6 de maio de 2009

Raul e a formiga azul


Não sei se Raul Seixas era macumbeiro ou profeta. Mas sua idéia marginal de que preferia ser uma metamorfose ambulante do que ter aquela velha...(todo mundo já sabe) tomou corpo, ou melhor, tomou os corpos na sociedade contemporânea. Hoje todo mundo é ou virá a ser, em curto espaço de tempo, um clone de Raul. Não sei, exatamente, se por influência espiritual dele, ou se por força da gripe suína altamente competitiva e globalizada. O fato é que as pessoas não têm mais aquela velha opnião formada sobre tudo feito tinha o pessoal de, sei lá, vinte, trinta anos atrás. Naquele tempo, era importante pensar de forma única e velha por amor à pátria. É claro que ainda existem no Brasil velhas opniões medievais formadas sobre absolutamente tudo, principalmente, aquelas oriundas de nossos respeitáveis cérebros políticos. Essa semana, por exemplo, o governador de São Paulo apontou o dedo para os professores, dizendo que eles tinham grande parcela de culpa pela mediocridade do ensino público no estado. Segundo ele, "as faculdades de pedagogia falham na formação de docentes". Chegou a profeir a frase-punhalada: ''onde menos se avançou foi no aprendizado". Neste caso, temos a velha opnião de que a culpa é da sociedade, omitindo a negligência e incompetência das autoridades políticas. O engraçado é o duplo paradoxo: as coisas novas que não se permitem ficar velhas e as coisas velhas que se tornam novas.

O novo que não envelhece é tudo aquilo que pipoca à nossa frente todo santo dia (idéias, comportamentos, manias, conhecimentos, idiotices, métodos revolucionários, tecnologias, valores, crendices, enfim, tudo que representa um 'jeito diferente' de fazer ou pensar) que agente faz o download, visualiza e depois joga na lixeira. Se usarmos uma metáfora, podemos dizer que a mente do homem contemporâneo se transformou num personal computer. Rola de tudo e você tem que sempre atualizar. O que não for pra lixeira, não precisa se preocupar. Depois vem um vírus e apaga tudo.

Já as coisas velhas que se tornam novas diz respeito à arte e ciência de misturar, basicamente, três práticas humanas: a arqueologia, a estética e o marketing. O arqueológo trata da tarefa indispensável de ressuscitar a múmia. A estética vai jogar um pó, um lápis e um batom e o marketing vai jurar que não se trata de uma múmia, e sim de uma deusa grega. É assim com tudo. O problema é antigo, a coisa funciona do mesmo jeito, a estrutura é a mesma, a mentalidade não mudou, a coisa vai parar no mesmo buraco, mas, após um sopro mágico, começamos a ver tudo diferente e se torna possível, até mesmo, acreditarmos estar vendo uma formiga azul quando na verdade estamos diante de um elefante branco.

Eu até me conformo em ser uma metamorfose ambulante. Mas querer que eu acredite na formigaq azul, aí já é demais!

6 comentários:

Fábio Mendes disse...

Ótimo texto. Mas acho que você resumiu tudo na frase: "O que não for pra lixeira, não precisa se preocupar. Depois vem um vírus e apaga tudo". Abraços!!!

taís disse...

Eu me sinto uma metamorfose ambulante, acelerada ainda! hahaha
Ótimo texto, como sempre =)

Gabi disse...

Eu acredito em papai noel, coelhinho da pascoa e em um mundo melhor!! Amei o texto...parabéns...

Michel Rossi disse...

Josué: eu jamais conheci um último desejo tão bom como o seu!!! Parabens!!
Se eu puder ajudar, me avisa assim, a quais representantes eu devo levar tuas cinzas poéticas: federais são mais dificeis...pode ser um edilzinho mesmo??

Grande abraço!! (Ri bastante, mas sei q é sério)

Michel Rossi

Suzana Elvas disse...

Rapaz, você bora a mão no fogo por mim!
Tô emocionada. Olhinhos rasos d'água e tudo.
:op

josue mendonca disse...

ok Michel, vc está a partir de agora incumbido dessa tarefa..
espalha o máximo que puder, ok??
abraço


Suzana: boto sim. como havia falado lá, gostei bastante por aqueles motivos....
abraço