30 de junho de 2009

Momento twitter


O povo fica inventando coisa pra gente ter que aprender.
Eu só sei apertar o play do controle remoto.
Menino, a idade chegou, não tenho mais paciência pra isso.

28 de junho de 2009

very beautiful

homenagem realizada por 1.500 detentos do Centro de Detenção e Reabilitação da Província de Cebu, Filipinas, "in memory of Michael Jackson".

27 de junho de 2009

só um pouquinho...


amanhã vou levantar cedo para consertar o mundo.

25 de junho de 2009

do coração


Quando cheguei em casa, vim logo pro micro e acessei meu email no yahoo. A primera notícia que vi foi a de que Michael Jackson estava mal, no hospital, devido a um ataque cardíaco. Cinco minutos depois minha mãe entra no quarto e diz: Michael morreu. Corri pro nytimes pra confirmar. Tava lá. Não sou fã de M.J, nunca fui. Nunca comprei um só cd nem dvd dele (nem pirata). Poucas vezes sentei em frente à tv pra ver algo dele ou sobre ele. Mas duas coisas me vieram automaticamente à cabeça. A primeira, foram lembranças de minha infância, quando uma vez, num aniversário lá em casa, eu comecei a imitar junto com minha irmã os passos dele. Eu achava legal. Eu deveria ter uns 10 ou 11 anos de idade. Não sabia exatamente quem era M.K nem o que ele representava pra música. Sabia que a batida era legal, a dança diferente e que ele era famoso porque passava na televisão e as pessoas estavam sempre comentando. Apesar das turbulências em sua vida, ninguém pode negar que Michael foi uma lenda. E uma lenda, é uma lenda. A segunda coisa que me veio foi um post que escrevi há algumas semanas em que falei sobre ele como uma " figura que mais se assemelha a uma boneca de porcelana falsificada chinesa com cabelo de boneco de macumba" e que ele, diante da ascensão dos afro-americanos nos últimos anos, havia se tornado "um pato branco se afogando num mar negro afro." Não me senti bem lembrando essas frases. É como se agora eu quisesse dizer: foi mal cara!

Mas o que me vem à mente agora é que Michael morreu do coração. Não poderia ser de outra coisa. Segundo as fofocas de todo o mundo, Michael não era um ser humano feliz, talvez até de uma personalidade doentia e infantil. Acredita-se que um dos motivos foi justamente sua vida totalmente deslocada da realidade das pessoas comuns. Uma vida alienada das relações humanas que podemos aqui chamar de normais. Um indivíduo enclausurado pela fama, perdido nos reflexos do culto à sua personalidade, talvez querendo viver ou sonhar na Never Land uma infância que nunva teve. Não sei. Mas Michael sempre passou a impressão de um ser solitário. Alguém que, apesar de tanta fama e dinheiro - e de tantos passos no palco -, parecia não conseguir dominar seus passos em sua jornada nessa terra. Parece-me coerente, pelo menos isso, que tenha morrido mesmo de coração. E que a causa mais profunda para o colapso, não tenha sido outra coisa a não ser sua própria vida infeliz, solitária e sua carência, mesmo, de um sentir-se humano.
Ha uma frase de Joseph Campbell que diz que "estamos aqui para aprender a caminhar com alegria, em meio às tristezas da vida". Talvez Michael não tenha aprendido esse caminhar. Mas talvez nenhum de nós, mortais, jamais compreenderemos o mundo em que só ele viveu.

A Michael, minhas desculpas póstumas.

23 de junho de 2009

se em Paris...

