27 de setembro de 2010

nuvens diferentes

E eram duas janelas. Nesta, o menino olhava para a rua e buscava no andar dos homens e mulheres o movimento da vida. As nuvens, com certeza, caminhavam num passo mais lento, o que, no início, lhe causava alguma confusão. Mas ele não quis se prender a isso. Antes, olhava para a outra janela, onde estava a menina. Mas não era qualquer menina. Era a menina que fechava a janela. E era diferente o ritmo dos passos, o das nuvens, o dos pássaros e o da janela da menina que se fechava. O dia estava ensolarado, os olhos do menino castanhos e arregalados, mas ainda assim, ele não compreendia por que os pássaros voavam tão rápido, porque os homens andavam apressados, porque as nuvens deslizavam ao vento e porque a janela se fechava com o movimento impiedoso de uma frágil mão de menina.
Quando o vento soprou, o menino já se esticava na cama e, agora, buscava um sonho com nuvens velozes.

26 de setembro de 2010

em suas mãos

E ela sorriu, como se colorido o mundo fosse. Milhões de estrelas que cobriam o céu e, uma por uma, caiam num ato único de chuva. E não haveria outro momento para tais palavras. O coração buscou fôlego e a menina com olhos brilhantes proferiu sem medo: eu te amo. Do outro lado, o menino tentava equilibrar as estrelas que caiam em sua mãos.

4 de setembro de 2010

mas

eu não concordo com você. acho sua idéia estúpida!
mas eu te amo - completou a menina de olhos castanhos-mel.

por uma boa causa

na verdade eu gostaria de participar de alguma revolução nacional por alguma causa social. mas acho que vou aproveitar esse tempo pra acessar a internet e ver uns videozinhos no youtube

deixa pra depois

querido candidato político, eu queria te matar hoje. mas estou com preguiça.

Lá vem Zé, tombando prum lado, tombando pro outro. Caindo pra aqui, caindo pra ali.
Lá vem Zé, perdeu o caminho, seu pé tem espinho, perdeu a cabeça, nem é João Batista.
Lá vem Zé, ainda é cedo, luz calma nas costas, respira cachaça.
Lá vem Zé, chutando a lata, o dedo cortado, bermuda encardida.
Lá vem Zé, cabelo assanhado, soluço e tropeço, conversa sozinho.
Lá vem Zé, artista da vida, coloca no bolso o mundo e os sonhos.

Zé pende prum lado, Zé pendo pro outro.

Lá vem Zé, subindo a ladeira, abraça o poste, a rua tá turva, lá vem Gabriela.
Lá vem Zé, sem camisa, sem calça, sem chinelo, sem alça, só soluço, topada.
Lá vem Zé, esqueceu da mulher, o dia tá triste, vamo tomá uma!
Lá vem Zé, não sobe a ladeira, namora com a mosca, levanta o dedo.
Lá vem Zé, faz um discurso, olha pro alto, soluça, se encurva, tropeça.
Lá vem Zé, parece uma cobra, pra lá e pra cá, e ri pras paredes, entende de tudo.
Lá vem Zé, a mão calejada, uma vida sofrida, hoje tem feijão, café acabou.
Lá vem Zé, arroto, tropeço, soluço.

O mundo girou.

Formigas vermelhas

as moscas e poça

Nuvens brancas no céu. Daquelas fofas e grandes que pensamos, quando crianças, ser de algodão e um céu azul, aquele azul claro que tentamos penetrar com os olhos em busca do infinito. Dentro do ônibus, misturavam-se cores contrastantes. O verde esmeralda dos olhos da moça lá na frente com sua blusa cor-de-rosa e cabelos loiros molhados e a sujeira preta dos pés do menino que vendia balas de gengibre a gritos. Ônibus são verdadeiros centros de complexidade sócio-visual. Existem, de fato, essas discrepâncias coexistindo que se vê em poucos lugares. Um bêbado desdentado-barbudo-bafudo-grudento com sovaco fedorento ao lado de uma lady com aromas de perfume francês. Natural, como o semáforo vermelho, os idosos sentados lá na frente, os pré-adolescentes ultrapassando gargantalmente os decibéis permitidos por lei, o cobrador com cara de ressaca, o motorista querendo atropelar o mundo e os estudantes inclinando seus livros na cabeça dos privilegiados sentados.

Os ônibus, além disso, trazem consigo uma contradição intrínseca. São chamados de coletivos, mas a verdade é que não há nada mais individualista. Uma disputa por cadeira e por espaço de pé sem igual. Janelas fechadas num calor desértico para não assanhar os cabelos das madames. Ou, então, a cara de múmia daqueles que nunca aprenderam o significado da palavra educação e, portanto, não sabem se oferecer a segurar livros ou bolsas. Mas, deixando as críticas de lado, volto às cores. E nesta manhã, as cores eram vibrantes. Do lado de dentro, o amarelo do vestido da menina de braço. Do lado de fora, moscas ao redor de uma poça. O dia estava suave. A luz do sol estava suave e se via partículas de poeira quase invisíveis a dançar no ar. Alguns homens do lado de fora se aglomeravam em círculo. Um pombo assistia a tudo no fio do poste. As lojas estavam abertas com vendedores ávidos por ganhar dinheiro. Os carros seguiam seus destinos. A mulher sentada ao meu lado, com óculos castigantes, dormia com um livro de romances sobre a perna. Haveria falta de romance na terra dos viventes? Eu pensava no meu futuro, pelo menos, no dia de amanhã. O que poderia haver contra o amanhã? Moscas. As moscas naquele dia seriam a negação do amanhã. Moscas girando em torno de uma poça. Meu olhos automaticamente se viraram para frente, pra onde havia futuro, porque se negavam a contemplar a dança das moscas. Não seria possível. Aquele dia, mesmo com todas suas contradições, mesmo com todas suas cores discrepantes, mesmo com mendigo fedorento ao lado de garota de capa de revista não deveria caber mais nada. Voltei meus olhos para o romance das pernas. A senhora dormia. Com que sonhava? Estava cansada. O pombo continuava no mesmo lugar. O menino dos gengibres parou de gritar. O semáforo continuava vermelho nos forçando a continuar parados no tempo. O motorista limpava o suor da testa. A menina lambia seu doce pirulito e as moscas continuavam rodopiando. A essa altura não me importava mais se ônibus era um transporte coletivo. Senti um embrulho no estômago.
Uma senhora religiosa baixou a cabeça num ato de oração. Cheguei a duvidar se haveria amanhã. Os odores, cores, cabelos, roupas, livros, bolsas, azul do céu e verde esmeralda, tudo agora se misturava num tornado em minha cabeça.
O semáforo abriu.
À frente, o futuro.
Atrás, uma senhora. Deitada num asfalto quente, com os braços estendidos, com a cabeça numa poça, moscas dançando e o pombo que a tudo assistia.

