30 de julho de 2008

é velha mais eu gosto

Quando minhas irmãs abriam o guarda-roupas e diziam à minha mãe que não tinham roupa pra sair, quando aquele móvel sagrado estava justamente abarrotado de roupas, minha mãe ficava furiosa. Elas discutiam e no final, ou não saiam, ou saiam sem graça, deprimidas ou revoltadas. Foi a partir de conflitos dessa natureza que eu comecei a me interessar sobre a sensível e complexa relação entre o corpo e a roupa, ou seja, entre o ser humano de todos os tamanhos, pesos e formas e aquilo que lhe veste, e me dediquei durante anos a um extenso estudo, pesquisando em milhares de fontes das mais diversas e incompreensíveis línguas, no intuito de desvendar e explicar os mistérios, prazeres e contradições que constituem essa relação.

Feitas as devidas análises, cheguei à conclusão de que a roupa integra a própria personalidade humana. Nem mesmo Freud ou Jung tiveram a ousadia de supor isso. Não estou dizendo que as roupas têm personalidade própria. Isso seria uma suposição rasa, óbvia. Uma pré-adolescente qualquer saberia disso. Se tiver uma cara de Michey ou Superman, mais fácil ainda. Minha suposição é a de que o homem moderno, ou a moda vigente, fez com que a roupa na verdade passasse a integrar a própria personalidade do indivíduo. Ou seja, sem roupa e, principalmente, no contexto social, o homem estaria desprovido, em alguma medida, daquilo que pensa ser sua própria personalidade. Esse grau de dependência, evidentemente, vai variar de indivíduo para indivíduo, de modo que, para alguns, a roupa que está usando quase não afeta seu comportamento social, enquanto que para outros, passar uma semana inteira vestindo uma camisa básica branca, ou qualquer outro tipo de roupa que não expresse o conteúdo simbólico desejado, seria um verdadeiro sacrifício sem recompensa alguma.

É interessante também levar em conta outros aspectos igualmente importantes, antes de julgarmos a atitude de uma pessoa diante do seu guarda-roupas.
Podemos admitir tranqüilamente que a roupa também pode reforçar ou reprimir a expressão da personalidade, como também criar ou anular a figura social do indivíduo. Ou seja, uma determinada roupa pode ser a peça fundamental para reforçar aquele traço de personalidade que o indivíduo deseja demonstrar naquele momento, como também pode servir como uma verdadeira burca, obscurecendo tal personalidade. É evidente também, que o indivíduo pode fazer uso de uma roupa para projetar uma imagem social, muito ou totalmente diferente daquela que costuma projetar.

Além dessa relação com a personalidade e com a figura social, sabemos que roupa ainda desempenha um outro papel, a de exprimir estados de espírito. Se você está com raiva de seu patrão, por exemplo, pode ir para o trabalho com uma camisa preta estampada com a cara singela de uma caveira. Aqui, já podemos falar de uma outra função da roupa, que é conseqüência direta daquela, ou seja, no intuito de exprimir um estado de ânimo, o sujeito usa a roupa como instrumento de comunicação social. Mais importante do que o computador e o celular, com a roupa o sujeito imediatamente comunica, a quem está ao seu redor, informações essenciais como: quem ele é (culturalmente, financeiramente, socialmente, espiritualmente), o que quer(paquerar, assustar, humilhar, rezar, cometer um ataque terrorista), como quer (apelando, mandando, subornando, chantagiando), por exemplo.
Se com a roupa o indivíduo comunica ao mundo quem é, de onde veio, pra onde vai e, de quebra, como vai, está resolvido não só o seu problema pessoal, como também a questão fundamental da filosofia universal.

Da próxima vez que alguém do seu lado, abrir o sacrossanto guarda-roupas e, num ato involuntário, franzir a testa numa expressão de angústia, lembre-se de que se esta pessoa não comprar uma roupa que satisfaça seu vazio psíquico e existencial nos próximos dias, poderá entrar em parafuso. Logo, não custa nada dar uma mãozinha.


3 comentários:

Paulo Bono disse...

cara, gordos vestem o que dá.

abraço

Lê Stabiili disse...

Poxa....
realmente gostei de seu texto..
Eu sou uma das poucas mulheres que conheço(sem sacanagem viu)...que não liga pra roupa...pra mim o que vier tá bom...compro roupas uma vez na vida outra na morte e só compro de marcas populares e baratas..rsrsrsr....
Mas isso pouco importa tbm...e realmente é um fato a roupa faz parte da personalidade da gente,algumas pessoas deixam isso em evidência,outras não...


Muito legal seu blog....vou passar sempre por aqui!!!

Um grande abraço!!!boa noite!

Lê Stabiili disse...

Poxa.....obrigada pelo comentário e pelo toque(sobre o fundo)...rsrs
Eu sou meio lesada pra essa parte de "configurações"...mas vou aprender...sempre tem o que melhorar!!!
Gostei mesmo de sua visita!!!

Qto ao seu novo texto...que bacana,isso...agora estou curiosa pra ler...e se vai ter dedicatória a mim,fico intensamente feliz!!!Obrigada mesmo,certeza que será um belo texto!!!

Sucesso sempre pra vc tbm!!!
Um grande abraço e boa noite!!!!