, se reproduz e morre. Descobrimos que o espaço é infinito, que existem guerras, que na sociedade há dominantes e dominados e que nem tudo tem resposta.
Não sei se a psicóloga lá da quinta séria me ajudou em alguma coisa. O que sei é que a vida é cheia de cenários que construímos e desconstruímos para depois construir de novo.

melhor a curva

O mundo não é uma bola oval por acaso. Num Roda Viva este ano, o professor de dança Ivaldo Bertazzo, num certo momento da entrevista, deu um pulo da cadeira para imitar a postura corporal, geralmente comum aos meninos da periferia que participavam de suas aulas. Como não posso fazer o mesmo aqui, peço que imaginem a figura de Smeagol. Isso mesmo, aquela criaturinha do filme Senhor dos Anéis de corpo rígido, corcunda, que falava com a cabeça esticada para a frente. Foi mais ou menos essa imagem que o professor reproduziu. O que ele queria dizer é que não encontrava suavidade na expressão corporal daqueles meninos. Diante dessa rigidez, Ivaldo dizia que se tornava difícil ensinar a esses meninos movimentos aparentemente simples como estender os braços com a leveza com que faz um bailarino. Acho que não é uma questão só de corpo, mas de pensamento também. Pensadores e estudiosos de diversas épocas têm percebido a íntima ligação entre corpo e pensamento, indicando que quanto mais travado for o corpo, menos o pensamento flui, menos estaríamos abertos a novas idéias. O sentido inverso também seria verdade. Em Ecce Homo, Nietzsche soltou que um homem de corpo rígido também pensa de forma rígida. É certo que ele não revelou nenhum mistério da humanidade. Talvez tenha chegado a essa conclusão observando seu avô. Não parece estranho que agente vai ficando velho, sedentário e, enfim, um cabeça dura. Nesse ponto de vista, flexibilizar o corpo funcionaria também para flexibilizar a mente. Ninguém pensa direito com um corpo tenso. As idéias não fluem quando o corpo está enrijecido. Como Ivaldo tava falando em periferia, me veio à mente o Hip Hop. Acho legal e importante a atitude de crítica social promovida por esses caras. Eu também adoro fazer isso. A minha desconfiança é de que o discurso, em geral, naquelas músicas, querendo ou não, acaba assumindo uma forma rígida, da mesma forma, como a dança é rígida, com aquele movimento de braços que só me lembra um juiz martelando uma sentença. Não estou querendo que o Hip Hop mude suas idéias. A pergunta que me faço é se uma mudança na coreografia mudaria alguma coisa dentro daquelas cabeças. Pensei em outros casos. O exército, por exemplo. Soldados com movimentos mecânicos, metódicos, e aquela mentalidade estreita de mundo que só enxerga ameaça e conspiração. Ou, no extremo, falarmos de governos autoritários, ditadores feito Hittler: gestos sempre robóticos, verdade absoluta. Outra coisa são as estátuas. Uma estátua não simboliza apenas personificação do poder e culto à personalidade. Sem dúvida, a rigidez duma estátua simboliza também o esforço de perpertuar uma ideologia. Domenico de Masi, num livro sobre grupos criativos, fala da linha reta em oposição à curva e cita um pensamento de Oscar Niemeyer: “Não é o ângulo reto que me atrai. Nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual. A curva que encontro nas montanhas do meu País, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, nas nuvens do céu, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o Universo - o Universo curvo de Einstein.” Dessa forma, o autor associa a criatividade, o pensamento livre e flexível à linha curva, à quebra da rigidez do que é reto. Ainda que alguns defendam que a linguagem do universo seja pura matemática, prefiro a perspectiva de Niemeyer. Apesar de toda lógica por traz do universo, pelo menos as nuvens que conheço não formam figuras geométricas. Seria um tédio olhar pra uma nuvem e ver um triângulo.
Se o universo de Einstein é curvo, parece também cabível a sugestão de flexibilizar o corpo.

Talvez, isso nos ajude a pensar de forma mais livre e abrangente.
Só não me peçam pra fazer Ballet.

2 de setembro de 2008

em algum lugar...

Eu não gosto da palavra logradouro. Logradouro, pra mim, soa como uma das palavras mais estranhas, esquisitas, impróprias, deselegantes, desajeitadas, antipáticas, mal-formuladas que a humanidade já foi capaz de conceber. O indivíduo pode morar num beco ou na avenida mais charmosa do país. Independente do buraco ou da alameda de pérolas onde resida, aquele espaço será sempre e impiedosamente chamado de logradouro. Acho que quem inventou essa palavra não tinha noção de espaço, residência, localização, habitat. Talvez fosse uma entidade extra-terreste que jamais ocupou algum lugar no espaço. Talvez o vácuo existente entre dois átomos criou o logradouro. Definitivamente, logradouro é coisa que não combina com a espécie, muito menos com a linguagem humana. Não combina com lugar nenhum. Não combina com a dicção, o timbre, o tom, a articulação verbal de nenhuma criatura humana. Talvez seja a abstração mais imperfeita que alguém ser já elaborou. Quem sabe seja a única coisa no universo que não deveria ter razão de ser.

1 de setembro de 2008

igual ou diferente

Acho que uma das maiores dificuldades do ser humano é respeitar e compreender a singularidade de cada um. Entender finalmente que as pessoas são diferentes. Cada indivíduo desenvolveu seu modo de ser como base nas experiências que passou, na sua forma particular de perceber o mundo. Cada indivíduo percebe e sente o mundo de uma maneira única. Por que então quero que os outros pensem e sintam do meu modo? Por que quero que os outros gostem e façam as coisas igual a mim? Por que o que eu julgo importante tem que sê-lo pro outro? Parece que o trabalho quer nos tornar iguais. Parece que os meios de comunicação de massa querem que pensemos igual. É certo que alguns homens querem dominar outros e, para isto, impõem aos pobres mortais sua visão de mundo reduzida e medíocre. Mas não é só isso. O mau dessa estória é que pegamos essa mania. Essa mania de supor que os outros devem agir como nós. Essa mania de querer que todos vejam e façam as coisas de nosso modo. Essa mania de querer impor ao outro nosso ponto de vista particular e restrito do universo. É claro que pra haver sociedade tem que haver consenso, harmonia. As pessoas precisam se entender para que possam ir adiante. Mas isso não significa que tenhamos que anular a individualidade, o jeito de ser de cada um. Como se livrar de todo esse fantasma cultural que sempre está nos dizendo o que e como devemos ser? Talvez queiram manipular o que penso, então prefiro observar minhas sensações. O que sinto é muito meu. Posso escrever versos e versos descrevendo minhas sensações sobre o mundo. Isso é um exercício muito bom. Só eu sinto assim, e quero manifestar isso. Não preciso nem devo ser igual a ninguém, porque nos foi dada a liberdade de interagir com o mundo de forma única.
Geralmente o que sentimos depende de como interpretamos. Mas, independente de como querem que eu pense, continuamos sendo diferentes. Porque o que percebo depende de meu humor, minhas expectativas, minhas ideologias, meus sentimentos, meus estereótipos, minhas experiências, meus objetivos, minhas emoções, minhas crenças, meus valores, minha respiração. Enfim, o que percebo depende de tudo o que sou e de como estou. Se quero que o outro seja igual a mim, ignoro o direito e a liberdade que cada um tem de ser o que é. Ignoro que à minha frente existe um ser humano.