crônica minha escrita há um tempinho atrás

3 de setembro de 2010

por trás das montanhas

e quando o sol nasceu por detrás das montanhas, Clarisse esticou os olhos pro céu, enquanto o vento balançava seus cabelos loiros encaracolados. O mundo estava em silêncio. Até os pássaros haviam resolvido ficar em silêncio, um silêncio em respeito ao nascimento do sol. Clarisse poxou o ar com toda força de seus pequeninos pulmões, e depois soltou. Puxou e soltou sentindo a vida. Era gostoso respirar a manhã. Quando o sol nasceu por completo, Clarisse desceu a ladeira correndo. O mundo todo agora era seu.

2 de setembro de 2010

casca de banana

O homem trabalhava muito. E da forma que contamos estorinhas para crianças, dizemos que trabalhava e trabalhava. Tostões no bolso era o que lhe sobrava. Centavos para tomar uma pinga fim de semana. Vida dura, dizia sempre o homem com voz erguida. Trabalho duro, ônibus, televisão, pinga. De vez em quando, uma briga com o vizinho. Sempre, uma questão de futebol. Futuro não havia. Nem tem onde cair morto, diziam uns. Nem onde cair vivo, acrescentavam outros. Era como se a vida fosse uma ladeira. Um suor danado. Quando chegava em cima, escorregava numa casca de banana e descia tudo. José era assim. O homem da casca de banana. Mas diziam outros que não era azar. Era que José era burro mesmo. Já outros, diziam que foi falta de oportunidade na infância. Pobre Zé, nem pôde estudar, só trabalhar desde pequeno, na roça. E zé levava a vida do jeito que dava.
De vez em quando, Zé tropeçava sozinho. De quando em vez, aparecia uma danada de uma casca de banana.

o fim do mar

Enquanto o velho, sentado no banco da praia, lia sobre as disputas políticas para a presidência da República, o menino olhava pra o fim do mar. Ele inclinava a cabeça olhando para o céu, e depois ia descendo a vista até o encontro com o mar. E no fim do mar que não tinha fim, ele via o sol mergulhar. O sol iria para o fundo do mar. Mas não se apagaria. No outro dia, porque sempre haverá um outro dia, o sol voltaria ao céu, com tanto brilho e tanta força como jamais tivera.

encontro

e quando olhei nos olhos dela, nos olhos dela estando eu, não poderia haver quase mais nada além do encontro, encontrando-me eu em seu olhar. Encontro, ainda que nos desencontros do cotidiano, da rotina que sempre passa e volta sempre igual, mas agora diferente. Encontrando-me eu em seus olhos, num olhar não igual nem rotineiro, nem passageiro porque marcante, tão marcante que nunca igual. Em tanto brilho de tão pouco momento passageiro, tanta presença, quando o único e perfeito desfaz e desmancha o que é diariamente igual. Agora, não mais rotineiramente, sinto estar presente fora de mim, num ser totalmente diferente. E agora, não mais diferente, digo igual, porque encontro.

quero minha vó, quero minha vó - gritava a pequena Clarinha, 5 anos, esticando os braços ao se despedir de casa rumo ao encontro do pai em outro estado.

8 de agosto de 2010

again


"...estranho acordar de um dia sem manhã em que despertei sem amanhecer ..."

de um poema meu

tempo

existem poucos lugares na web em que eu me permito "perder" tempo. um deles é aqui, na incrível Aline (para os apaixonados por literatura, claro)

Não poderia deixar de citar Vanessa Bencz

Muito menos a garota prodígio, agora nem tanto mais garota, Juliana Cunha

24 de julho de 2010

embora

"e o vento vai levando tudo embora..."
Legião

22 de julho de 2010

ter ou não ter



veja se eu tenho cara de quem anda de ônibus? -perguntou ao namorado a personagem Cristiana, em Malhação ID. Não, definitivamente ela não tem cara de quem anda de ônibus. Só os feios, pobres e socialmente inferiores têm cara de quem anda de ônibus. Céus, como é humilhante andar de ônibus!


alguém tem alguma sugestão de "uma cara de quem anda de ônibus" ?
quem sabe esta aí:

emagreça feliz

um breve pesquisa no google e

emagreça com saude
emagreça com a dieta das estrelas
emagreça com linhaça
emagreça com lipomax
emagreça com berinjela
emagreça com agua
emagreça com limão
emagreça com herbalife
emagreça com chá verde
emagreça dormindo
emagreça em 3 dias
emagreça correndo
emagreça rápido

emagreça feliz

bem, o importante é ser feliz

pai

eu quero ir morar com meu Pai!
gritou Maria Clara, 5 anos, diante da mãe.

e acrescentou: já sei cuidar de minha vida!

velhinha

me dê uma esmolinha pelo amor de Deus! - sussurrou a velha no ponto de ônibus

pinturas

no meio do caos urbano, Clarisse, 5 anos, se divertia com as pinturas nas paredes

coração

por que não falar mais sobre idéias, e apenas sobre o coração? - indagou o menino ao velho

o velho então mirou os olhos no horizonte enquanto os pássaros davam seu passeio matinal

algo mais

" se fosse só sentir saudade, mas tem sempre algo mais..."

Legião Urbana

girando

acho que estou numa crise de labirintite
bem, pelo menos é uma forma diferente de se ver o mundo girar
e eu que pensava que isso era coisa de gente velha

Bob

como é bom ouvir Bob Dylan
e a gaita

13 de julho de 2010

tempo

quando as nunves ficaram escuras, e eram muitas, ele olhou para trás, olhou para os lados e não sabia que passo daria. seria o fim do mundo?
ainda jovem, perto dos 30, pegou um jornal na banca de revistas que lhe contava as guerras e conflitos do mundo.
sentou-se para tomar café e, agora, o tempo não parecia tão escuro assim

simplesmente

e era tão gostoso simplesmente ouvi-la

12 de junho de 2010

Alicia

até agora, eu poderia dizer que a coisa mais interessante que vi nessa Copa do Mundo foi Alicia Keys cantando Empire State of Mind.

gueto

num gueto de Salvador eu sentei e ouvi Pink Floyd

liquidificador

não se pode mais dizer que homens são inúteis fins de semana em casa, principalmente em dia de jogo de copa do mundo, porque, creiam, hoje eu consertei um liquidificador.

