26 de setembro de 2009

diferença

Semana passada, sentado num banco de shopping, vi que havia uma diferença entre os adolescentes coloridos e eu.
Era o tempo.
A crise não é só dos 30. Penso que seja também dos vinte e nove para aqueles que têm a mania de sofrer por antecedência. O que fiz da minha vida? acho que não muita coisa.
Quando tinha 19 anos assisti a uma palestra de Roberto Shinyashiki na qual ele dizia que a vida muda a partir do momento em que você muda. E de que não importa onde você está ou de onde veio, mas onde você quer chegar. Nunca mais esqueci essas palavras. Na última conversa de varanda com meu avô, presibítero da Igreja Presbiteriana, eu com 22 anos, ele me disse pra eu fazer um voto. Até hoje não fiz.
Quero comprar minha casa, de frente pro mar.
Não sou mais adolescente, que o diga o tempo.

24 de setembro de 2009

o que pode ser

O menino entrou no buzu e começou a pregar o Evangelho. Na metade da pregação, citou a passagem bíblica que diz que "o diabo vem para roubar, matar e destruir". Mas não se contentou em citar a Bíblia ao pé da letra. Percebendo que a população entenderia melhor caso usasse uma palavra que estivesse mais integrada à cultura popular baiana, à linguagem e ao cotidiano do povo, disse que o diabo vinha para "fazer a bagaceira". Naquele instante, os olhos dos passageiros, outrora sonolentos e perdidos pelas janelas, se arregalaram e miraram o menino.
Mas o que é bagaceira na bahia? Segundo os programas de tv sensacionalistas da região, bagaceira pode ser:
a) um cadáver estendido na rua
b) um acidente grave de trânsito
c) um tiroteio com mortos e feridos
d) desabamento de casas pós chuva
c) briga de vizinho com faca e garrafadas
d) briga de carnaval ou de estádio de futebol com muita pancadaria e sangue
c) todas as alternativas juntas
d) outros

Ainda bem que a Bahia é de todos os santos.

22 de setembro de 2009

viva


Sábado, 26.09.09, minha sobrinha Beatriz completará 8 anos. Viva Beatriz!

no gingado

Quando Simone chegou a Salvador, ela disse que teve a sensação de que a cidade dançava. Sim, sim, Salvador dança.
E até hoje acho engraçado os meninos, aqueles pretinhos e magricelos, e até as meninas também. Porque eles dançam ao som de qualquer coisa. No batido do martelo, na goteira da chuva, no assoviar, em tudo que tiver compasso, o baiano mexe a cintura e faz o gingado. E é sempre uma mistura de corpo e som, de espaço, de paisagem, de cores. A Bahia se mistura com o povo, que se mistura com a música, que se mistura com o corpo, que se mistura, se mistura, se mistura... E aparece sempre aquele gringo desengonçado, branquelo de olhos azuis, que tenta acompanhar o requebrado, mas fica tão desordenado que faz graça. Mas o menino do gueto não. O menino do gueto quando bate a lata incorpora a música, transpira som e ritmo. É no gingado afro. É no gingado dessa Bahia.

17 de setembro de 2009

num tom de maresia

Um dia eu vou escrever sobre a Bahia. Sobre esse terra pra onde me mudei em 8 de janeiro de 2000. Há alguns anos venho pensando em fazer isso, mas nunca me sinto preparado por alguns motivos: a) superar os preconceitos. b) tomar o distanciamento necessário para analisar a cultura c) me integrar mais ao povo e aos costumes para não só saber, mas sentir o que é ser baiano. O problema é que parece que o tempo não resolve isso. Aliás, o tempo tende a agir contra. Se eu escrevesse sobre a bahia após um ano morando aqui, não teria a dimensão do que é a Bahia. Se eu demorar décadas para escrever, talvez esteja tão integrado que não perceba os contrastes. Em que momento então para que o tempo não seja um traiçoeiro? Hoje, me sinto impelido a escrever. Sem amor, sem ódio. Porque parece que falar sobre a bahia será sempre num tom de maresia. Há aqueles que confundem a Bahia com um shopping center ou uma boate na olra. Não, não. A Bahia mora na Ladeira da Montanha, na cidade baixa esquecida. No olhar dos pretos, pobres carentes de dignidade. Nos batuques, no gingado da capoeira, na cintura dançante da mulata. A bahia se esconde nos fantasmas da rua Chile, na menina do curuzu que namora o italiano, nas canoas da bahia de todos os santos, no colégio central, no plano inclinado, nas pedras do pelourinho, na favela dos alagados, nos buzus lotados, na ponta de humaitá, nas sombras dos arvoredos da Ribeira, nos vendedores gritantes da baixa dos sapateiros, nas águas mornas da Lagoa do Abaeté, nas ladeiras e ladeiras...
Mas tenho que parar por aqui, não é agora que vou escrever sobre a Bahia.