Jamais

Eu jamais gostaria de mentir pra uma criança olhando em seus olhos. Eu jamais gostaria de mentir olhando naqueles olhos ingênuos, transparentes de criança que acreditam se tratar de verdade tudo que dizemos. Pra elas, o que falamos basta. Não precisamos provar, demonstrar, jurar. O que falo, os olhos castanhos e redondos de minha sobrinha absorvem como verdade absoluta. Porque as crianças acreditam nos adultos. As crianças acreditam no ser humano.

16 de agosto de 2008

Síndrome do peixe afogado

O ponto em comum entre um jovem, um artista e um empresário bem sucedido, é que os três têm um impulso natural para extrapolar os limites, quebrar paradigmas, romper com uma norma, modelo, ou padrão social qualquer. A diferença é que o jovem é considerado rebelde, o artista genial e o empresário inovador.
Quando eu era um pré-adolescente, pensava que só Einstein era criativo. Os livros da 5ª série diziam que ele era um gênio, o que me fazia crer que, ao resto da humanidade, só restava mesmo se conformar com o direito de aprender. (Embora as mudanças bruscas no mundo tenham estimulado a criativadade, parece que estamos habituados quase sempre a copiar. De qualquer forma, não é todo dia que agente tá afim de sair da garrafa.) Numa bela manhã, aquele cientista acordou inspirado e disse que “a criatividade era mais importante que o conhecimento”. Confesso que aquilo me causou uma verdadeira revolução psicossomática-neuro-científico-comportamental. Pois, de fato, essa ousada sentença abalava minha fé em minha mãe, meu professor, na igreja, no telecurso 2° grau, na televisão, enfim, em tudo e em todos aqueles se sentiam no direito e dever de me ensinar alguma coisa. Aprender (como sabemos) sempre foi algo muito normal, natural, faz parte da vida e bem à saúde e, como alguns dizem, faz parte do processo de socialização e humanização. Desde a tenra idade começamos a aprender e, assombrosamente, aprendemos tudo. Até aí tudo bem. O problema foi, justamente, depois de todo esse sacrifício, o gênio virar pra mim e dizer que aprender não é tão importante quanto eu imaginava. Isso demora a digerir. Só com o tempo é que fui enxergando que realmente havia algo de lúcido naquela frase de cientista maluco. A criatividade era, de fato, algo muito importante, embora contra ela, sempre exista algo, um ser tangível ou uma voz ressoando na cachola, dizendo: "o jeito de fazer é assim!". Acho que quando Einstein proferiu esta frase, estava sinalizando que num futuro próximo, aquele então sistema econômico focado na indústria - em que o trabalho humano se reduzia à mera execução de tarefas repetitivas e intermináveis, tornando mecânicas nossas atividades manuais e mentais - estava com os dias contados. Hoje, verificamos que, pelo menos essa sua teoria, tinha algum fundamento, pois o mundo pós-moderno exige que criemos. Se o mundo exige e a espécie humana possui uma incrível capacidade de se adaptar ao meio, concluí, rapidamente, que seres humanos não-geniais feito eu poderiam também ser criativos, ainda que isso não significasse, necessariamente, ser capaz de criar alguma teoria revolucionária do tipo interplanetária. O importante, pra mim, no decorrer do tempo, foi a percepção de que indivíduos comuns - eu e 90% da população mundial - eram também capazes de, acordados e sóbrios, reiventar a roda ou quem sabe o mundo.

Quando surgiu essa conversa de que as organizações precisavam de pessoas criativas, um mar de livros e artigos científicos varreu os dois hemisférios de nosso planeta proclamando que todo ser humano é, essencialmente, criativo e que, portanto, desenvolver essa capacidade era só uma questão cultural, ou seja, do quanto a cultura estimulava ou não isso. Confesso que tenho medo do "cultural". Toda vez que me surge essa palavra me sinto um peixe afogado, daqueles que gostam de dar saltos ornamentais no aquário. Tudo porque me lembro do antropólo norte-americano Ralph Linton, quando disse que “a última coisa que um habitante das profundezas do mar teria probabilidades de descobrir seria a água”, se referindo à dificuldade que o homem tem de tomar consciência da cultura. Pois bem, esse oceano cultural que, na era industrial, resolveu ficar mudo quanto ao nosso potencial criativo, hoje berra por todos os lados que devemos nos transformar num Leonardo da Vinci. Se Nietzsche disse que o meio onde o indivíduo vive afeta seu intelecto e os neurocientistas afirmam que a plasticidade é natural ao cérebro, não teremos tanta dificuldade pra realizar esse feito.
Uma coisa que não entendo é por que certos experts tentam ensinar as pessoas a serem criativas oferecendo uma espécie de passo-a-passo. Não sei como é possível, matemática e filosoficamente falando, aprender, justamente, a ser criativo. Penso que é uma questão do sujeito se sentir à vontade, ou não, para expressar a criatividade com a qual já nasceu. Van Gogh morreu na miséria, ninguém na época valorizou seu trabalho, vivia depressivo, mas, pelo menos, encontrou uma forma de expressar suas maluquices de forma criativa.
Considero, portanto, que nós, como seres normais, podemos também nos entregar à aventura de pintar um quadro, a própria casa, ou as paredes do Congresso Nacional.
De pobreza intelectual, garanto que ninguém vai morrer.

10 de agosto de 2008

Prêmio Dardos

Jamais imaginei em minha vida receber um presente de uma batata. Mas nesta manhã de domingo os fatos falaram mais alto que minhas crenças e a incrível Naomi do Pensamentos de Uma Batata Transgênica me surpreendeu ao indicar o "Eu acho que foi assim" para o selo/prêmio Dardos.