11 de junho de 2010

se for

só quero morrer se for de saudades

9 de junho de 2010

6 de junho de 2010

saudade

ontem à tarde lembrei de meu avô
e foi uma lembrança forte, uma saudade forte
uma saudade do tempo em que eu o via na varanda de casa, sentado na cadeira de balanço, dando conselhos ou simplesmente dormindo
uma saudade de avô

era gostoso quando eu criança ia na casa dele pegar carambolas no quintal.
almoçar nas tardes de domingo
ouvir histórias antigas
e tinha sempre orgulho porque era veterano de guerra
uma saudade forte
saudade de avô

o cair da poesia

nos prédios não havia poesia
quando o homem se jogou pela janela não havia poesia
quando o carro buzinou lá em baixo não havia poesia
quando o policial gritou não havia poesia
quando o chão tremeu não havia poesia
e mesmo quando a chuva caiu não havia poesia
naquela tarde não houve poesia

cachimbo

a velha feia fumava seu cachimbo na entrada da escola.
era sempre assim, quando eu chegava de manhã ela estava lá sentada com o velho cachimbo.
eu não entendia como uma pessoa poderia ficar tão feia, tão velha e soltando fumaça pela boca.
era estranha aquela imagem. não tinha nada a ver com meus 6 anos de idade. não tinha nada a ver com minha infância, com meu sorriso feliz e meus cabelos louros.
era uma velha feia e eu nem tinha 10 anos. eu gostava mesmo era de assistir homem aranha e de correr no pátio da escola.

casa

Não foi a casa que mudou meu bem, foi você quem cresceu.

tarde infinita

Enquanto ela se balançava na rede ele, sentado no canto da porta, escrevia-lhe uma poesia.
e ia unindo palavras e palavras. uma linha, duas linhas, enquanto os cabelos de Juliana balançavam ao som das palavras
os sentimentos transbordavam e aquelas palavras afundavam no caderno como gotas de coração que se impregnavam no papel.
a menina sorria e cantarolava na rede, enquanto o menino escrevia poesias numa tarde infinita

diferente

Mas percebo agora
Que o teu sorriso
Vem diferente
Quase parecendo te ferir
...

Legião Urbana

orange county

Não sei o que acontece
mas filmes bobos que passam em tardes de sábado no SBT às vezes me tocam mais que qualquer outro filme campeão de bilheteria.

Orange county, filme bobinho, pra quem tá de bobeira em casa esticado no sofá pensando no que vai fazer mais tarde. Mas dei muita risada e o mais importante, me fez refletir sobre uma questão essencial:

estamos em busca de algo realmente importante pra nossas vidas, ou nosso objetivo é uma pura ilusão?

Bom filme

sem amanhecer

Certa manhã acordei, quando não era para acordar
estranhamente acordei
o silêncio de um quarto quase vazio me assustava
e os poucos móveis me pareciam deformados
o espelho, no canto da parede, como se quisesse falar comigo.
dentro do espelho, dizem os filmes de ficção, existem mundos
mas eu não queria conhecer mundo algum, definitivamente, invariavelmente.
estranha manhã
pela frecha da janela vi nuvens escuras
não ouvi passos de transeunte algum
nenhum raio de sol
nenhuma criança correndo na rua
estiquei os ouvidos, mas não havia barulho de xicaras na cozinha
estranha manhã quando não deveria acordar
então, desesperadamente fechei os olhos, apertando com força

não era pra acordar
estranho acordar de um dia sem manhã em que despertei sem amanhecer
estranhamente acordei

brancas

elas estavam lá, pairando sobre o horizonte
um mar azul calmo, quase sem ondas
um azul como jamais se viu
um vento leve que balançava os cabelos de Paulinha
o vento, confesso, estava um pouco quente, mas era um quente gostoso
areia fofa e as gaivotas brancas pairando sobre o horizonte
um horizonte sem fim,
o horizonte sem fim
seria o fim, porque nunca mais estaríamos ali
nunca mais o vento quente de uma tarde de gaivotas brancas sobre um mar azul balançaria os cabelos finos e pretos de Paulinha
nosso fim dentro de um horizonte sempre sem fim

12 de maio de 2010

ponto

os pontos não me dizem nada. . . . . . . . . nem as virgulas,

porque não sabem a fronteira dos pensamentos.
ignoram a fluidez dos sentimentos.
não conhecem a liberdade
se poesia é alma, imaginai vós tamanha agressão a de um ponto na alma!

sem final

e era assim, como se ela estivesse no centro daquela roda de crianças.
e as crianças iam girando, girando
giravam.
no final, não havia final porque elas continuavam girando.
cores confusas no céu. nuvens pálidas
sempre girando
cores confusas girando

e quando

E quando ela se retirou, estranho silêncio, estranha dor, tudo foi ao chão.

quando não havia mais chão

7 de maio de 2010

poesia

Eram tantas coisas
Mas quando ela perguntou, ele apenas resumiu com o nome de poesia

esquina

juliana olhava pela janela

casas e casas, cores e cores
o vento passava veloz e assanhava seus finos cabelos
era uma tarde fria de outono. - o sol não ardia -, apenas iluminava ainda mais o rosto risonho da menina
e sempre gostava de viajar assim, olhando pela janela
homens, mulheres, crianças...era engraçado ver tudo passando tão rápido.
na parada do ônibus, um cachorro vei correndo e ficou latindo na janela da menina
quando o ônibus partiu, ele saiu perseguindo
Juliana balançou a mão num sinal de adeus
o ônibus dobrou a esquina e Juliana continuava olhando pela janela

mistério

chamou a menina e tentava explicar para ela a distância dos astros

mas juliana, quatro anos, olhos negros e redondos, se perdia no brilho das estrelas, no mistério do céu escuro

6 de maio de 2010

infância

quando acabar, você pega do outro lado da rua, na casa de dona Maria, a velha do leite.
menino, pés descalços, sobe ladeira correndo.

vento no peito, céu azul

dona maria - gritou o pequeno. Minha mãe mandou pegar uma lata d'água - continuou.
Alia atrás menino, no quintal, detrás daquele pé de capim santo, pode pegar - orientou a velha.
Lá vem Limão, pés descalos, ladeira abaixo.
Aqui mãe, tava pesado.
Ô menino frouxo - provocou a mãe.
Na rua, Limão chuta a bola e quase arranca a cabeça do dedo.

não respondeu

tela
com sono olhando para o monitor
brilho fosco -----------meia noite, faltam 2 minutos,,,
sono no monitor
quarto escuro
do lado de fora , um poste em silêncio
boa noite - disse a janela à rua
quieta, a rua não respondeu.

