Lá vem Zé, tombando prum lado, tombando pro outro. Caindo pra aqui, caindo pra ali.
Lá vem Zé, perdeu o caminho, seu pé tem espinho, perdeu a cabeça, nem é João Batista.
Lá vem Zé, ainda é cedo, luz calma nas costas, respira cachaça.
Lá vem Zé, chutando a lata, o dedo cortado, bermuda encardida.
Lá vem Zé, cabelo assanhado, soluço e tropeço, conversa sozinho.
Lá vem Zé, artista da vida, coloca no bolso o mundo e os sonhos.
Zé pende prum lado, Zé pendo pro outro.
Lá vem Zé, subindo a ladeira, abraça o poste, a rua tá turva, lá vem Gabriela.
Lá vem Zé, sem camisa, sem calça, sem chinelo, sem alça, só soluço, topada.
Lá vem Zé, esqueceu da mulher, o dia tá triste, vamo tomá uma!
Lá vem Zé, não sobe a ladeira, namora com a mosca, levanta o dedo.
Lá vem Zé, faz um discurso, olha pro alto, soluça, se encurva, tropeça.
Lá vem Zé, parece uma cobra, pra lá e pra cá, e ri pras paredes, entende de tudo.
Lá vem Zé, a mão calejada, uma vida sofrida, hoje tem feijão, café acabou.
Lá vem Zé, arroto, tropeço, soluço.
O mundo girou.
Formigas vermelhas
4 de setembro de 2010
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