É realmente uma honra receber das mãos de Naomi essa indicação, o que, sem dúvidas, me dá mais motivação pra continuar soltando o verbo por aqui.

“Com o Prêmio Dardos se reconhecem os valores que cada blogueiro mostra cada dia em seu empenho por transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc…, que em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras.”

Aqui estão as regrinhas do prêmio:

1 – Aceitar e exibir a imagem,
2 – Linkar o blog do qual recebeu o prêmio e
3 – Escolher 15 blogs para entregar o Prêmio Dardos.

À Naomi, meus agracedimentos.
Abaixo, listados 15 adoráveis blogs, onde mergulho sempre em busca de informação, diversão, poesia e, claro, inspiração. Parabéns a todos!

Vale ressaltar que os blogs estão dipostos em ordem aleatória, não siginificando, portanto, qualquer classificação!


1 de agosto de 2008

dá licença

Eu quero um lugar na sociedade. Sou magro, ocupo pouco espaço, portanto não há motivos para pânico. Se na China houvesse menos gente eu me mudaria pra lá, aproveitando o boom econômico para virar um rico empresário, mesmo tendo que amargar a experiência de ficar por décadas integrando a estatística de analfabetos, além de me tornar, idiomaticamente, um sujeito mudo e surdo. Aqui no Brasil não posso reclamar, pois já tive a oportunidade de ocupar um espaço em filas de banco, supermercado e hospital, entre outros. Uma fila é o melhor espaço na superfície terrestre para se ocupar. É tão concorrido que se você não fincar o pé com firmeza , o “fileiro”, imediatamente posicionado atrás de você, pratica uma ultrapassagem perigosa exatamente na curva.

Mas hoje o indivíduo tem outras oportunidades, graças ao avanço da tecnologia, como, por exemplo, uma página na internet. Geralmente as pessoas ao seu redor nem vão crescer o olho, simplesmente porque muitas delas ignoram que esse seu lugar existe no universo. Como o usuário tem seu login e senha, engenhosamente criados, dificilmente seu melhor amigo vai conseguir tomar seu lugar. Se o indivíduo tem um blog, por exemplo, e não gostar de um comentário, simplesmente exclui. Não é porque o ambiente é virtual que abandonaríamos nossos valores, principalmente quando se trata de algo, um tanto, ou, extremamente inconveniente. Acredito, assim, na importância social do espaço virtual. É o lugar onde você pode falar tudo o que pensa sem ser censurado ou perseguido pela polícia federal, pelo menos até descobrirem o que você anda conspirando. De qualquer forma, me parece que um pequeno espaço na internet tem feito as pessoas um pouco mais felizes, principalmente aquelas que sempre sentiram um vazio existencial por não terem desfrutado durante a “vida pré-internet” do direito e da condição elementar que toda matéria tem, garantem os físicos, de ocupar um lugar no espaço, ou que eram, apenas, sistematicamente e criminosamente sufocadas no seu direito de tagarelar em público ou numa roda de entes sociais quaisquer. Que o diga usuários de sites como Youtube e blogueiros mundo a fora. Mesmo que essas pessoas, às vezes, tenham a estranha sensação de que quase ninguém está lhe dando a mínima atenção, continuam lá persistentes, expressando algo que simplesmente sentiram vontade de expressar, acreditando no potencial e talento que aquela professora maluca do primário garantiu que possuíam, mas que ainda estavam escondidos em algum lugar misterioso de seu subconsciente.

Embora o sujeito possa navegar, isso não significa que a web seja um mar de rosas. No caso do blog, como muitos blogueiros não fizeram as devidas aulas de natação na terceira série e o utilizam como diário pessoal, acabam às vezes revelando ao mundo tudo o que não deveriam revelar, os recôndidos mais secretos e escusos de seu caráter e personalidade com todos seus defeitos, manias, síndromes, maluquices e maldades. Depois vão lamentar no msn porque agora só restaram amigos imaginários. Alguns, pervertidos, são presos porque resolveram furtar a galinha do vizinho e divulgar como manchete, embora muitos aleguem que só fizeram isso porque estavam em dúvida se a justiça realmente funcionava por aqui e resolveram fazer um teste.

Mas existe também o lado democrático, ou anárquico, como queiram. O indivíduo pode, por exemplo, aproveitando o espírito de fraternidade das olimpíadas, compor um belo post esculachando o governo chinês pelo seu autoritarismo e convidar, via e-mail, o presidente daquele país a fazer um comentário.
Outro fenômeno social a considerar é que o indivíduo comum, ou seja, aquele que nunca foi nada na vida, pelo menos midiaticamente, está demostrando, cada vez mais, um certo interesse em compartilhar do mesmo status e glamour dos ditos famosos. O orkut dá sua contribuição e sinto que é meu dever reforçar que todo cidadão tem o direito a ter fãs.

Apesar de tudo, tem sido muito divertido pra mim encontrar o trabalho de tantas pessoas, dos mais diversos estilos, rolando por aí e acho legal estarem aproveitando o ambiente virtual para comunicar o que, simplesmente, sentem prazer em comunicar. Se depender de mim, essa lista aí do lado que recomendo vai crescer na velocidade do PIB chinês.

Mas só se sobrar espaço, claro.