4 de maio de 2010

palavras

aprumou-se no batente e disse:
não fale com as crianças com palavras duras.
e o rapaz então se lembrou de um versículo Bíblico:
"a vida e a morte estão no poder da língua..."
Enquanto isso, Maria Clara dormia um sono infantil.

triunfo

Era final de tarde e um vento frio escorregava entre os corpos.
Na praça do Campo Grande as árvores são frondosas, grandes, imponentes feito os prédios e casarões que as cercam. Há uma miserabilidade que convive com o luxo naquele lugar. Tudo é indecifrável. Pessoas bonitas em carros importados passam por ali enquanto velhos e mendigos compartilham generosamente bancos e chão da praça. Há um peso ali. Uma melancolia, um desalento, uma feiúra.
Eu sentei por algum momento em um daqueles bancos. Junto ao meu pé esquerdo, uma folha seca e amarelada de outono flutuava sobre uma pequena poça d’água. Um senhor, ao meu lado, lia um jornal amassado. O menino continuava olhando pra cima enquanto o outro tentava sugar o leite que a natureza se encarregava de suprir. Ali tudo é lento. Há um clamor ali. Um clamor de gente miserável que acorda, sobrevive e dorme ali. Uma solidão. Um desamparo.
Começou a chover. Um chuvisco fino e fraco, que deslizava pelas folhas, pelo vidro dos carros, e deixava a calçada brilhando feito as estrelas que mais tarde surgiriam. O céu foi escurecendo. Nuvens iam ficando cada vez mais densas e escuras como que se harmonizando com toda aquela apatia. Um cachorro vira lata latia no meio do asfalto molhado e os carros começaram a buzinar, uma após o outro, impacientes, apressados. A luz vermelha do semáforo agora reluzia com mais intensidade diante da noite que caia. Fui embora.
No caminho, lembrava dos olhos daquele povo que são sempre olhos que pedem. Sempre um olhar de quem carece de algo.

Aquelas crianças de dois ou três anos correndo nuas naquele frio. Aquelas mulheres jogadas no chão.

Aquele fedor, aquela imundície.
Ecoava ainda em meus ouvidos a gargalhada de alguns homens que bebiam e jogavam dominó.
Uma gargalhada solta, ressoante, que no fundo desdenhava das mazelas da vida e comemorava o triunfo de estarem vivos.
.
trecho de um texto meu escrito há um tempinho

resto

e se hoje fosse nosso último dia, o que me diria? - perguntou o rapaz.

diria que o importante é ter paz interior. O resto é resto - respondeu a moça de cabelos loiros.

2 de maio de 2010

azul

sentou-se e com dois goles tomou o resto da garapa

na cozinha

pobre velha
pela penunbra via o globo terrestre sobre a mesa da sala
e imaginava nuvens brancas cobrindo a bola azul

22 de abril de 2010

side

Led Zeppelin
quando estiver noite
com céu escuro ___________________ black mountain side / black mountain side /black mountain side / black mountain side _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
__________________________________________
^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^

chegara

pobre moço.
só aos 30 percebeu que o futuro chegara.
surpreendentemente chegara.

21 de abril de 2010

woofer

no quarto, volume máximo

TUM TUM TUM

porta, cama, monitor, janelas, tudo tremia

O CORPO TREMIA

subwoofer
woofer
woofer
woofer
wooferwooferwooferwooferwooferwooferwooferwooferwooferwooferwooferwoofer
wooferwooferwooferwooferwooferwooferwoofer
wooferwooferwooferwooferwoofer
wooferwooferwooferwoofer
wooferwooferwooferwooferwoofer
wooferwooferwooferwooferwooferwooferwooferwooferwooferwoofer
vwooferwooferwooferwooferwooferwooferwoofer
wooferwooferwooferwooferwooferwooferwooferwooferwoofer
vwooferwooferwooferwoofer
wooferwooferwoofer
wooferwooferwooferwooferwooferwooferw
wooferwooferwooferwooferwoofer
wooferwooferwooferwooferwooferwooferwooferwoofer
vwooferwooferwooferwooferwooferwooferwooferwooferwooferwoofer


TUM TUM TUM

nariz

e perguntou ao ancião se haveria salvação para sua alma.
o velho parou, raspou o queixo com dois dedos e mirando nos olhos do pequenino, respondeu:
garoto, o inferno está abaixo de seu nariz.
e o menino saiu correndo ladeira acima.

as alegrias que o Google me dá (parte II)

solar

E ele apenas e repetidamente dizia que havia nascido sob um eclipse solar. Era uma tarde de primavera. Vento fresco e pétalas de rosas espalhadas por calçadas acinzentadas.

Sim, isto é rock in roll


19 de abril de 2010

60


Os anos passaram, mas o tempo não. Ainda não estamos em 2010.

it's a hard

Passava da meia noite. Estrelas cadentes. Um único pássaro numa arvore escura. Piano ao fundo. Da janela de seu quarto, ele viu o mundo explodir. Never, never, never. Ela disse: acabou. Explodir em pedaços, ex plo dir , pulo dir , dir, dir, dir. Ao fundo, Bob Dylan



"And it's a hard, and it's a hard, it's a hard, and it's a hard,

And it's a hard rain's a-gonna fall."

16 de abril de 2010

banguelo

parou, ele, o tempo. era tão velho, tão lento que até os pingos de chuva caíam lentos. poças d'água tremeluziam aos pingos e à luz amarelada dos postes.
enconstou-se na mesa do bar e tentou fechar o guarda-chuvas. pobre velho. tão velho, tão lento que levaria uma eternidade pra fechar.
Abriu um sorriso banguelo. um olhar de ternura. era um velho bonzinho e velhos pobres bonzinhos geralmente abrem sorrisos banguelos.
fechou o garda-chuvas. glória.

dente

puxou uma moeda de R$ 1,00 daquele short velho, aquele homem velho, e pediu ao dono do bar um remédio para dor de dente.
chovia
eu, ingênuo, achei que o velho fosse maluco.
maluco eu.
duas doses de pinga e não fazia mais frio

15 de abril de 2010

camera


e como diria Rafael Galvão, as alegrias que o Google me dá...
ou, "porque o Google me induz a pensar putaria..."


alone


e às vezes parece que soa assim, como um canto solitário

12 de abril de 2010

rosa


Ter crianças em casa é algo como ir para a cama e encontrar um porquinho rosa extremamente simpático em cima de seu travesseiro.

