4 de novembro de 2009

a diferença

Descobri que uma das principais diferenças entre eu, 29, e minha prima,13, é que ela adota duas maneiras práticas de resolver qualquer conflito. Uma é dizendo "sei lá". A outra é justificar qualquer atitude com o "estava a fim". São duas maneiras práticas de relaxar o cérebro e sentir o gostinho da adolescência rebelde. Se um adulto toma uma decisão irresponsável, geralmente vai desenvolver uma teoria científica e reunir argumentos dos mais diversos ramos do conhecimento para que, de posse de uma concepção holística à beira do transcendental, cujas raízes se encontram nas mais profundas teorias psicológicas behavioristas, cognitivas e evolucionistas, apresente uma justificava razoável. Se o adolescente desconstrói o mundo em sete dias, vai apenas dizer que fez porque estava a fim. Mas se engana quem pensa que esse argumento é inconsistente. Na verdade é um dos mais complexos. Funciona como aqueles provébios chineses do tipo "a água sustenta o barco. a mesma água afunda o barco". Ou um lição cristã, do tipo: " o homem colhe o que planta". Ou seja, são apenas algumas palavras mas que guardam alguma sabedoria . Agente sabe, sempre ouviu, mas morre e não aprende. Quando um adolescente diz que fez porque estava a fim ele não está negando sua capacidade de raciocinar e de apresentar argumentos coerentes e sólidos. Ele não está alienado de seus próprios motivos. Ele não está incapacitado de associar pensamento, sentimento, comportamento, causa e efeito no universo. Mas é verdade também que o adolescente, como o próprio adulto não tem consciência do motivo de todas suas ações. Ele responde que estava a fim por duas razões: 1. desinteresse em filosofar. 2. capacidade extraordinária de sintetizar. No momento em que o adolescente percebe que as causas para aquele determinado comportamento são as mais diversas (família, religião, genética, impulsos inconscientes, novelas, professor, amigos, a lua, internet, namorado(a), cotação do dólar, conflitos na faixa de Gaza, globalização, guerra de traficantes no Rio, desemprego, Twitter, comportamento das celebridades, destino, entre outros) ele simplesmente e, inteligentemente, se poupa de uma desnecessária e penosa elucubração filosófica que, por fim, só lhe causaria desgaste mental além de não garantir a devida absolvição. Tomando um caminho mais prático e sensato, o adolescente simplesmente sintetiza com um "tava a fim". Esse tava a fim, como o provérbio chinês, não é vazio, por ser curto. Ao contário, possui um significado complexo e profundo, justamente por abranger aquele conjunto de eventos que influenciam o comportamento. A diferença é que nessa situação, a outra pessoa é que tem que se dá ao trabalho de compreender.
'Sei lá" também é gostoso de se pronunciar. Experimente. Da próxima vez que seu chefe lhe perguntar porque ele deveria acatar a sua sugestão de demitir 50% do pessoal e investir naquela tecnologia que custará 50 bilhões de dólares, você responde com um simples "sei lá". Vale para a sogra, para o cônjuge, pro vizinho chato, ou para aquela pessoa que é a autoridade máxima em sua vida. Afinal, não somos a wikipédia para saber de tudo nem um transação bancária para ser on-line. A atitude do adolescente de dizer "sei lá" não significa burrice, demência, autismo nem DDA (distúrbio do déficit de atenção). É apenas uma forma de manifestar o que realmente somos, seres humanos, e não o banco de dados da Receita Federal.

3 comentários:

Anônimo disse...

manera um pouco na marijuana amigão...ela está afetando seu cérebro...rsrsrs

Lê Stabiili disse...

rsrsrsrs!!!
Muito bom!!!
Vou confessar a vc, que eu quase sempre digo sei lá...porém o medo me faz falar, falar, e realmente criar uma teoria para justificar as coisas!!!
kkkkkkkkkkkkkkkkk

Ahhhh como nós seres humanos somos demais..adoro!!!


Atualizei meu blog, passe lá!!!

Abração!!!

Lola disse...

Ah Josué. Não tenho palavras. Eu tenho um interesse absurdo por adolescenctes, sabe. Amo observá-los, talvez já tenha comentado com vc ou mesmo escrito no meu blog.
Incrível tudo que vc disse. De cabo a rabo, tão real. Adorei mto.

E qdo passar pelo meu, não se assuste. Não sei até agora o que aconteceu! Parece que entrou em alguma lista aleatória do Blogger e, portanto, ganhei uns seguidores.
ô ferramenta maluca essa internet.

beijo!