31 de julho de 2008

não me pergunte por que

Eu não quero saber se minha professora de sociologia do ensino médio disse que precisamos adotar uma atitude crítica diante do mundo. Cheguei à conclusão de que o que o homem precisa mesmo é de uma atitude poética. Nosso presidente já sabia disso desde menino. Não é à toa que é mais conhecido no mundo pelas metáforas do que por qualquer outra coisa. Expressões proferidas por ele como “vejo com indignação que muitos dos dedos que apontam contra a energia limpa dos biocombustíveis estão sujos de óleo e carvão”, refletem, nada mais, nada menos, que um espírito enamorado da arte. Se vossa excelência, chefe de Estado, num assunto extremamente sério, pode se dar ao gozo de interpretar e expressar a realidade econômica de um ponto de vista poético, por que eu, simples micróbio social, cujas declarações não vão desestabilizar nem o preço da farinha de mandioca na barraca de seu Zé na feirinha de meu bairro, não posso fazê-lo? O homem não é obrigado a pensar sempre. Aliás, a própria ciência que, por natureza, estabelece como pressuposto básico a racionalidade como instrumento fundamental para obtenção do conhecimento, já tem admitido através de pesquisas recentes a importância da base emocional como um recurso fundamental para compreensão da realidade. Uns chamam de inteligência emocional, outros de intuição, feeling, premonição, sensitividade, divagação, transe, advinhação, enfim, qualquer uma dessas nossas habilidades que nos dispense do esforço de pensar. Não olhe para a bolsa de valores tentando compreender o objetivo daquelas ligações nem o que está naquele painel gigante. Sinta simplesmente, imaginando, por exemplo, que ali é um bando de homem ligando pra mulher na tentativa desesperada de explicar aquela mensagem de texto no celular. A nossa percepção do mundo pode ser muito mais rica se aprendermos simplesmente a pensar menos, até porque, de cientista, filósofo, bêbado e especialista o mundo tá cheio. O ser humano gosta por essência de sentir, imaginar. Hoje vivemos sob uma espécie de "lei de Descartes", onde tudo tem quer ser racional. O que fica guardado em nosso cérebro por muito mais tempo e com muito mais intensidade são as imagens e não as palavras. O espírito, segundo algumas teorias, gosta de figuras de linguagem, de contos, alegorias, fábulas. Pro bem ou pro mal, quase todas os povos construíram civilizações com base no mito, nas fábulas, no folclore, nas lendas e, nem por isso foram menos felizes. Já que nem tudo tem explicação, então acredite. Acredite em alguma coisa fantástica, na estória de carochinha de sua avó ou nos políticos, mas acredite. Tire um dia na semana, quando sair de casa pra estudar ou trabalhar, ou vagabundear e sinta o mundo, não leia nada, não queira entender nada, não queira explicar nada. Por que que tanta proibição para o sentir? Ninguém pode agir por impulso? Temos que explicar sempre o que fazemos? Ora bolas, não precisamos matar o “id”. Dê férias ao hemisfério esquerdo de seu cérebro. Não precisa estar certo. Não precisa responder nada. Nem eu nem você vamos descobrir todas as verdades da vida nem todos os mistérios da humanidade. Idiota dos astrônomos que decidiram estudar as estrelas. Adote uma atitude poética.

dedicado à Lê Stabilli por ter me inspirado através de seu perfil a escrever esse texto.

30 de julho de 2008

é velha mais eu gosto

Quando minhas irmãs abriam o guarda-roupas e diziam à minha mãe que não tinham roupa pra sair, quando aquele móvel sagrado estava justamente abarrotado de roupas, minha mãe ficava furiosa. Elas discutiam e no final, ou não saiam, ou saiam sem graça, deprimidas ou revoltadas. Foi a partir de conflitos dessa natureza que eu comecei a me interessar sobre a sensível e complexa relação entre o corpo e a roupa, ou seja, entre o ser humano de todos os tamanhos, pesos e formas e aquilo que lhe veste, e me dediquei durante anos a um extenso estudo, pesquisando em milhares de fontes das mais diversas e incompreensíveis línguas, no intuito de desvendar e explicar os mistérios, prazeres e contradições que constituem essa relação.

Feitas as devidas análises, cheguei à conclusão de que a roupa integra a própria personalidade humana. Nem mesmo Freud ou Jung tiveram a ousadia de supor isso. Não estou dizendo que as roupas têm personalidade própria. Isso seria uma suposição rasa, óbvia. Uma pré-adolescente qualquer saberia disso. Se tiver uma cara de Michey ou Superman, mais fácil ainda. Minha suposição é a de que o homem moderno, ou a moda vigente, fez com que a roupa na verdade passasse a integrar a própria personalidade do indivíduo. Ou seja, sem roupa e, principalmente, no contexto social, o homem estaria desprovido, em alguma medida, daquilo que pensa ser sua própria personalidade. Esse grau de dependência, evidentemente, vai variar de indivíduo para indivíduo, de modo que, para alguns, a roupa que está usando quase não afeta seu comportamento social, enquanto que para outros, passar uma semana inteira vestindo uma camisa básica branca, ou qualquer outro tipo de roupa que não expresse o conteúdo simbólico desejado, seria um verdadeiro sacrifício sem recompensa alguma.

É interessante também levar em conta outros aspectos igualmente importantes, antes de julgarmos a atitude de uma pessoa diante do seu guarda-roupas.
Podemos admitir tranqüilamente que a roupa também pode reforçar ou reprimir a expressão da personalidade, como também criar ou anular a figura social do indivíduo. Ou seja, uma determinada roupa pode ser a peça fundamental para reforçar aquele traço de personalidade que o indivíduo deseja demonstrar naquele momento, como também pode servir como uma verdadeira burca, obscurecendo tal personalidade. É evidente também, que o indivíduo pode fazer uso de uma roupa para projetar uma imagem social, muito ou totalmente diferente daquela que costuma projetar.

Além dessa relação com a personalidade e com a figura social, sabemos que roupa ainda desempenha um outro papel, a de exprimir estados de espírito. Se você está com raiva de seu patrão, por exemplo, pode ir para o trabalho com uma camisa preta estampada com a cara singela de uma caveira. Aqui, já podemos falar de uma outra função da roupa, que é conseqüência direta daquela, ou seja, no intuito de exprimir um estado de ânimo, o sujeito usa a roupa como instrumento de comunicação social. Mais importante do que o computador e o celular, com a roupa o sujeito imediatamente comunica, a quem está ao seu redor, informações essenciais como: quem ele é (culturalmente, financeiramente, socialmente, espiritualmente), o que quer(paquerar, assustar, humilhar, rezar, cometer um ataque terrorista), como quer (apelando, mandando, subornando, chantagiando), por exemplo.
Se com a roupa o indivíduo comunica ao mundo quem é, de onde veio, pra onde vai e, de quebra, como vai, está resolvido não só o seu problema pessoal, como também a questão fundamental da filosofia universal.

Da próxima vez que alguém do seu lado, abrir o sacrossanto guarda-roupas e, num ato involuntário, franzir a testa numa expressão de angústia, lembre-se de que se esta pessoa não comprar uma roupa que satisfaça seu vazio psíquico e existencial nos próximos dias, poderá entrar em parafuso. Logo, não custa nada dar uma mãozinha.