8 de abril de 2010

quase o mesmo

"nós temos a mesma idade
e aquele gosto pelo incerto
cobrimos unhas com esmaltes neon
gostamos de usar os coletes abertos

nós temos os mesmos sonhos
os mesmos desejos secretos
arriscamos as mesmas cores
lançamos olhares discretos"


copiado da adorável Lola

que pertença

não gosto de direitos autorais

tudo o que faz sentido pra mim, que completa minha existência, presumo que pertença a mim.

ponto

não gosto de frases com pontos finais

gosto de fins de frases que não tenham fim

com espaços



espaços para que sempre seja possível dizer algo mais

Scorpions forever



porque o importante é manter a postura


6 de abril de 2010

anjo

Galega sentou-se ao pé da escada e disse que o sobrinho dela havia morrido. Apontou pro céu e disse:
-- sabe porque as nuvens estão daquele jeito?
--Não, por que?
--Quando uma criança morre vira anjo. Todas aqueles nuvens são crianças que viraram anjos.
Olhei atentamente pro céu.
Eram muitos anjos.
Éramos crianças.
Galega era uma vizinha pobre, cujo irmão sempre me pedia maçãs.
Galega imaginava muitas coisas e contava muitas estórias.

tomara

Faz calor em Salvador, apesar de ser noite. E fica aquele suor pegajoso. Talvez as calotas polares estejam realmente derretendo. Talvez o eixo da Terra tenha sofrido uma leve inclinação depois do terremoto no Haiti. Talvez o fim do mundo esteja próximo. Vamos imprimir menos. Tomara que daqui pra lá o Irã não produza nenhuma arma nuclear. Tomara que os americanos continuem com fast foods.

redondos

Há umas duas semanas atrás, comecei a contar estórias para minhas sobrinhas. Beatriz e Maria Clara, oito e quatro anos. A estória é de "Pinha, a formiga aventureira". Mas o impressionante não são as aventura de Pinha. São os olhos de Maria Clara, redondos, esbugalhados e atentos procurando as imagens, os detalhes da estória contada por mim e imaginada por ela.

manhã de sol ocluso

"...porque tuas mãos, singelo sorriso de lábios tênues que rasgam delicadamente teu rosto e olhos translúcidos de infindáveis pensamentos, não se transportam a mim, nesta manhã de sol ocluso. Fico então a esperar que um vendaval nascido de detrás das montanhas, veloz e assaltante, possa te roubar onde quer que estejas e te trazer a mim, somente a mim. Mas não ouço tua voz, nem fios de teus cabelos encontro entre meus dedos, nem dançando ao vento, porque a distância do que é concreto ignora a confusão de nossos sentimentos..."

Trecho de um texto meu escrito há alguns anos.

protesto

Não entendo porque Led Zeppelin morreu quando eu nasci.

Cinco linhas

Lola, me perdoe se os textos longos te cansam. Eles igualmente me cansam.

herança

E declarou de cima da casa, cabelos assanhados, pisando com cuidado para não quebrar as telhas:
"Tudo o que tenho, todos os bens que compõe meu acervo hereditário, declaro deixar para minha sobrinha, Maria. A tv, o som e o computador."
Era uma noite de lua branca e enorme.


Do outro lado da rua, uma coruja pousou suavemente numa árvove caduca.

momento literário

O velho apertava os olhos, protegendo-os da luz do sol que parecia apontar apenas em sua direção. Deslocou-se, pondo a mão sobre a do rapaz que o acompanhava à mesa e o chamou com ânimo:
- Olhe ali, do outro lado, na calçada!
O menino, num susto, ergueu os olhos que estavam voltados pro livro, um livro sobre antigos povos da Babilônia, e voltou a cabeça pra onde o velho apontara.
- O que? – Perguntou o rapaz.-
Aquela menina. Está vendo? – continuou falando em voz baixa, mas num tom vibrante.
- Sim, estou vendo – retrucou o rapaz, com expressão de impaciência.
O velho então parou. Parou e deixou, por instantes, o olhar se perder no espaço. A claridade do sol, agora, parecia não incomodá-lo mais. Aos poucos, foi abandonando a mão do rapaz e se encostando de volta na cadeira.
- Seus passos... seus passos eram tão leves. - Disse com certo deslumbramento.
E, novamente:
- Muito leves... – só que, desta vez, parecia estar falando pra si mesmo, suspirando.
- A leveza de espírito afeta a lei da gravidade? – perguntou o velho ao menino.
- Por acaso a leveza de espírito interfere no peso dos corpos? – insistiu o velho.
- Não, meu avô. - Respondeu o rapaz com olhar confuso. É evidente que não e o senhor deve saber isso.
- A ciência já examinou isso, meu filho? - Insistiu mais uma vez o ancião.
- Não haveria motivos para tal, meu avô. – Respondeu achando graça, pois, agora, entendia que o velho o provocava.
O homem voltou o olhar para a menina que agora já estava distante.
Um pouco à frente, uma esquina cruel roubara-lhe a pequenina de andar leve e cabelos longos e encaracolados.
Não deveria de haver esquinas, já que sempre nos roubam o olhar infinito. - Questionou o velho em pensamento.
Mas quando as coisas nos fogem dos olhos, a memória nos serve. E o velho via novamente aqueles passos leves, aquele corpo pequenino, aquela mão frágil segurando a da mãe. Cabelos encaracolados que se moviam conforme as vontades do vento.
O velho pegou de volta o charuto e permitiu ao menino voltar-se ao livro.
Bafejou, com o desleixo de sempre, aquela fumaça densa, mas tão leve feito os pés da menina.
E, silenciosamente, disse:
- Interfere meu filho. Interfere.

