3 de agosto de 2011

o velho Pedro

O velho Pedro encostou-se na mureta que dava para o mar. Todo fim de tarde o homem ia para o mesmo lugar, tirava o saco de amendoins do bolso e ia mastigando lentamente um por um enquanto divagava o olhar cansado sobre as águas que escureciam. Podia-se dizer que era um ato religioso. Toda tarde, naquele horário, daquele jeito, com seus inseparáveis amendoins, ele estaria lá, a dedicar o resto de tempo de vida ao entardecer. Nada tirava a concentração de seu Pedro. Um cotovelo escorado no muro e uma mão que soltava o amendoim torrado na boca. O sol, como sempre, parecia sempre mergulhar na água. Era como se a água, aquela em que ele podia tocar, por fim, conseguisse derrotar todo o fogo e calor do sol. O mar, que tudo engole, não deixaria escapar nem aquele astro celestial de tanto esplendor. Na manhã seguinte, como por um milagre, ele tornaria a subir aos céus. Para isso, o velho Pedro não tinha explicação. Nem no tabuleiro de dominó se atrevia a arriscar um palpite. Também não se importava com isso. Para ele, o importante era mesmo ver o mar engolindo por inteiro aquela bolota de fogo. Esse momento supremo do mar, ele não perdia por nada. Pescador a vida inteira, nunca tinha ido à cidade grande. Aprendera sempre a respeitar o mar. Era quase uma idolatria. Algumas pessoas tentavam explicar aquele fenômeno para o velho Pedro. Mas ele não dava importância. Queria mesmo era acreditar que o mar engolia o sol, e o levava lá pra profundezas onde vivem os peixes grandes. Não conseguia entender muito bem a figura de um sol molhado, encharcado. Mas se o fiado na bodega se seu Antônio tinha lá seus mistérios, não era de se espantar que o mar, esse mundaréu de água todo, os tivesse também. E mistério de mar era pra ser respeitado e muito, no limite de suas proporções. Quando a vida lhe roubasse o último suspiro, o velho queria ser jogado ao mar. Imaginava que em algum momento e em algum lugar, poderia, por algum outro milagre, ter um encontro especial com o sol lá embaixo, onde homem nenhum jamais foi.

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