2 de junho de 2009

porque concordo, em fases


Algumas pessoas dizem que é um erro jogar a culpa toda no governo. Às vezes, concordo com isso. Na verdade, concordo em fases, dependendo do grau de alucinação ideológica. Nas fases em que esse grau é alto, considero que o esforço individual do cidadão contribui para um mundo melhor. Nas fases em que desfruto de sanidade, ou seja, quando lembro que não posso perder a noção de perigo, considero que toda a culpa, não só do mundo, mas de todo o universo, é realmente do governo. Uma das poucas vezes em que vi um político falar uma verdade, foi quando Lula foi eleito presidente, e Geraldo Alckmin, querendo fingir de simpático e socialmente responsável, disse que o Brasil chegara a um momento de repensar os graves problemas gerados ao longo da história por nossas elites políticas e econômicas. Não foram exatamente essas palavras. Mas o sentido foi esse.
Semanas atrás, num post sobre questões ambientais,
Aline se referiu ao "poder de decisão" que nós, mortais, geralmente não temos. Num videozinho americano que assisti agorinha, entitulado "the story of stuff" (a história das coisas) e que trata basicamente do ciclo econômico de produção, consumo e descarte, a moça simpática que apresenta o vídeo também falou em "poder de decisão". Quando estou alucinado, sinto que posso transformar o mundo com meu poder de decisão sobre questões do tipo 'se vou trabalhar a pé ou se pego aquele engarrafamento de buzu com direito a tv bus', ou 'se faço três refeições ao dia ou pago minha faculdade'. Em fases normais, tenho a leve impressão de que o poder de decisão do Estado faz com que eu exista a partir do governo, pelo governo e para o governo. Por mais simplório e ingênuo que possa parecer, reafirmo que o problema vem de lá de cima mesmo. Mas falo em governo num sentido amplo, como tudo aquilo que, de alguma forma, nos governa. Governo, como todas nossas instituições derrocráticas, sejam elas políticas, econômicas, governamentais, jurídicas, financeiras, etc. A meu ver, todas elas, na prática, reproduzem, a seu modo, esse mesmo poder de decisão do Estado, e acabam assumindo mesmo o papel de governo todas as vezes em que manifestam seu poder de agir sobre a sociedade regulando,controlando, restringindo, boicotando ou simplesmente atrapalhando as ações e atividades de indivíduos e grupos. Essas instituições que, ao longo da história de nosso país, construiram e preservam essa nossa estrutura social geradora de distorções.
Mas se amanhã eu pegar um cogumelo e fizer um suco, vou montar num jegue e ir para a beira do riacho mais próximo proclamar a segunda independência do Brasil.

4 comentários:

Lola disse...

praticamente um anarquismo, eu diria! =]
mas olhe, tbm tenho fases. na de hoje, tô pensando que o ser humano é complexo demais..e o GOVERNO é só um bando de humanos no comando. esperar deles pode ser catastrófico, por diversos ângulos. por hoje, prefiro só fazer a minha parte, sabe.
aquela história, se todos fizerem...

josue mendonca disse...

Lola, muitas vezes penso como voce,..na verdade, acho que na maioria das vezes..
com certeza, temos que fazer nossa parte...
o perigo que vejo é quando, ao encarar o ser humano como complexo e o governo como um bando de simples humanos, começarmos a imaginar que as coisas são difíceis demais para que eles resolvam..
será que são tão difíceis assim?

Lola disse...

tudo indica que são, né. na verdade, talvez a gente nunca entenda realmente o que acontece por lá, em Brasilia e etc. sem contar a questão de que temos no poder quem escolhemos. então concluo que a maioria das pessoas fariam o mesmo que eles lá no comando. no fundo, acham que eles fazem o certo: sempre tirando proveito pessoal de tudo. e qdo penso isso, aí me sinto uma estranha no ninho mesmo! será que vamos nos sobressair nessa massa? será que vão ouvir nossas vozes?

josue mendonca disse...

é..é uma sensação estranha mesmo..
uma sensação, as vezes de confusão e de impotência...
mas não podemos perder o ânimo de protesto e de crítica. de uma forma ou de outra, as coisas podem melhorar...