25 de maio de 2009

vomito, logo penso


Fui na Saraiva esse fim de semana. A Saraiva é um daqueles espaços que funcionam como uma porta para outra dimensão: toda vez que um indivíduo que mora abaixo da linha do equador entra, tem uma leve sensação de que adentrou no mundo dos seres civilizados e fisoloficamente iluminados. É uma sensação de incorporação de algum nível intelectual mais elevado. Não que no Brasil, no nordeste ou na Bahia não existam seres iluminados. O fato é que, independente disso, a sensação é a mesma, porque o contraste é entre os dois ambientes, e não entre o indivíduo e o ambiente.

Entrei e dei aquela típica voltinha. Folheei aqui, folheei ali, na esperança de encontrar alguma novidade super fantástica. Existem algumas espécies curiosas de livros. Existem aqueles que parecem pular à sua frente gritando: "eu não valho nada, mas estou na promoção". Outros, dizem: "ei, psiu, olha só aqui atrás quem recomendou.." Já outros, não precisam dizer nada, o que vale é qualquer elemento estético ou se ele mexeu com você. Existem os simpáticos. Mas você olha, olha, olha e quando encontra uma mensagem com a qual gostaria de se iludir, você se lembra que já ouviu aquilo em algum momento de sua infância. Particularmente, acho que o pior de todos é aquele livro que para, olha pra mim e me pergunta num tom de desânimo e conflito: "por que eu virei um livro?", e eu me sinto pior ainda por não encontrar uma resposta.

Após conseguir superar todos esses percalços, cheguei à seção que queria. Sem direito à legítima defesa, dei de cara com o livro "o culto do amador", que havia conhecido um dia antes no blog de Marcos Donizette. Curioso para ver se Donizette havia lascado o pau no doido certo, comecei a folhear o livro. Sem querer, cheguei a um capítulo que falava que a prática de manipular músicas pela internet, violando assim os direitos autorais, estava destruindo nossa cultura, baseada nos valores da tradição judaico-cristã. O capítulo começa com a referência ao mandamento: "não furtarás". Isso foi o suficiente para que eu já começasse a sentir uma ânsia de vômito. Acho que as livrarias deveriam, além de bancos e sofás, disponibilizar recipientes em cada corredor para situações de vômito de gênese intelectual. Não tive coragem de ler mais nenhuma página. Fui apenas na orelha do livro para identificar a cara do escritor. O padrão conferia: cara de aloprado. É preciso manter um registro mental de certas fisionomias, porque servem como um critério a mais para decidirmos sobre que tipo de livro nos arriscaremos a ler. Coloquei-o de volta na estante e fiquei imaginando o que mais me doía. Se era o preço que um leitor ingênuo iria pagar pelo lixo reciclado, ou seu prejuízo mental. De frente para o livro, era a minha vez de me perguntar: como eu havia virado um leitor?

2 comentários:

Fábio disse...

O visual dos livros às vezes fala muito sobre ele. Evidentemente, quando um livro vira filme, a capa muda e se torna o cartaz promicional do filme. Lógico que isso não desmerece o livro, mas evito comprar com essas capas, procuro outra.

Um bom exemplo disso está em um livro de contos do F. Scott Fitzgerald (autor sensacional). Entre os contos está "A curiosa história de Benjamin Button". Encontrei duas edições diferentes desse livro. A primeira, intitulada apenas "Contos" e outra chamada "O Curioso Caso de Benjamin Button e outros contos". Límpido como água.

josue mendonca disse...

é Fábio,
e tem livro que muda tanto de capa que fica difícil até de reconhecer que é o mesmo livro!

falando em elemento estético, já encontrei livros excelentes com capas fajutas...