9 de setembro de 2009

quem é que sobe a ladeira?

Jogo da seleção brasileira contra o Chile em Salvador pelas eliminatórias da Copa do Mundo 2010. Ingressos a R$ 100,00 expulsando os pretos e pobres. Nas arquibancadas, seres brancos e bem aparentados. Procurei um neguinho do Curuzu mas só achei descendente de francês. São Pedro se indignou e largou o doce (chuva). Como a maior parte da população baiana vive entre a pobreza e a miséria, com rendas que variam de zero a um salário mínimo, seria preciso, para tomar posse de um ingresso, permanecer de uma semana a quinze dias sem praticar hábitos alimentares. Mas só valeria se as arquibancadas fossem comestíveis.

8 de setembro de 2009

futuro de sabão

O governo brasileiro anunciou nessa segunda-feira que irá comprar uma barra de sabão amarelo e dividi-lo ao meio. Sobre cada banda, será fixado um prego banhado a ouro, 3 cm cada. uma banda será colocada numa reserva indígena, voltada para o nascer do sol. a outra, será guardada numa caixa de sapatos embaixo da cama da primeira-dama. as barras não serão tocadas durante 258 dias. ficarão ali, em pleno repouso. passado esse período, as barras serão transportas para um outro ambiente onde será verificado o efeito da gravidade sobre os pregos. ou seja, se buscará saber se houve afundamento ou não dos pregos e, em caso positivo, em que medida. após esse experimento, serão realizados mais 200 da mesma natureza, com períodos de repouso diferentes, num espaço de tempo total de 25 anos. a partir desses experimentos será possível obter dados mais precisos sobre o movimento dos pregos em barras de sabão. estudos feito esses são importantes porque o movimento dos pregos nessas condições está intimamente ligado ao crescimento econômico do país, à geração de empregos e, consequentemente, a aspectos como a dívida pública, juros, câmbio, balança comercial, superávit fiscal, desmatamento da mata atlântica e o pré-sal. as informações oriundas dos experimentos permitirão, assim, que se enxegue com mais clareza e fidelidade os diversos aspectos de nossa realidade econômica. Para se chegar a tais resultados será necessário um investimento de R$ 50 bilhões. Esses recursos serão garantidos após aprovação do projeto de lei que aumentará a carga tributária para o equivalente a 100% do PIB. Pesquisa que mede a popularidade do presidente, feita após anúncio do projeto de lei, indica que houve ganho para a imagem presidencial. A população nas ruas está confiante, porque acredita que haverá retorno no futuro em termos de saúde, emprego e educação.
Analistas independentes temem que o investimento seja alto demais. Físicos dos quatro cantos do planeta se pronunciaram, afirmando categoricamente que não existe no campo da Física conhecimento algum de que o afundamento de um prego na barra de sabão afeta o crescimento econômico de um país, ou qualquer outro aspecto econômico. Um dos físicos, chegou a classificar a série de experimentos com um "aspecto interessante do folclore brasileiro". Outros, mais duros, classificaram como um "verdadeiro desatino", "um projeto insano das autoridades brasileiras", um "ultraje à ciência", uma "anarquia política".
O governo brasileiro se defendeu, alegando que esses analistas não conhecem de perto a nossa realidade e que, por isso, seus comentários são meramente teóricos e superficiais. Um pesquisa realizada pelo Fantástico, juntamente com a opnião das platéias de Fautão e Gugu juntas, indicam que o povo, em sua maioria, apóia o governo.
Questionado sobre a relação entre as leis de física, que regulam o movimento dos pregos, e as leis econômicas, o deputado que apresentou o projeto de lei brincou com o jornalista, dizendo que há mais leis de física entre o povo e o congresso do que sonham os doutores mundo a fora.
A análise geral indica que o governo está confiante. Esse experimento, disse o deputado José, "representa a porta de entrada para um futuro brilhante de nosso país"