Frio

Eu nasci ontem. João. Eram três e quinze da madrugada. Sangue e frio.
Eu estava com 4 anos, frio, papeleão, sujeira.
Ontem eu tinha 9 anos, frio, febre, papelão.
12 anos, todos os olhos eram frios.
Semáfaro frio, olhos frios, noite fria.
Febre no frio. Comida fria. Noite fria.
Ontem eu me transformei num anjo.

corpo frio, e tudo continuava completamente frio.

vírgulas

Querida Eva, me perdoe, tantas vírgulas,
Devo, reconhecer, que é um vício, um vício,
,

drop the candy, chit!

Como um americano falaria expressões baianas feito "larga o doce pivete!?" Não tenho a mínima idéia. Mas se usarmos um mecanismo automático de tradução feito o google translator, teríamos algo como: "drop the candy, chit"
Sinceramente, não sei como se traduz um livro de literatura, por exemplo. Como um americano entenderia as expressões que Jorge Amado usa em seus livros? De uma forma um tanto distorcida, penso. Como mergulhar em outra cultura, ou melhor, como pensar através de outra cultura? Durante meu curso de Administração, ouvimos muito falar em mudança da cultura organizacional, adaptação à cultura estrangeira. Como um índio pensaria feito um português? Como um americano pensaria feito um Chinês? Como um francês pensaria feito um russo? Como um paulista pensaria como um sertanejo nordestino? Os sociólogos alegam que não é possível mudar uma cultura. Não é como um objeto, uma cadeira que mudamos do quarto para a sala. Se não é possível mudar a cultura de uma empresa, como seria possível mudar a cultura de um povo, de uma dada sociedade? Como seria possível que um árabe começasse a raciocionar como um americano? Outro dia li num blog de sociologia um comentário que me chamou atenção, pois fazia uma distinção entre integração social e inclusão social. Reparem a sutil diferença. Os meios de comunicação de massa falam que é preciso promover a inclusão social, não falam de integração. Por que? Porque incluir socialmente é oferecer um curso profissionalizante, por exemplo. Integrar é fazer com que o indivíduo marginalizado compartilhe do ambiente cultural do qual está excluído. É fazê-lo igual, não apenas participante. Se estamos inclusos, estamos ali no meio daqueles outros diferentes que nos olham diferente. Integrar vai além da ruptura de uma categoria social, como um emprego. O processo de integração leva o indivíduo a compartilhar da mesma cultura, o que significa compartilhar dos mesmos valores, mesmas ambições, mesmas crenças. Ainda falamos em inclusão digital. Quando falaremos em integração tecnológica? A meu ver, inclusão digital que se promove no Brasil é oferecer um computador com acesso à internet. Integração tecnológica, imagino, seria não só envolver o indivíduo num contexto tecnológico de tal forma que o mesmo fosse capaz de compreender as novas tecnologias, mas também receber a educação (conhecimento) adequada para produzir resultado (benefícios) para si e para a sociedade.
Já dizem os estudiosos de idiomas que a tradução não é um processo de decifração, mas de compreensão. Se podemos compreender o que Shakespeare falava naquele ingês arcaico, por que não podemos compreender o que fala um menino brasileiro que mora numa favela carioca ou nos subúrbios de Salvador? Garanto que nem é preciso usar o Google.

adeus

Se quiseres voltar, volta não

Porque me quebraste em mil pedaços

Adeus, adeus, adeus meu grande amor.

Legião Urbana

31 de março de 2010

nobre arte

Moça envia curriculum com o seguinte objetivo:

"Desenvolver possibilidades sumárias de interação com pessoas, atuando significativamente na nobre arte do bem-entender, com presteza e pró-atuação em prol da plena satisfação de necessidades."

Isso é o que dá essa mania de copiar e colar.

28 de março de 2010

paredão

E hoje me pergunto se aquelas crianças que vivem nas ruas e aquelas outras que morreram por falta de leito nos hospitais do Maranhão fazem parte de algum Big Brother.
Possivelmente um big brother onde não há paredão.

indefinição

Se hoje eu pudesse definir a morte, eu a definiria com o substantivo



saudade

definição

Se hoje eu pudesse definir a vida, eu a definiria com o verbo

re cons
tru ir.

sonho

Todas as vezes em que penso no meu avô, lembro da cena em que estávamos voltando da igreja de carro e passamos ao lado da praça do Rosário. Um dos sonhos de meu avô era estar vivo na virado do ano 2000. E lá estávamos. A imagem que ficou na minha mente foi a dos olhos dele brilhando ao olhar para as luzes que rodeavam a praça e a igreja. Luzes pequenas, faiscantes que anunciavam um novo milênio. Como todo cristão, meu avô nutria a esperança de que na entrada do ano 2000 poderia haver um acontecimento muito importante como a volta de Cristo. No livro de Monteiro Lobato intitulado "História do mundo para as crianças" eu havia lido quando criança que na virada para o ano 1000 os cristãos europeus também nutriam essa expectativa. Bem, como todos sabemos, Cristo não voltou. Poucos anos depois, ele realizou o segundo sonho que era pegar no colo uma bisneta. Foi Beatriz. Um pouco mais à frente, meu avô faleceu. Vez por outra sonho com ele e são sonhos muito reais. Meu avô participou da 2ª guerra mundial. Uma vez, deu-me algumas moedas que trouxe da Itália, moedas de diversas nacionalidades. Quando falava da guerra se emocionava. Acho que meu avô foi um herói.

26 de março de 2010

Newspapers

Num artigo publicado no New York Times, dia 17.03, sobre a crise que o jornal impresso enfrenta devido aos avanços tecnológicos, lia-se que:

"... the public has also become disillusioned with the content supplied by a journalistic elite that has lost credibility. Newspapers are increasingly seen as politically biased and uninterested in the needs of their readers..."

alguma semelhança com os jornais brasileiros?

24 de março de 2010

forever young

e agora, aqueles meus anos 80 antes tão próximos de mim, grudados às minhas mãos como barro na mão de criança, já tomam certa distância e me parecem um tanto longe.

E a cada vez que ouço essa música, mais distante eles ficam, e menos eternamente jovem fico eu.

forever young... aqui

21 de março de 2010

colação

Minha colação de grau foi sexta-feira, mais precisamente, antes de ontem.
Não foi tanto minha porque não compareci ao evento.
Eu precisava resolver uma pendência na faculdade. Não resolvi. Deixa pro próximo semestre. Não senti falta. Não fiz questão.
Bem, mais um bacharel em Administração no mercado.
Pra que né?
Acho que era pra eu ter feito Letras.

ti

Nunca discuta com os caras da TI
1º eles não entendem você
2º se entendem, não irão te atender

notícia

Não tive tempo de ver quais foram as notícias importantes desse fim de semana.

