17 de maio de 2007

Pé de galinha, don't!

Eu lia aqueles livros gigantes de história do segundo grau na sala de aula sobre a Revolução Russa e sentia vontade de implantar aqui no Brasil (quando crescesse) um socialismo que desse certo, totalmente diferente daquele corrompido por Stalin e seu ninho de cobras. Distribuir melhor as riquezas, não permitindo que nenhum brasileiro tivesse que sofrer a humilhação de passar fome. Fornecer, através de um Estado de bem estar social, saúde, educação, moradia, emprego para todos os cidadãos brasileiros sem exceção. Enfim, acabar com esse sistema concentrador-excludente de que tanto minha professora de geografia falava. Não é justo que 99,99 (noventa e nove, VÍRGULA, noventa e nove por cento) da riqueza nacional fique nas mãos e nas contas bancárias de 0,01% (zero, VÍRGULA, zero um por cento) da população brasileira (casta superior), enquanto todo o resto é submetido a se contentar com migalhas. Eu sabia que Marx estava certo. Ele era genuinamente de esquerda, tinha uma visão social e plena consciência de todos os malefícios gerados pela construção de uma sociedade industrial. Só não havia existido até aquele momento alguém que soubesse interpretar O Capital e implementar de maneira correta seus princípios. Se eu me candidatasse a presidente e fosse eleito, com certeza faria isso, para o bem geral da nação e para compensar minhas horas perdidas sentado num banco duro de escola municipal, à noite, assistindo aulas de história com uma professora fã de Cazuza, a qual não tinha coragem política suficiente para formular uma ideologia pra viver, limpar a piscina cheia de ratos, corresponder idéias aos fatos e expulsar os inimigos do poder. No meu peito de estudante secundarista, nordestino pobre do interior de Pernambuco, ardia esse desejo, deveras nobre, de realizar uma verdadeira, consciente, histórica e definitiva revolução em nosso país. Quatrocentos anos de escravidão já era o suficiente de exploração humana nessa nossa pátria amada, idolatrada, salve, salve. Seria preciso reformular toda estrutura de poder e modo de produção e distribuição de riquezas. Para Aristóteles, por exemplo, uma sociedade justa seria aquela que distribuísse sua riqueza na mesma medida para todos os cidadãos. Tal medida já seria, talvez, um bom começo. Mas passaram-se alguns anos e eu não virei presidente da República nem líder revolucionário, embora ainda sinta impulsos de fervor revolucionário quando me deparo com a cara de Che estampada em camisas pretas. É verdade também que toda vez que lembro das barbas de Fidel e de Che desafiando o império americano, acuados naquela ilhota, querendo reinventar o mundo, sinto vontade de pertencer àquela época em que os jovens lutavam por ideais nacionais e expressavam sua indignação contra todas as formas de opressão. Hoje, infelizmente, não pretendo mais derrubar o governo nem implantar a ditadura do proletariado. Mas a realidade social ainda me incomoda profundamente (não sei se pelo fato de eu estar do lado dos desfavorecidos). Ver tanta gente marginalizada do mercado de trabalho, morando em condições precárias, crianças passando fome, idosos tendo que sobreviver com um salário mínimo, tanta miséria e violência por esse Brasil a fora, me faz refletir sobre que tipo de sociedade construímos a cada dia que passa. E parece que temos que nos conformar com esse mercado cada vez mais neo-liberal onde cresce e se impõe o poder do capital sobre o cidadão, um Estado cada vez mais mínimo na sua função social - embora máximo em tributação -tantos escândalos de corrupção, tanta gente sem condições mínimas de usufruir de uma assistência médica digna de ser humano, quando todos pagam impostos. De fato, o capitalismo forçou o homem a fixar os olhos exclusivamente no lucro, e a submeter todo o resto, todos os recursos que se possa imaginar, à pura exploração. O resultado de nossa escolha, hoje, é uma elite soberba, uma classe média enfraquecida a cada dia, e milhões de brasileiros abaixo da linha da pobreza. Se existe algum caminho para diminuir essa desigualdade, nunca será o da retórica, do populismo, da hipocrisia, da conversa pra boi dormir. Não precisamos de nenhum Chavez por aqui. Se o capitalismo vai levar o mundo ao colapso como alguns defendem, precisamos desenvolver cada vez mais mecanismos de combate, sejam eles de reforma ou mesmo de revolução.

5 comentários:

Roberto L. disse...

Belo texto. O modelo atual está desatualizado faz tempo. Ontem mesmo eu estava falando sobre isso. Hora de mudar tudo.

Anônimo disse...

olá! passando pra desejar bom fds!

Lari Bohnenberger disse...

Adorei o texto! Adorei o blog!
Parabéns!
Bjs!

Kandy disse...

É triste essa realidade. É dolorido ver injustiça e desigualdade. Mas, para haver revolução, é preciso mobilização, é necessário conscientização, algo que a maioria das pessoas ainda não tem e muitas delas nem querem ter. A alienação tem tomado conta de tudo. E é isso: o caos.

Lilian Ganzerla Cardoso disse...

Socialismo Libertário, a autogestão e a diferença, acredito nele - mas é tão difícil acreditar numa mudança.
Mas a Luta continua sempre...