3 de setembro de 2009

solicitação

Venho pensando ultimamente em solicitar à American Psychiatric Association que inclua em seu manual de transtornos mentais uma categoria diagnóstica que eu chamaria aqui de "transtorno de deslocamento interplanetário". Esse transtorno seria basicamente caracterizado por uma abrupta e momentânea sensação de não pertencer ao planeta em que se habita.
Por exemplo, se você (cidadão exemplar, pagador de impostos até a quarta geração, respeitador das leis ambientais, trabalhador, dono-de-casa, que respeita as leis de trânsito, combate o mosquito da dengue, luta pelos ideais democráticos, que está em dúvida se o futuro do Brasil está na Record ou na Globo, não sonega R$ 0,01 no seu I.R, dirige com cinto de segurança e sóbrio, paga pedágio, se protegeu devidamente de todas as gripes zoológicas, dentre outros méritos) estiver tomando um cafezinho na padaria de seu Manoel e, ao ouvir uma notícia feito aquela sobre o filho do presidente do senado que convenceu Juiz a censurar Jornal que denunciava os podres de sua família, experimentar uma sensação (psicológica, emocional ou espiritual) de deslocamento momentâneo rumo a outro planeta qualquer, você poderia ser classificado como portador desse transtorno.
Se tudo lá fora anda de vento em popa, o desajustado deve ser eu mesmo. Indústria famacêutica de olho...

2 de setembro de 2009

porque é gostoso ouvir

Existem coisas, verdadeiramente, que gostamos de ouvir. Dá uma sensação gostosa no cérebro. Provavelmente estimula a produção de serotonina. Pra mim, um exemplo clássico é quando um parlamentar, voltando-se desconcertado em direção ou contra um jornalista, no intuito de justificar a inércia que lhe é natural para os assuntos que não lhe agregam valor $, diz que "é preciso aprofundar a discussão", ou "analisar de forma mais profunda". Vamos aprofundar então.

1 de setembro de 2009

dois pontos

A terra gira em torno do sol assim como eu acredito que meus neurônios girem em torno de alguma coisa dentro de minha cabeça. Pensar pra mim é assim. Fico tonto e dá até dor de barriga. Tv, internet, jornal, professor, chefe, vizinho, irmã, mãe, cachorro, sobrinha, deputado, Jornal Nacional, Rede Record, msn, blogs, English, buzu, engarrafamento, chuva, sapato, compromisso, cliente, papel...Como um espermatozóide conseguiu se transformar em algo certamente complexo que consegue assimilar e processar tudo isso? Ultimamente venho pensando que um homem deve ter um objetivo, e nada mais. A vida como dois pontos, o de partida e o de chegada, com as filosofias devidamente guardadas na estante. Não me importa Descartes, se o pensamento está dentro ou fora, mas que chegue a algum lugar. As coisas por aqui precisam fluir, como as águas do mar. Talvez fosse melhor que a espécie humana fosse feito aqueles outros animais que não pensam. Ou, um simples vegetal. Como tudo seria tão harmonioso. Homem pensante, quão erráticos são teus pensamentos! Do lado de fora da janela, falsas polêmicas, problemas fictícios, um tal de joga o barro pra ver se cola. A barriga cheia de demagogia, a boca cheia de retórica, as mãos...ah...as mãos...me desculpem os misericodiosos, essa pedra eu atirarei.
Que direi aos alienígenas sobre esse admirável planeta azul? Vamos plantar uma sementinha de esperança. Regue, cuide, proteja. Quanta estupidez.