Será que alguém importante morreu?

disk boot failure

passei algum tempo sem computador, alguns meses...
descobri que é possível continuar respirando, vendo, ouvindo e andando sem computador,

embora tenha sentido muita falta de apertar "ENTER" pra as coisas acontecerem.

aprendizado da noite: se aparece a mensagem "disk boot failure, insert system disk and press enter" é muito provável que seja um conflito entre o HDD e o drive de cd quebrado. Desconecte o drive de cd e reinstale o Windows.

boot é tipo um "empurrãozinho"

rock e estrelas

dica da madrugada:

é possível ouvir rock in roll olhando as estrelas de madrugada e se encantar ao mesmo tempo pelo rock e pelas estrelas.

para isso, é preciso desligar o computador.

workin man

estávamos no bar, um bar aqui próximo de casa.
eu emprestei a ele meu celular, 2 gigas de rock in roll, sem fones de ouvido, o que o fez esquecer o diálogo com a própria esposa. Perguntou -me logo: "tem Pearl Jam?" eu disse: "tem véi... e tem também led zeppelin, the clash, rush, deep purple, pink floyd..."
ele enconstou o celular no ouvido.
"Rock, não vem de fora, é de dentro pra fora", disse ele.
Eu, tentando racionalizar, perguntei: "é uma atitude?" ele disse: "é, você não ouve rock, é uma coisa que sai de dentro de você".

Era uma noite num bar de Salvador, em meio a pagode e axé, num tributo particular ao rock in roll.
músicas do tipo "workin man" madrugada a dentro

vida

sorria.
no fim, a vida possivelmente parecerá uma tragédia.

3 de março de 2010

os gregos e a informação

Era um tarde quarta feira, meio nublada, meio sufocante de calor. Foi quando resolvi listar aqui algumas das noticias que li nos últimos dias em alguns jornais online:

o terremoto no Chile deslocou o eixo da Terra, dizem cientistas da Naza.
EUA e Brasil têm visões diferentes sobre Irã
EUA descobrem que sofrem ataques cibernéticos originados em escolas chinesas
Petrobras adia licitação bilionária para obras no pré-sal
Google enfrenta censura na China
Cidade americana muda nome para Google
Canadá fica em primeiro lugar nas Jogos de Inverno de Vancouver
Dólar sofre alta após vários dias de queda
Sony anuncia falha no Playstation 3
FCC divulga que 93 milhões ou um terço dos americanos não tem conexão de internet de alta-velocidade em suas casas.
Google anuncia que vai testar em algums estados americanos conexão de internet com velocidade de 1 gigabyte por segundo!
Pesquisa revela que homens de q.i elevado são fiéis
Madona anuncia que quer comprar casa no Rio de Janeiro

Todas as vezes em que penso num conjunto de informações assim, meio ligadadas, meio disparatadas, lembro sempre daqueles que falam que é preciso "organizar o caos", ou pelo menos dá uma aparência de organização. Quando eu estava na faculdade, li uma vez que o papel do principal executivo de uma empresa era transmitir ao ambiente externo a imagem de estabilidade, coesão, organização. Ou seja, mesmo quando tudo estivesse uma bagunça infernal, as pessoas lá foram teriam que acreditar que tudo naquela empresa estava funcionando perfeitamente. Não existe, é claro, uma pessoa com o cargo de presidente do planeta terra, pra passar essa "imagem". Talvez, nem seja interesse de ninguém que houvesse uma pessoa pra essa finalidade, se admitirmos que o interesse é justamente o contrário: gerar o caos.
Alguns estudiosos já têm falado que vivemos na era da desinformação, justamente porque a informação em execesso, desconetada e fragmentada não gera no final nenhum conhecimento significativo, capaz de possibilitar uma compreensão mais ampla e sólida dos acontecimentos. Um estudo, se não me engado britânico (já citado em um outro post meu em alguma data que não estou com paciência e tempo pra procurar agora) falava que o cérebro demora algum tempo para formar um sentimento de moralidade. O problema é que devido à velocidade com que as informações são transmitidas, o indivíduo não teria tempo suficiente para formar esse tipo de sentimento. Exemplificando, se eu recebo a informação de que um adulto molestou sexualmente uma criança e, dois minutos após, já surge informações de que a Disney vai lançar um filme sobre o porquinho rosa perdido no pólo sul, a possibilidade de eu formar um sentimento moral duradouro é quase nula. Quando eu era adolescente o mundo parecia estático nos livros de história e geografia. Eram como paisagens eternas aquelas fotos da China, dos EUA dos Tigres Asiáticos. Era como se o mundo tivesse um sentido bem direcionado, pessoas definidas à frente desse processo e um público (por exemplo, os países de terceiro mundo). Atualmente, não só as mudanças econômicas, sociais e culturais ocorrem mais rápido, devido principalmente a questões tecnológicas, mas também, a velocidade das informações acabam contribuindo para que se crie uma sensação de um mundo mais revirado do que é de fato. Obviamente se tivermos tempo de pesquisar mais a fundo e juntar os pontos, formaremos um panorama mais coerente sobre uma dada realidade. Mas isso, pouco se faz. Pouco se encontra. A questão que me vem é: num mundo onde a informação tem um papel tão importante na construção da realidade social, como o conhecimento está sendo elaborado. Em outras palavras, perguntaremos à informação a mesma pergunta que os filósofos gregos faziam a respeito de si mesmos: "de onde vem, o que é e pra onde vai."

