3 de março de 2010

os gregos e a informação

Era um tarde quarta feira, meio nublada, meio sufocante de calor. Foi quando resolvi listar aqui algumas das noticias que li nos últimos dias em alguns jornais online:

o terremoto no Chile deslocou o eixo da Terra, dizem cientistas da Naza.
EUA e Brasil têm visões diferentes sobre Irã
EUA descobrem que sofrem ataques cibernéticos originados em escolas chinesas
Petrobras adia licitação bilionária para obras no pré-sal
Google enfrenta censura na China
Cidade americana muda nome para Google
Canadá fica em primeiro lugar nas Jogos de Inverno de Vancouver
Dólar sofre alta após vários dias de queda
Sony anuncia falha no Playstation 3
FCC divulga que 93 milhões ou um terço dos americanos não tem conexão de internet de alta-velocidade em suas casas.
Google anuncia que vai testar em algums estados americanos conexão de internet com velocidade de 1 gigabyte por segundo!
Pesquisa revela que homens de q.i elevado são fiéis
Madona anuncia que quer comprar casa no Rio de Janeiro

Todas as vezes em que penso num conjunto de informações assim, meio ligadadas, meio disparatadas, lembro sempre daqueles que falam que é preciso "organizar o caos", ou pelo menos dá uma aparência de organização. Quando eu estava na faculdade, li uma vez que o papel do principal executivo de uma empresa era transmitir ao ambiente externo a imagem de estabilidade, coesão, organização. Ou seja, mesmo quando tudo estivesse uma bagunça infernal, as pessoas lá foram teriam que acreditar que tudo naquela empresa estava funcionando perfeitamente. Não existe, é claro, uma pessoa com o cargo de presidente do planeta terra, pra passar essa "imagem". Talvez, nem seja interesse de ninguém que houvesse uma pessoa pra essa finalidade, se admitirmos que o interesse é justamente o contrário: gerar o caos.
Alguns estudiosos já têm falado que vivemos na era da desinformação, justamente porque a informação em execesso, desconetada e fragmentada não gera no final nenhum conhecimento significativo, capaz de possibilitar uma compreensão mais ampla e sólida dos acontecimentos. Um estudo, se não me engado britânico (já citado em um outro post meu em alguma data que não estou com paciência e tempo pra procurar agora) falava que o cérebro demora algum tempo para formar um sentimento de moralidade. O problema é que devido à velocidade com que as informações são transmitidas, o indivíduo não teria tempo suficiente para formar esse tipo de sentimento. Exemplificando, se eu recebo a informação de que um adulto molestou sexualmente uma criança e, dois minutos após, já surge informações de que a Disney vai lançar um filme sobre o porquinho rosa perdido no pólo sul, a possibilidade de eu formar um sentimento moral duradouro é quase nula. Quando eu era adolescente o mundo parecia estático nos livros de história e geografia. Eram como paisagens eternas aquelas fotos da China, dos EUA dos Tigres Asiáticos. Era como se o mundo tivesse um sentido bem direcionado, pessoas definidas à frente desse processo e um público (por exemplo, os países de terceiro mundo). Atualmente, não só as mudanças econômicas, sociais e culturais ocorrem mais rápido, devido principalmente a questões tecnológicas, mas também, a velocidade das informações acabam contribuindo para que se crie uma sensação de um mundo mais revirado do que é de fato. Obviamente se tivermos tempo de pesquisar mais a fundo e juntar os pontos, formaremos um panorama mais coerente sobre uma dada realidade. Mas isso, pouco se faz. Pouco se encontra. A questão que me vem é: num mundo onde a informação tem um papel tão importante na construção da realidade social, como o conhecimento está sendo elaborado. Em outras palavras, perguntaremos à informação a mesma pergunta que os filósofos gregos faziam a respeito de si mesmos: "de onde vem, o que é e pra onde vai."

2 comentários:

Chantinon disse...

Adorei esse texto.
Entrei aqui no seu blog a umas 2 semanas... Mas hoje parei e li, já que vi um comentário seu de um bom tempo atrás, e debatemos sobre música de cunho pejorativo e amoral.

Essa desinformação do mundo de tanta informação também me assusta.

Não é querendo ser bairrista ou criar polêmica, já que nunca irei defender os erros do meu estado, Pernambuco. Mas a Bahia e o Ceará são lugares muito estranhos para mim. Na verdade, com a massificação eu passei a notar que as diferenças culturais entre estados não só permanece, como piora...

explico:
O Piauí por exemplo, sofre com os baixos índices de educação e pobreza, e os meios de comunicação tendem a nivelar por baixo (muito baixo) toda e qualquer notícia.
E se vc se monstra contra isso, você é mal visto e começa a criar inimigos ou na melhor das hipóteses sem mal visto.

Ontem eu parei para pensar como deve ser a vida de um apresentador de TV como o Fausto Silva. Ela interpreta um personagem. Não fala o que realmente pensa. É um emprego, um maldito emprego.
Me lembro que ele a alguns anos fez uma critica severa ao Big Brother, e como castigo a emissora nos programas seguintes o "obrigou" a só falar de BBB.

Nunca fui moralista, pudico ou contra a cultura popular. Mas até os letrados hoje em dia misturam as coisas. Falamos tanto em igualdade social, liberdade e anti-racismo, anti-xenofobia... mas se vc diverge do status quo do mundo atual você é jogado na foqueira. E eu acho isso tudo muito bem pensado e articulado por gente que aparece na foto como "bom exemplo".

No Ceará drogas e sexo se tornaram algo tão aberto, que parece que estamos assistindo um seriado de tv como Miami Vice, só que os personagens não são traficantes e prostitutas e sim pessoas comuns.

O Rio Grande do Norte que faz fronteira com o CE, e é um estado cuja a capital tem uma população formada por pessoas oriundas de outros estados, além de ter crescido sendo uma base militar americana, está trocando sua cultura de pluralidade pelo estilo de vida cearense, onde beber até cair e regra.

O que socialmente existe de idêntico no CE, PE e BA, é a cultura do orgulho pela terra. Incrível como os políticos sabem manipular isso. São 3 povos que são orgulhosos e bairristas... Eu fico me perguntando que orgulho é esse?
As 3 capitais mais populosas do NE estão cada dia mais parecidas, como se fossem vizinhas, mas é um nivelamento por baixo. Uma pena, já que cada uma tem seus pontos positivos, e esses estão evaporando.

Daniel Caetano disse...

Josué,
Perfeita a análise. Eu sinto exatamente o mesmo e volta e meia me debato com a idéia de disponibilizar tanta informação para as crianças, por exemplo.
A imagem que me vem à cabeça é sempre essa: Qual criança tem mais chance de ler um livro: aquela à qual você entrega um único livro com um assunto que você sabe ser próximo do interesse dela... ou uma criança que é jogada em uma biblioteca sem nem mesmo saber o que é um livro?

Vez ou outra me pergunto se esse caos é uma consequencia natural ou se ele é provocado.

Abraço!