Boa tarde pessoaaaaaal

Tenho uma enorme dificuldade em entender porque certas pessoas se acham no direito de incomodar as outras, principalmente, quando são desconhecidas. Acredito que a rua já é um espaço público de extensão considerável, para as pessoas que necessitam, venderem ou pedirem o que quiserem. É certo que o ônibus é um transporte público. O problema é que no Brasil as pessoas costumam associar público com puteiro, onde o indivíduo acredita poder fazer o que bem entender. Eu respeito profundamente o trabalho desses meninos pobres que precisam trabalhar logo cedo para sobreviver, mas tudo tem limite, principalmente o de decibéis. Todos os dias, geralmente, mais de uma vez, na ida e na volta, tem que entrar esses meninos com a célebre frase: “bo(a) (tarde) pessoal, desculpa incomodar o silêncio de vocês!” Alguns ainda complementam: “o silêncio e o sossego da viagem de vocês”. Ora, mesmo conscientes que estão incomodando, ainda insistem. Sugiro que nunca entrassem, mas se continuarem entrando, que o façam gritando menos. Quem está no veículo, simplesmente é abstraído abruptamente do direito ilanienável de pensar, imaginar, lembrar, raciocinar, estudar, dormir, ler, trabalhar mentalmente, ouvir uma música, enfim, executar qualquer faculdade cognitiva por causa de um menino que resolveu entrar berrando e que, quando desce, já tem outro no ponto de ônibus aguardando sua vez. Outro dia, estava eu voltando da faculdade, perto das 23:00hs, cansado e tentando tirar aquele breve cochilo, quando entra um rapaz gritando pra vender balas de gengibre. Se um dia eu ganhar na mega-sena, vou comprar todas as balas de gengibre do mundo e fechar todas as suas fábricas. O sujeito trabalha o dia inteiro, volta pra casa cansado e ainda tem que ouvir gente gritando no ônibus? Pra mim,já bastam aqueles que ficam treinando canto lírico achando que estão no banheiro de casa.

29 de julho de 2008

Hoje só vai ter bagaceira

É comum alguns apresentadores de tv falarem que a relação público-tv é muito íntima, pois quando começa a transmissão, é com se eles estivessem dentro de nossas casas. O que mais me tem causado repugnância nos últimos meses é o fato de certos programas acharem que minha casa é necrotério ou coisa parecida. Logo no horário de almoço começam as cenas de horror. O foco é sempre cenas chocantes, seja de morte ou de miséria da população. Tem um apresentador que há um tempo atrás começava o programa com a eufórica frase: “hoje só vai ter bagaceira!”. Reparem bem na construção e conteúdo da frase. Nada mais emblemático. Se você estiver com o prato na sala, é provável que você vomite ou, no mínimo, perca o apetite. O pior é que hoje em dia a concorrência está acirrada, de modo que, ainda que você corra num ato de desespero e pegue o controle remoto para mudar de canal, o máximo que vai conseguir é cair dentro de um presídio, numa favela, no meio de um tiroteio, num atropelamento, em cima de um cadáver ou coisa do gênero. Se filmes adultos transformam sexo em pornografia, esses programas, seguindo o mesmo parâmetro, transformam violência e miséria em imagens que querem traduzir uma espécie de “realidade nua e crua”, sem necessidade alguma, mostrando o buraco que ninguém quer ver, pelo menos a maioria, creio eu, principalmente quando este é, justamente, o assunto central que domina todo o programa. Se o que uma emissora tem a me oferecer é um cadáver ao molho pardo na hora do almoço, sinto comunicar-lhe que, se depender de mim, seu Ibop vai ser enterrado vivo.

17 de julho de 2008

Sombra e água fresca

Admitamos que a maioria das pessoas passa a ser explorada quando começa a trabalhar. Mas para o pobre a situação é ainda pior pois, muitas vezes, nem emprego consegue. É discriminado pela cor, escolaridade, bairro, escolas que freqüentou, vestimentas, textura do cabelo, forma de se expressar, quantidade de dentes, sobrenome, dentre outros desqualificadores. Superando essa fase de absolutamente excluído e, após muito sacrifício, o pobre finalmente consegue um subemprego, porque o ambiente social em que cresceu e geralmente ainda vive - a que podemos chamar de periferia, quando não favela – onde geralmente teve péssimas condições de saúde e educação, faz com que o empregador o enxergue como mais um proletário pobre coitado, portanto, com o perfil que se encaixa perfeitamente na vaga de escravo.

No subemprego, o indivíduo é explorado de todas as formas possíveis que a inteligência humana foi capaz de elaborar até os dias atuais. A recompensa pelo duro trabalho é apenas o direito de comer. Comprar roupa, ir ao cinema, sair para almoçar e viajar, por exemplo, são atividades quase de luxo. O sujeito pode até praticá-las, mas vai ter que, necessariamente, escolher entre, por exemplo, comprar o feijão da semana ou lanchar no
McDonald's . Em resumo, o sujeito trabalha muito, recebe uma mixaria, sai com as mãos abanando e ainda é culturalmente induzido a se sentir culpado.

Fora do âmbito do trabalho o cidadão brasileiro, em geral, é explorado pelo poder público, já que vivemos num país onde a carga tributária é uma das maiores do mundo. Mas o mais escandaloso é o que estudos recentes feitos pelo IPEA revelam: além do fato dos 10% mais ricos da população brasileira concentrarem em suas nobres mãos 75% da riqueza nacional, os pobres, que acabam por viver das migalhas, pagam, proporcionalmente, mais impostos que os ricos. Isso mesmo: quanto menos se ganha, mais se paga. Como o cidadão pobre brasileiro não vê os altos impostos que paga revertidos em serviços públicos minimamente decentes - como vemos pessoas sofrendo em filas de posto de saúde, de madrugada, ou morrendo em porta de hospital - acaba sofrendo um terceiro tipo de exploração: além de pagar mais pelo “luxo” de ganhar menos, tem que aprender a conviver com um governo caloteiro.

Além do patrão e o governo, surgem ainda neste mercado potencial de “pobres exploráveis” as amigáveis instituições financeiras que, sem burocracia, oferecem socorro hoje e amanhã querem enterrar vivo o cidadão. É claro que bancos e operadoras de cartão de crédito não exploram só os pobres. Entretanto, como a renda do pobre não é suficiente para suprir todas as suas carências, ele se vê muitas vezes na necessidade de fazer uso de cartões de crédito ou empréstimos para comprar comida, medicamentos e coisas do gênero. Ou seja, no final das contas, muitos brasileiros, para comer, acabam tendo que contribuir com sua quota para o aumento da riqueza, que se multiplica a cada dia, das instituições financeiras, através do pagamento de juros e tarifas cobrados abusivamente. O curioso é que muitos pobres, de tão carentes, se apossam do cartão de crédito achando que é
benefício social.

