12 de maio de 2010

ponto

os pontos não me dizem nada. . . . . . . . . nem as virgulas,

porque não sabem a fronteira dos pensamentos.
ignoram a fluidez dos sentimentos.
não conhecem a liberdade
se poesia é alma, imaginai vós tamanha agressão a de um ponto na alma!

sem final

e era assim, como se ela estivesse no centro daquela roda de crianças.
e as crianças iam girando, girando
giravam.
no final, não havia final porque elas continuavam girando.
cores confusas no céu. nuvens pálidas
sempre girando
cores confusas girando

e quando

E quando ela se retirou, estranho silêncio, estranha dor, tudo foi ao chão.

quando não havia mais chão

7 de maio de 2010

poesia

Eram tantas coisas
Mas quando ela perguntou, ele apenas resumiu com o nome de poesia

esquina

juliana olhava pela janela

casas e casas, cores e cores
o vento passava veloz e assanhava seus finos cabelos
era uma tarde fria de outono. - o sol não ardia -, apenas iluminava ainda mais o rosto risonho da menina
e sempre gostava de viajar assim, olhando pela janela
homens, mulheres, crianças...era engraçado ver tudo passando tão rápido.
na parada do ônibus, um cachorro vei correndo e ficou latindo na janela da menina
quando o ônibus partiu, ele saiu perseguindo
Juliana balançou a mão num sinal de adeus
o ônibus dobrou a esquina e Juliana continuava olhando pela janela

mistério

chamou a menina e tentava explicar para ela a distância dos astros

mas juliana, quatro anos, olhos negros e redondos, se perdia no brilho das estrelas, no mistério do céu escuro

6 de maio de 2010

infância

quando acabar, você pega do outro lado da rua, na casa de dona Maria, a velha do leite.
menino, pés descalços, sobe ladeira correndo.

vento no peito, céu azul

dona maria - gritou o pequeno. Minha mãe mandou pegar uma lata d'água - continuou.
Alia atrás menino, no quintal, detrás daquele pé de capim santo, pode pegar - orientou a velha.
Lá vem Limão, pés descalos, ladeira abaixo.
Aqui mãe, tava pesado.
Ô menino frouxo - provocou a mãe.
Na rua, Limão chuta a bola e quase arranca a cabeça do dedo.

não respondeu

tela
com sono olhando para o monitor
brilho fosco -----------meia noite, faltam 2 minutos,,,
sono no monitor
quarto escuro
do lado de fora , um poste em silêncio
boa noite - disse a janela à rua
quieta, a rua não respondeu.

4 de maio de 2010

palavras

aprumou-se no batente e disse:
não fale com as crianças com palavras duras.
e o rapaz então se lembrou de um versículo Bíblico:
"a vida e a morte estão no poder da língua..."
Enquanto isso, Maria Clara dormia um sono infantil.

triunfo

Era final de tarde e um vento frio escorregava entre os corpos.
Na praça do Campo Grande as árvores são frondosas, grandes, imponentes feito os prédios e casarões que as cercam. Há uma miserabilidade que convive com o luxo naquele lugar. Tudo é indecifrável. Pessoas bonitas em carros importados passam por ali enquanto velhos e mendigos compartilham generosamente bancos e chão da praça. Há um peso ali. Uma melancolia, um desalento, uma feiúra.
Eu sentei por algum momento em um daqueles bancos. Junto ao meu pé esquerdo, uma folha seca e amarelada de outono flutuava sobre uma pequena poça d’água. Um senhor, ao meu lado, lia um jornal amassado. O menino continuava olhando pra cima enquanto o outro tentava sugar o leite que a natureza se encarregava de suprir. Ali tudo é lento. Há um clamor ali. Um clamor de gente miserável que acorda, sobrevive e dorme ali. Uma solidão. Um desamparo.
Começou a chover. Um chuvisco fino e fraco, que deslizava pelas folhas, pelo vidro dos carros, e deixava a calçada brilhando feito as estrelas que mais tarde surgiriam. O céu foi escurecendo. Nuvens iam ficando cada vez mais densas e escuras como que se harmonizando com toda aquela apatia. Um cachorro vira lata latia no meio do asfalto molhado e os carros começaram a buzinar, uma após o outro, impacientes, apressados. A luz vermelha do semáforo agora reluzia com mais intensidade diante da noite que caia. Fui embora.
No caminho, lembrava dos olhos daquele povo que são sempre olhos que pedem. Sempre um olhar de quem carece de algo.

Aquelas crianças de dois ou três anos correndo nuas naquele frio. Aquelas mulheres jogadas no chão.

Aquele fedor, aquela imundície.
Ecoava ainda em meus ouvidos a gargalhada de alguns homens que bebiam e jogavam dominó.
Uma gargalhada solta, ressoante, que no fundo desdenhava das mazelas da vida e comemorava o triunfo de estarem vivos.
.
trecho de um texto meu escrito há um tempinho

resto

e se hoje fosse nosso último dia, o que me diria? - perguntou o rapaz.

diria que o importante é ter paz interior. O resto é resto - respondeu a moça de cabelos loiros.

2 de maio de 2010

azul

sentou-se e com dois goles tomou o resto da garapa

na cozinha

pobre velha
pela penunbra via o globo terrestre sobre a mesa da sala
e imaginava nuvens brancas cobrindo a bola azul