17 de julho de 2008

Sombra e água fresca

Admitamos que a maioria das pessoas passa a ser explorada quando começa a trabalhar. Mas para o pobre a situação é ainda pior pois, muitas vezes, nem emprego consegue. É discriminado pela cor, escolaridade, bairro, escolas que freqüentou, vestimentas, textura do cabelo, forma de se expressar, quantidade de dentes, sobrenome, dentre outros desqualificadores. Superando essa fase de absolutamente excluído e, após muito sacrifício, o pobre finalmente consegue um subemprego, porque o ambiente social em que cresceu e geralmente ainda vive - a que podemos chamar de periferia, quando não favela – onde geralmente teve péssimas condições de saúde e educação, faz com que o empregador o enxergue como mais um proletário pobre coitado, portanto, com o perfil que se encaixa perfeitamente na vaga de escravo.

No subemprego, o indivíduo é explorado de todas as formas possíveis que a inteligência humana foi capaz de elaborar até os dias atuais. A recompensa pelo duro trabalho é apenas o direito de comer. Comprar roupa, ir ao cinema, sair para almoçar e viajar, por exemplo, são atividades quase de luxo. O sujeito pode até praticá-las, mas vai ter que, necessariamente, escolher entre, por exemplo, comprar o feijão da semana ou lanchar no
McDonald's . Em resumo, o sujeito trabalha muito, recebe uma mixaria, sai com as mãos abanando e ainda é culturalmente induzido a se sentir culpado.

Fora do âmbito do trabalho o cidadão brasileiro, em geral, é explorado pelo poder público, já que vivemos num país onde a carga tributária é uma das maiores do mundo. Mas o mais escandaloso é o que estudos recentes feitos pelo IPEA revelam: além do fato dos 10% mais ricos da população brasileira concentrarem em suas nobres mãos 75% da riqueza nacional, os pobres, que acabam por viver das migalhas, pagam, proporcionalmente, mais impostos que os ricos. Isso mesmo: quanto menos se ganha, mais se paga. Como o cidadão pobre brasileiro não vê os altos impostos que paga revertidos em serviços públicos minimamente decentes - como vemos pessoas sofrendo em filas de posto de saúde, de madrugada, ou morrendo em porta de hospital - acaba sofrendo um terceiro tipo de exploração: além de pagar mais pelo “luxo” de ganhar menos, tem que aprender a conviver com um governo caloteiro.

Além do patrão e o governo, surgem ainda neste mercado potencial de “pobres exploráveis” as amigáveis instituições financeiras que, sem burocracia, oferecem socorro hoje e amanhã querem enterrar vivo o cidadão. É claro que bancos e operadoras de cartão de crédito não exploram só os pobres. Entretanto, como a renda do pobre não é suficiente para suprir todas as suas carências, ele se vê muitas vezes na necessidade de fazer uso de cartões de crédito ou empréstimos para comprar comida, medicamentos e coisas do gênero. Ou seja, no final das contas, muitos brasileiros, para comer, acabam tendo que contribuir com sua quota para o aumento da riqueza, que se multiplica a cada dia, das instituições financeiras, através do pagamento de juros e tarifas cobrados abusivamente. O curioso é que muitos pobres, de tão carentes, se apossam do cartão de crédito achando que é
benefício social.

Pra finalizar, como se não bastasse todos esses agentes, surge ainda uma outra entidade. Além do patrão, governo e instituições financeiras, temos, de quebra, algumas organizações
religiosas. Após uma eficaz lavagem cerebral, fica até feio pro pobre ficar com alguma sobra de dinheiro na mão.






2 comentários:

Jana Cambuí disse...

Passa lá no Infinito Público!
Tem selo pra você!

Amelie disse...

"É discriminado pela cor, escolaridade, bairro, escolas que freqüentou, vestimentas, textura do cabelo, forma de se expressar, quantidade de dentes, sobrenome, dentre outros desqualificadores."

Triste, porém verdadeiro.

Gostei dos textos e da maneira de escrever!

Bjinho!