Pra finalizar, como se não bastasse todos esses agentes, surge ainda uma outra entidade. Além do patrão, governo e instituições financeiras, temos, de quebra, algumas organizações
religiosas. Após uma eficaz lavagem cerebral, fica até feio pro pobre ficar com alguma sobra de dinheiro na mão.






14 de junho de 2008

Um pouco mais de ênfase, ok?

Desconfio de que os EUA são o país mais rico e poderoso do mundo devido a duas características fundamentais. Uma delas é a Ênfase que dão a absolutamente tudo. Tudo para os americanos tem que ser extraordinário e, quando não o é, eles dão a devida incrementada com um show de Ênfase. Todos os americanos têm, geneticamente, uma predisposição gestual e lingüística para a Ênfase, a qual é reforçada por sua cultura. Tudo o que comunicam tem que ser feito como se estivessem revelando a maior descoberta de todos os tempos. A Ênfase, creiam, é um dos segredos do país mais poderoso do mundo.
A outra característica é a própria Língua Inglesa americanizada. Ela é objetiva e prática, por isso, os americanos estão sempre na frente. O Português é mais bonito, entretanto, mais complexo. Essa é a causa fundamental de nosso atraso. Sabemos que a linguagem é uma das formas através das quais o homem apreende a realidade. Ou seja, através da linguagem o homem percebe, assimila, interpreta, compreende o que ele passa a considerar realidade, e assim constrói sua concepção de mundo. Com um inglês objetivo e prático, o mundo dos americanos é mais simples. O nosso é complicado porque nossa língua assim o torna. O americano não perdeu tempo inventando mil palavras para dez coisas. Eles fazem exatamente o contrário. Agora uma revelação. Um dos principais elementos que explicam a riqueza daquele país é uma única palavra: Player. Como sabemos,eles a usam para se referir a jogadores em geral, de futebol, por exemplo, como também para representar os agentes econômicos: empresários, investidores, especuladores, vendedores, etc. Para eles, atuar na economia nada mais é que jogar, o que estimula os indivíduos a serem mais criativos e ousados, tornando essa atividade mais dinâmica. Ou seja, a partir de uma única palavra os americanos reinventaram e, assim, direcionam toda uma forma de se conceber a realidade econômica. Ênfase e linguagem caminham juntas. Eles descobriram que além de interpretar o mundo de forma objetiva era preciso comunicá-lo de forma entusiasmada e assim, construíram a fórmula imbatível da prosperidade.

Para aqueles que querem treinar a Ênfase, uma dica: não ouçam trailers de filmes em português.

Então

Num ponto de ônibus, em meio a tanta gente, a tanta espera, a tanto aperto e cansaço, eu, invariavelmente, me sinto povo.

1 de maio de 2008

Seria mais simples

Às vezes penso que o ser humano é um ser estranho. Então, me parece perfeito que ele fosse um ponto. Um ponto sempre é redondo, resume tudo, começa no fim e termina no fim.

29 de abril de 2008

Aqui se vive, aqui se paga

Estudo realizado pelo IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário), divulgado nesta segunda-feira, 28/04/08, revela, entre outras, que "o brasileiro que nasce em 2008 (calma,você não nasceu em 2008!) trabalhará metade de sua vida para pagar tributos". “Isso demonstra sensibilidade do Estado brasileiro para com a população,”- comentou meu vizinho, secretário particular de assuntos escandalosos -“pois poderia ser a vida toda”, completou. Segundo o estudo, a expectativa de vida do brasileiro, de 1900 pra cá, cresceu 116%, enquanto que “a expectativa de pagamento de tributos aumentou 245%”. Isso significa que hoje, além de pagarmos pelos anos de vida a mais que desfrutamos aqui na terra, o excedente se refere ao pagamento antecipado por nosso tempo de vida no além, evitando assim um possível calote espiritual. “Cobrar antecipado na forma de excedente é uma medida bastante razoável”, comentou meu vizinho, “pois o governo ainda não dispõe de tecnologia que possibilite tributar almas”. Uma segunda corrente possui uma tese diferente. Ela reforça que ninguém veio ao mundo para viver de graça, principalmente agora que se pode viver mais. Mas, numa concepção menos filosófica, não acredita que haja pagamento “antecipado”, embora reconheça que esta seja uma prática da atual política tributária brasileira. Em compensação, aqueles que ainda tinham a esperança de que só na outra vida pagariam pelas maldades cometidas em sua presente vida, têm agora a oportunidade imperdível de rever suas crenças já que, segundo essa corrente, os estudos demonstram o que minha avó já dizia: "Aqui se vive, aqui se paga."
Conspiradores de plantão especulam que o governo já estuda um projeto de lei que criará um imposto específico - diga-se de passagem, provisório - sobre a média de volume de oxigênio consumido por cada cidadão vivo. Não se sabe ainda explicar o que estaria motivando esse projeto. De qualquer forma, a notícia boa é que o pagamento do tributo, se entrar em vigor, não terá caráter compulsório, incindindo apenas sobre aqueles que optarem por respirar.
Quem quiser ter uma indigestão hoje, antes ou depois do almoço, pode verificar o estudo completo em:
http://www.ibpt.com.br
Importante: Ao acessar esse site você será tributado.

28 de abril de 2008

Devolva minha boneca!!

O governo do estado de São Paulo, numa atitude consciente à qual já está habituado, resolveu no domingo, 27/04/08, através de sua Secretaria de Segurança Pública, fazer uma demonstração em público e para todo o Brasil do quanto se preocupa com o dinheiro quem vem da mão do povo. Aproveitando os olhos e olhares consternados de todos os brasileiros que acompanhavam a simulação pelos peritos do assassinato da menina Isabella e sem pagar um centavo pela publicidade, fez o repórter da BandNews, que estava narrando a reconstituição, engasgar três vezes no momento em que um dos peritos jogou a boneca janela a baixo. Como (1) a trasmissão era ao vivo, (2) o repórter estava mal informado e (3) os fios que prendiam a boneca eram praticamente imperceptíveis para quem assistia pela tv, o repórter rogou por luz aos céus durante seus segundos de desespero, para que pudesse entender e explicar ao público o que ele próprio não conseguia compreender: a boneca foi jogada, mas, por interferência dos deuses ou falha da teoria de Newton, ficara suspensa no ar. Minutos depois, alguma fonte secreta e misterioso informou: a boneca parara no ar, não por motivo sobrenatural, mas por decisão da Secretaria de Segurança Pública de reduzir custos. A boneca encomenda da Alemanha, havia custado ao povo U$ 2.500,00, tinha o tamanho e peso da menina e era feita de uma borracha especial e, claro, não era necessário repetir o crime. A justificativa poderia ser outra como, simplesmente: a queda da boneca não influencia no resultado. Entretanto, não podemos dizer que o governo se aproveitou da situação para se dar ares de correto. Além do mais, todos sabemos que os outros milhões desviados, que os jornais noticiam todos os dias, seguirão seu rumo (subindo ou descendo) sem interrupção alguma. Interromper a trajetória, só se for pra economizar.

