7 de setembro de 2008

Um centímetro por favor

Eu sempre achei ônibus uma entidade esquisita. Eu até devo ter achado natural em algumas ocasiões mas, simplesmente, porque o cérebro deixa de agir de forma consciente e crítica quando um comportamento se torna hábito. Primeiro o indivíduo vai pro ponto de ônibus e, após bastante tempo perdido esperando, tem que usar algo que não lhe pertence e que é dirigido por um ser totalmente desconhecido. Outras pessoas também esperam o mesmo veículo e tomarão o mesmo destino embora tenham destinos de vida totalmente diferentes. Quando o veículo chega, o sujeito tem que competir para entrar naquela brecha que todo mundo quer passar primeiro como se do outro lado houvesse um baú abarrotado de diamantes. Passada a fase do "farinha pouca, meu pirão primeiro", também conhecida como a fase do esmagamento em legítima defesa, chega o momento de pagar. Se faltar cinco centavos o cobrador olha com cara feia e é capaz de mandar o sujeito de volta à terra dos sobreviventes. O problema maior é quando o ônibus enche e aí fica todo mundo apertando todo mundo como se fosse uma suruba. Pessoas totalmente desconhecidas, que não têm nenhuma intimidade física nem espiritual umas com as outras, ficam ali se empurrando, se esfregando, se acotovelando. Eu não entendo como pessoas diferentes, com objetivos diferentes, com necessidades de distanciamento diferentes, com compatibilidades físicas diferentes, têm que ficar todas ali espremidas umas nas outras, formando uma só carne. No interior tudo bem. Todo mundo conhece todo mundo. Aí sim, dá pra aceitar algum nível de intimidade. Mas numa cidade grande, o indivíduo ter que ficar grudado no outro, às vezes horas de viagem, é realmente um desgaste psico-físico. Contato é bom, eu sei, eu gosto e é importante pro desenvolvimento psicológico e emocional dos seres vivos. Mas é realmente um saco ter que ficar junto na marra, numa intimidade que não tenho nem com minha cadela. Acho que é hora de repensar isso. Porque andar de ônibus cheio, em pé, é antes de qualquer coisa, um atentado ao direito essencial do homem de manter um mínimo de distância de tudo aquilo que ele sente vontade, desejo e necessidade de manter distância.

10 comentários:

Anônimo disse...

aha, já experimentou o metro na hora do rush? Se bobear e levantar o pé, para ajeitar o coitado, não tem mais como colocar no chão. E os suvacos? Levantou o braço, alguém encaixa bem embaixo. A intimidade é total, e ninguém liga no dia seguinte e nem te convidam antes para um cafezinho. rs

Anônimo disse...

É verdade, pelo menos um centímetro. E o custo dessa zebra é fogo... Pagar o olho da cara pra cheirar o bom suor do irmão dá vontade de chorar.
Teu texto tá super bacana.
Se tiver um tempinho, dê uma olhadinha no meu endereço, também.

Saudações literárias!

http://heloisarech.wordpress.com

Kenia Mello disse...

É uma droga ser pobre. Hehehe
Beijo.

taís disse...

entao nos restam duas opçoes: ser rico ou andar mesmo.
contato eh muito bom quando nao tem suor no meio! :B

Marco Aurelio Brasil disse...

Josue, passei boa parte da minha vida amaldiçoando os ônibus, mas aí olhei pros contos que eu tinha escrito e vi que boa parte deles se passa em coletivos e quejandos. É uma experiência desumana, mas é inspirador. Rá, o cúmulo do conformismo, né? Quanto ao teu comentário no meu blog, a parte do "escreva sempre" tá complicada. Obrigado pela visita, pelo comentário, parabéns pelas reflexões despejadas aqui e um abraço pra tua sobrinha.

jorginho da hora disse...

Meu velho, se tem alguem nesse mundo que odeia andar de ônibuss por esses motivos que vc colocou, sou eu. Andar de buzu é o fim!

Um abraço!

Márcio Daniel Ramos disse...

ninguem gosta de andar neste tipo de onibus. as pessoas andam porque precisam. mais aqui na minha cidade agente não passa por este proplema. a passagem é cara, ai menos pessoas usam. reflexão do cotidiano muito bem feita...

garota do jornal disse...

Que legal, o ônibus parou no ponto! Pode apostar que é bem pior quando não pára de tão lotado ou de sacanagem do motô.. putz!

Transporte público é o fim. E o que se faz para mudar? Quem pode compra um carro ou moto (esta última mto mais).

É o caos.

Homenzinho de Barba Mal feita disse...

Ótimo texto!!!
Em são Paulo eu passo por isso todos os dias, não aguento mais.
Porém. sofrimento maior é quem pega metrô, ai sim sofre!!!

Anônimo disse...

Amei seu ponto-de-vista. Rachei o bico. Um riso de nervoso, sabe? Que é diário.

Quer se candidatar à presidente do mundo? Eu voto em vc.

BJ
Lu