16 de fevereiro de 2010

Carta à Nasa

Assisti a watchman ontem pela primeira vez. A parte que mais gostei? Aquela em que o Dr Manhattan, em meio a acusações infundadas de que teria gerado câncer em algumas pessoas, inclusive na ex-namorada, resolve se teletransportar para Marte. Eu não chegaria ao extremo de cogitar, como ele, que a vida humana talvez fosse sem importância, nem de achar que milagre é algo simples já que só acontece aquilo que é possível acontecer. Mas seria interessante se eu pudesse sumir do planeta Terra rumo a Marte toda vez que sentisse que alguém ou alguns estão consumindo meu juízo sem um motivo razoável. Quando eu era criança, minha vontade era de voar na casa de Dorothy rumo à terra encantada do Mágico de Oz. Hoje, os planos mudaram, a ciência evoluiu e eu escolheria Marte. Só espero que lá tenha água.

pipoca (impressões de um quase turista no carnaval de Salvador)

Água, dois reais. Murro na cara, não tem preço. Tum, tum, tum, é chicletão que tá passando. Empurra, empurra, sai de baixo que a madeira vai descer. Madeira desceu. Pou, pou, pou. Acho que doeu. Os barulhos se confundem. Tá apertado. Alguém pisou no meu pé. Colé meu irmão, você é maluco é? - griou um homem feio e fedorento. Beijo na boca. Latão skol dois reais. Beco da ondina, ou beco da fuleragem. Segundo alguns, é lá que rola a putaria. Beija, beija, beija. Empurra, agarra, solta, esfrega. Vai, vai, vai. O grave do trio treme o corpo. Suor. Calor. Tira o pé do chão. "Eu sou o lobo mau, vou te comer". Venha mainha! Quem vem aí? É timbalada. Tá rolando brother. Não fique aí não que é esparro. É aqui que a porra vai inchar! Não solta minha mão! Ai, o menino puxou meu cabelo. Lá vem os homi véi. Os cara tão batendo com cacetete de madeira. Segura aí brother. Chuva de cerveja. Você viu aquela mulher ali véi, que gostosa?! Rapa, é só chegar e dá a idéia, uma idéia forte. Tem que garrar meu irmão! Tá vacilando é? Sai do chão, tum, tum tum, tá rá tá tá, tá rá tá tá. Eu sou o lobo mau, au au.

11 de fevereiro de 2010

enriquecido a 20%

Ultimamente ando meio preocupado porque o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, acordou mal intencionado e resolveu elevar a 20% o grau de enriquecimento do urânio. Igualmente preocupado estaria caso levasse o prêmio acumulado da mega sena desta semana. De uns sete anos pra cá, quando comecei a acompanhar mais de perto as notícias internacionais na internet, descobri o óbvio: afeta tanto a minha vida quanto o que um alienígena sonhou na noite passada em Marte. Caso eu some o tempo da net mais o tempo da tv, reforçamos a conclusão de que as notícias internacionais funcionam como um filme de comédia ou terror, ou um jogo de video game. Pra mim, não significa nada saber que 165 pessoas morreram por causa de uma tempestade de neve no Afeganistão. Embora eu imagine que um americano pularia da cadeira dando socos no ar e berrando: "morram malditos filhos de Bin Laden!" Claro que num mundo cada vez mais globalizado, o que acontece na China pode afetar uma empresa ou a economia de qualquer país no mundo. Mas não é a notícia de que Hu Jintao resolveu elevar a compra de ferro do Brasil que vai alterar o percurso de minha casa pro trabalho ou provocar qualquer outra mudança significativa na minha vida. É como se a internet fosse um terreno baldio na periferia da cidade onde o indivíduo vai e joga o que quer, quando o único propósito é apenas jogar. Virou brincadeira informar. Informar muito, o máximo que se pode, em vez de informar o que e como. É mais significativo pro brasileiro, creiam, saber que Beyonce declarou se sentir carioca do que ser informado de que o ministro da saúde da Venezuela resolveu renunciar. Pra mim, pouco importa se a Nasa está avaliando um ladrilho rachado na blindagem térmica e um anel de cerâmica solto no ônibus espacial Endeavour. Nesse constexo, seria mais interessante pra mim receber a notícia de que fui convidado para dar uma voltinha no ônibus espacial. Qualquer outra notícia, podem deletar.

9 de fevereiro de 2010

jegue

Quando eu era criança, um velho passava em frente de casa montado num jegue vendendo leite. O leite era barato e bom. E era divertido comprar leite de um velho montado num jegue. Hoje em dia, comprar leite de caixa ruim no supermercado não é divertido, nem saudável, nem barato. Não sei, mas o mundo industrializado, em que o homem consome o próprio homem, me traz sempre um sensação ruim de elo perdido, uma estranha tristeza bucólica de poeta barroco, uma vontade irracional de me transportar via internet ou satélite para a casa dos tios de Dorothy. Sim, Dorothy de o Mágico de Oz. Eu sempre quis voar naquela casa, desde que assisti pela primeira vez. Mas a realidade me diz que "we are not in Kansas any more". Sim, eu estou dentro de um supermercado em frente a uma tv de led e um tocador de blu ray. No trajeto rumo ao caixa, Beyonce na capa de uma revista. No Brasil, da janela do hotel, até parece um ser humano normal. Morena, cabelos encaracolados, barriguinha de fora...Acho que faltou o salto para parecer a mulher maravilha.
Eu tenho saudades do tempo em que assistia superman e rambo num tv 14" e acreditava na fantasia de hollywood. Eu tenho saudades de chacrinha, ou seja, do tempo em que um programa de auditório paralisava as famílias. O mundo mudou, ok. Hoje vivemos uma revolução na mídia. Só resta saber onde vamos depositar tanto lixo.

31 de janeiro de 2010

Adoecer nos ensina algumas coisas. Em oito dias de febre tive que repensar o tempo. Não há como recusar porque não temos opção. Quando estamos bem nunca temos tempo. O tempo que temos passa rápido e nunca teremos tempos de fazer aquilo que gostaríamos de um dia fazer na vida. Já quando não podemos fazer outra coisa além de esperar o tempo passar, como no caso da doença, entramos em sintonia com o ritmo e equilibrio da natureza. Descobrimos então que temos, sim, tempo suficiente para fazermos o que realmente é importante pra nós, desde que decidamos fazer.
Só a doença pra me lembrar esses dias que eu tinha tempo para, pelo menos, uma vez na semana contar uma estória pra minhas sobrinhas. Pra fazer algo concreto com minhas próprias mãos, como um barquinho com palitos de picolé. Para ouvir atentamente e olhando nos olhos o que minha sobrinha tinha a dizer sobre o dia que teve.
Era como se uma voz sábia sussurrasse ao meu ouvido dizendo para diminuir a velocidade dos ponteiros do relógio que funciona dentro de mim. Quando passamos rápido, podemos alcançar o objetivo em menos tempo, mas talvez as lembranças do caminho se tornem apenas borrões.

blue bird

Quase dois meses sem escrever, computador quebrado, oito dias doente, acesso restrito à internet, pergunto-me: "ainda há vida na Terra"?

blue bird
blue bird

se houver, que seja ao menos vida inteligente.