26 de abril de 2008

O besouro e a origem do mal


Um dos grandes paradoxos da sociedade contemporânea diz respeito ao dilema "genética versus ambiente". A atribuição de causas, podemos dizer, em muitos casos, é um ato revestido de um certo... cinismo, diga-se de passagem, que visa, claro, à preservação da prórpria pele. Creio cinicamente que depois que o homem descobriu o gene, pôde, enfim e, a partir daí e, para todo o sempre, deitar no travesseiro sem um pingo de culpa na consciência. Tal descoberta fará o homem dispensar qualquer religião que limpe sua alma dos pecados agora geneticamente praticados. As descobertas em torno de nossa base genética significará, então, uma nova divisão na História da humaniade, pois, se o que salva o homem é o gene, o que o Filho de Deus veio fazer aqui?
A cultura, por outro lado, entra para dizer que tudo é cultural, claro. Hoje, enquanto o genético (natural) nega a cultura, ou a ação dos modelos culturais sobre o comportamento humano, o cultural nega, por sua vez, condições que o homem sempre acreditou ser natural, como a própria natureza humana. Como a maioria dos cientistas acredita haver uma influência de 50% a partir de cada um desses fatores, o resultado é que decidimos adotar por convenção a conveniência. (É conveniente salientar que a conveniência é a única verdade absoluta que regula o universo). Três casos noticiados essa semana em jornais e revistas, nos servem como exemplo. Antes disso, apresento-vos - do lado natural - três ilustres causadores de quase todos os males que a humanidade já experimentou: são eles o beseouro Dendroctonus ponderosae (mais conhecido como o besouro-fumaça), a enzima MAO-A (Mao não significa necessariamente, mas talvez, consequentemente, uma referência ao ditador chinês) e o gene AVRP1 . Do besouro temos a foto, copiada gentilmente por mim. Quanto aos outros, infelizmente, não foi possível fazer o mesmo.
O primeiro caso se refere ao besouro. Embora esse nefasto inseto seja detendor de um corpúsculo "do tamanho de um grão de arroz", sua ação sobra a natureza produz efeitos catastróficos, isso porque "ao matar árvores, (o) animal faz com que árvores liberem gases-estufa na atmosfera", assim, ele "poderá ser o responsável por transformar as florestas da América do Norte em gigantescas fontes de dióxido de carbono, o mais importante gás ligado ao aquecimento global". Ou seja, esta pesquisa, que deve ser publicada na revista Nature, dirigida por Werner Kurz do Serviço Florestal Canadense, indica que o "besouro que destrói florestas é (o) novo vilão do aquecimento global". Não sei o sabonete que foi usado, mas tenho certeza que após a divulgação dessa pesquisa, políticos e o empresariado do país mais poluidor do mundo lavaram as mãos. Se o mundo um dia acabar por efeito do aquecimento global, pelo menos já se tem a certeza científica de que quem vai arder no inferno são esses malditos besouros.
O segundo caso surge da aliança entre a enzima e o gene. Conforme explica o estudo realizado pelo Instituto de Psiquiatria de Londres e objeto de uma reportagem da revista científica New Scientist, noticiado pela BBC Brasil neste mês, tal enzima "regula a quantidade de serotonina no cérebro, molécula que tem um papel importante no controle da agressão". "O resultado indicou que crianças que sofrem algum tipo de abuso na infância e possuem uma forma pouco ativa da MAO-A têm três vezes mais chances de apresentar uma desordem comportamental e dez vezes mais chances de serem condenadas por um crime violento". Já o gene AVRP1 "permite a atuação sobre o cérebro da vasopresina, um hormônio que se vincula à sociabilidade e à afetividade dos mamíferos." Em 2005 já se havia descoberto que este gente estava diretamente relacionado ao altruísmo. A novidade esse ano foi a afirmação do pesquisador israelense Richard P. Ebstein, vinculando tal gene ao comportamento egoísta dos ditadores "a partir das conclusões de um estudo publicado na edição deste mês da revista científica Genes, Brain and Behaviour". Percebe-se que tais conclusões partem da análise de um gene e uma enzima. Quando descobrirem todos os outros que nos tornam sejeitos maus, poderemos iniciar uma campanha para canonizar Hitler e companhia. Só não entendo porque tinha que haver um israelense no meio disso...
Como não só com causas naturais explicamos nossos atos auto-destrutivos, podemos recorrer, como já dito, à cultura. Bem, do lado cultural, podemos citar como exemplo (terceiro caso) uma entrevista com o psicanalista francês Charles Melman que a revista Veja de 23/04/08 publicou logo após a reportagem especial sobre o caso Isabella. A entrevista abordava a questão da "dissolução do núcleo familiar" ou o processo de extinção da instituição familiar. Ou seja, quem hoje em dia jogar um filho de janela a baixo pode, num divã, aliviar sua alma encontrando explicações para seus atos de crueldade nos padrões sociais vigentes.
Como vimos, não precisamos de muita coisa hoje em dia para nos insentarmos de responsabilidades: basta um besouro, uma enzima e um gene. Se não funcionar, a culpa é de minha mãe.

