12 de junho de 2009

o espetáculo acabou


Coço minha barba três vezes tentando entender um pouco sobre o que se anda discutindo por aí à respeito da chamada revolução nos meios de comunicação. Diz-se que agora está por fim a era do ''eu digo vocês ouvem". Ou seja, esse modelo em que um punhado de órgãos de imprensa contam a estória do mundo e das coisas e guiam a opnião e visão da população, a partir de um ponto de vista restrito que é o seu próprio, está cedendo lugar à proliferação de diversos núcleos que fornecem, compartilham e debatem informação, representados por indivíduos ou grupos que manifestam assim sua própria interpretação sober os fatos. Seria ingênuo dizer que só agora, os indivíduos estão mais conscientes da necessidade de intervir na construção da informação ou do conhecimento midiático. Ao longo da história de nosso país, sempre tivemos núcleos de crítica e constestação, a exemplo do próprio movimento estudantil no período do regime militar. O que parece evidente hoje é a facilidade com que qualquer pessoa pode veicular sua opnião. Fala-se de uma "grande imprensa" que opera agora enfraquecida, desorientada, em conflito com esses núcleos/fontes de informação autônomos. Tem crescido a crítica a esses grandes orgãos de comunicação, que são acusados de serem manipuladores e tendenciosos. Recentemente a Folha veiculou um comercial, tal como uma contra-ofensiva. Em cada frase, percebemos claramente os aspectos críticos em torno dos quais gira todo o questionamento. Segue o texto:

"Quando você assina a Folha, você está assinando por um Brasil mais plural, moderno e democrático. Você assina embaixo pelo respeito às diferenças. Pelo respeito à liberdade e à divergência de opinião. Você diz sim às novas idéias. E à verdade acima de tudo. Assine. Sua assinatura faz a Folha ser cada vez mais a Folha".

O perigo de uma campanha feito essa, em que se destacam tantas qualidades, é justamente o do feitiço voltar contra o feitiçeiro e o Jornal ser visto mais ainda ludibriador. Está claro o embate. De um lado a grande imprensa, formadora de opnião massificada, integrada por jornalistas profissionais, com orgãos geralmente aliados a fortes centros de poder político e econômico. Do outro, indivíduos que sentem a necessidade de expor o que pensam e como pensam sobre a realidade que os cerca. Expor sua opnião, sua experiência, sua percepção, sua compreensão. Acho que o maior ganho é quando o indivíduo se dá conta de que pode construir conhecimento a partir de sua própria iniciativa, como sujeito ativo que coleta, analisa e interpreta informação. Os grandes órgãos falam de jornalismo profissional. A revista Veja, numa reportagem especial sobre a China, há uns 2 meses atrás, logo nas primeiras páginas, usava esse argumento para fazer frente ao conteúdo oferecido pelos blogs e outros meios afins. Acho que seria uma atitude medíocre desmerecer ou desacreditar o trabalho do jornalismo profissional. Mas, como já diz o velho ditado, dai a Cesar o que é de Cesar. Seria igualmente medíocre supor que o conhecimento confiável, articulado, robusto e inteligente sobre um fato qualquer, dependesse desse profissionalismo. Caros, existem milhões de brasileiros, eles possuem cérebros, são dotados de percepção, raciocínio, linguagem e capacidade de compreensão. Se existe algo, natural ou sobrenatural, que dificulte esse processo de análise e interpretação dos fatos, compreensão da realidade e construção de conhecimento independente dos grandes órgãos de comunicação, isso com certeza se deve mais a forças culturais do que à suposta incapacidade dos chamados amadores. E que forças culturais são esses que fornecem a ilusão de que o povo é um bando de cegos que precisa de uma entidade suprema que revele a verdade do mundo e das coisas?
Não tenho dúvidas de que a participação desses diversos núcleos na produção de conhecimento representa um ganho extraordinário na formação de uma sociedade mais próxima de si mesma e mais dona de seu próprio destino.

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