A revolução do cabelo

“Desde sempre, ao longo da história das civilizações, a cabeleira tem representado um elemento fundamental da personalidade humana, sustentáculo da beleza, do fascínio, da sedução e, às vezes, até mesmo do poder e da força... e, nos dias atuais, a mesma cabeleira conserva ainda um profundo valor simbólico...” (brasil.calvizie.net)

Houve uma revolução no universo feminino concernente à sua estética, comportamento, valores e estilo de vida devido ao um elemento muito singular: o cabelo. Melhor dizendo, devido ao ato (ou processo, em alguns casos) de alisar os cabelos. É claro que poucos perceberam ou comentaram sobre isso, mas o fato é que o ato de alisar os cabelos e a descoberta de que as mulheres agora, quase todas, poderiam ter cabelos lisos, provocou uma das maiores revoluções comportamentais de nosso século, superando até mesmo o tão proclamado movimento feminista. Como isso aconteceu? Vejamos:
Mariazinha era uma menina do interior da Bahia. Vivia subindo e descendo morros, correndo atrás de vaca, subindo em pé de siriguela, carregando lata d’água na cabeça, correndo descalça, atirando pedra em lagartixa, tomando banho em açude. Como se pode perceber, era uma pessoa de natureza simples, de comportamento não-industrializado, que ignorava aspectos do mundo padronizado, civilizado e de consumo e lazer alienados da sociedade moderna. Aos olhos de alguns preconceituosos, era semelhante ao um ser primitivo, não aculturado, uma espécie em extinção.
Ocorreu que num certo dia claro em que quase não se viam nuvens no céu (“nuvens no céu” como efeito poético, considerando-se que lá é o lugar onde geralmente residem), Patricinha, sua prima, foi visitá-la. Chegou à sua casa, bateu à porta. Quem veio atender foi sua mãe. Mariazinha não estava. Patricinha então resolveu esperar sentada no sofá. A essa altura, a menina da cidade já havia “fotografado” todo o ambiente da casa, ao qual ela atribuiu rapidamente todos os adjetivos pejorativos que até então pertenciam ao seu extenso vocabulário. Adjetivos pejorativos eram, aliás, as palavras que ela assimilava com mais rapidez nas aulas de gramática. Foi a partir dos adjetivos que Patricinha descobriu que as palavras tinham poder, principalmente quando sentia de volta os efeitos de suas manifestações verbais.
Mariazinha recebeu o recado, e veio correndo ladeira abaixo rumo ao encontro da prima que não conhecia. Os cabelos grandes e soltos, encaracolados, castanho-claros, balançavam ao vento em forma de ondas. Quando isso ocorria, era comum seu Antônio do bar, um velho de dois séculos de existência, deixar seu fumo cair e queimar a perna. As bolas de sinuca também nunca acertavam e um ou outro picolé caia no chão.
Chegando à casa, o inevitável: como diria Darcy Ribeiro, houve o que poderíamos chamar de “enfrentamento de mundos”. Os cabelos de Patricinha eram lisos, retos, uniformes, esticados, concentrados, numa harmonia perfeita com a lei da gravidade. Já os de Mariazinha, como já citados, eram livres, dados ao vento, ao sabor da natureza, do momento. Os olhos de ambas ficaram por alguns instantes assim, mirados uns nos cabelos da outra, como que tentando interpretar o sentido e direção de objeto deveras estranho. Patricinha, amante de adjetivos pejorativos de rótulos de xampu, tratou logo de classificar os cabelos da prima de “rebeldes, secos e quebradiços”, arrancando de Mariazinha uma respiração profunda, um rosto pálido e olhos esbugalhados. O fato é que no final das contas, Mariazinha foi passar uns dias na casa da prima na cidade, onde conheceria um instrumento de alisar cabelos. Isto iria mudar para sempre sua vida. Nos meios sociais que passou a freqüentar, seus cabelos naturais não eram mais vistos com aquela admiração de antes. Patricinha, que era sempre sincera, logo chamou a prima no canto e disse que ou ela mudava para sempre aqueles cabelos que lhe conferiam a imagem concreta de bicho-do-mato ou não sairia mais com ela. Mariazinha, embora tenha ficado magoada por algum tempo com tão arrogante declaração, cedeu às pressões da prima e passou também a usar cabelos que não contrariariam jamais a teoria de Newton. A partir daí, observou-se uma mudança de comportamento que nenhuma teoria de aprendizagem seria capaz jamais de prever. Maria, agora, não se chamava mais Maria e sim Mary. As amizades, os lugares que passou a freqüentar, a forma de se comunicar, os gostos e preferências, o estilo de andar e se vestir, os programas de televisão, as revistas, os gestos e olhares, a inclinação do nariz, tudo mudou. A cabeça havia mudado, agora nos dois sentidos e Mariazinha, aliás, Mary, se descobria uma menina evoluída, antenada a todas as modas, modismos e tendências.
Não é minha inteção fazer julgamento de valor, seja de comportamento ou de xampu. O aspecto relevante - compreendamos - de toda esse processo de assimilação cultural está no fato de que toda, TODA a mudança comportamental observada teve origem absoluta no trabalho racional e sistemático de alisamento do cabelo, acredite quem quiser. Não foi um processo de influências paralelas e simultâneas do meio social que foram aos poucos moldando os hábitos e atitudes de Mary. Definitivamente, não. O cabelo foi, além do ponto de partida, a condição única, suficiente e indispensável para que todas as outras mudanças pudessem ocorrer.
Como esse caso é representativo da população absoluta de cabeleiras alisadas, concluímos que caso houvesse durante algum tempo uma privação dos instrumentos alisadores de cabelo, o mundo se encontraria sob a ameaça de um verdadeiro retrocesso cultural, fragilizando os alicerces da estética e dos valores de consumo modernos, cujo único contraponto positivo previsto seria o aumento de marcações de consultas em clínicas de apoio psicoterápico.

3 de março de 2008

O mundo, o homem e o macaco

Hoje, senti vontade der elevar meu pensamento ao transcendental. De esquecer que vivemos numa sociedade consumista cheia de comerciais das Casas Bahia. Hoje, quis esquecer do dinheiro (como meio de pagamento), dos engarrafamentos, de meu chefe, das provas da faculdade, do preço do barril de petróleo, da alta do dólar, do preço do leite, do desgelo das calotas polares, de todos os filmes assistidos que não prestaram, dos amigos falsos, da falta de dinheiro, de todos os políticos, dos avisos de cobrança pelos quais hoje pagamos, da internet lerda, da fila nos bancos e supermercados, das questões éticas sobre célula tronco, aborto, prostituição e maconha, dos cartões de créditos estourados, dos pratos sujos, do dvd alugado e arranhado, do som alto e estridente do vizinho nas manhãs de domingo, da alta dos juros, do celular sem crédito, dos ônibus lotados, do iogurte vencido, do caos aéreo, das tvs lcds da Sony que não posso comprar, da minha miopia, das muriçocas, dos agrotóxicos, dos vírus da internet, do regime talibã, da matança na Faixa de Gaza, da corrupção no Congresso Nacional Brasileiro (que belo nome), do fome zero e do espetáculo do crescimento. Enfim, resolvi pensar em algo transcendental, o que poderia significar saber quantos pingos de água caem por segundo em minha cabeça enquanto tomo banho, ou: se o homem veio do macaco, onde foi parar o rabo?