Ultimamente venho me perguntando o que sou. Se um escritor, analista, cronista, poeta, blogueiro, artista, comentarista, crítico, um neurótico, uma vizinha fofoqueira, um bobo da corte, um pouquinho de tudo, ou absolutamente nada disso. É que bate aquela vontade de agir como se fosse e então... Vivo na corda bamba do amadorismo. Sei da minha meta: chegar do outro lado. Apesar de tantos desequilíbrios. Mas o mundo aqui é mais divertido. Não tem regras, não tem chefe, não tem pauta, não tem cara feia, não tem "juízo garoto!". Escrevo o que quero, do jeito que quero. E me dou ao luxo de, como Aline, às vezes ser só coração. Estou certo de que se Deus me deu um cérebro e um coração, é porque é legal usar os dois, misturados ou separados. Depende da vontade. Tenho uma forte sensação de que meu coração funciona dentro de minha caixa craniana e que meu cérebro não calcula, dá um mais ou menos, mas me diz que é por aí mesmo.
Gostaria de me acreditar escritor, pelo menos pra manter minha auto-estima. Minha formação intelectual foi com gibis da turma da mônica e assistindo a pica-pau. Já um personagem histórico que influenciou minha forma de ver o mundo foi Fio. Fio foi um amigo da infância e adolescência. Ele era quase analfabeto, mas era ele quem tinha as sacadas pra muito além de minha oitava séria alienada. Era pobre, filho de lavadeira, mas de uma percepção social extraordinária. Comentava e dava aquele sorriso. E eu ficava com inveja. Se Fio tivesse nascido em Paris, com certeza já estaria em livros.

Nesses quase três anos de blogs (começando pelo literalmente falando) aprendi muito, acho que amadureci bastante. Desobri escritores fantásticos, pessoas que me ajudaram a enxergar o mundo de forma mais rica e ampla. No mar da blogosfera, já me senti um peixe esperto, outras vezes, um cocô boiando. Sinto-me honrado pelos meus poucos, mas queridos leitores, quase cúmplices. Sinto-me contente quando vejo que o que escrevi bateu na cabeça de alguém, como um pedrinha de estilingue, nem que seja pra deixar zonzo. O que achei legal nesse tempo é que nunca me senti um sem noção. Isso porque meus leitores são bonzinhos. Quandos eles percebem pobreza na minha argumentação, eles tentam entender o que eu quis dizer, e consideram apenas minhas boas intenções. Se 90% do que escrevi é um absurdo, eles procuram os 10% de sanidade e me dão a maior força.

Algumas coisas me incomodam profundamente: a retórica dos reis, os que dormem de óculos escuros nos ônibus, os que acham que homens bomba são bonecos de video game, e os mortos vivos. Uma coisa admiro: o sair da caverna.
Já tive vontade de abandonar o blog. Vontade de não mais escrever porque afinal, pra que escrever? Mas um motivo me restou, suficiente pra que eu continuasse: estou vivo, e que o universo sinta a vibração de cada batida no meu teclado. Oh, yes!
Sei que nesse tempo, escrevendo e lendo blogs, não perdi nada. Pra mim, é sempre - oh shit! - emocionante o ato de escrever, a leitura do mundo, o texto como reflexo do que somos.

Hoje faço 29 anos, e me sinto feliz por não estar gripado.

agora, sem véu


"A beautiful girl, silenced forever. My heart died watching this video, it hurt so much"
Comentário no youtube sobre a morte de Neda, durante protesto no Irã.


Faço dessas palavras as minhas. Nunca tinha visto cena igual.


O vídeo, aqui.
A reportagem, aqui.


21 de junho de 2009

Proposta


Proponho que quem trabalha diretamente com o público tenha direito a um adicional por danos psicológicos, da mesma forma que existem os outros adicionais supracitados.


Vale a pena conhecer o adicional de penosidade!


eu só acredito...


existem as coisas supérfluas
as coisas inúteis
as coisas sem importância
as coisas fúteis
as coisas superficiais
as coisas tolas
as coias vagas
as coisas tênues
as coisas irrisórias
as coisas insignificantes
as coisas banais
as coisas desinteressantes


e tem gente que não acredita em milagre


existem as pessoas alérgicas
as feias
as frias
as chatas

e tem gente que não acredita em milagre


existe a poluição sonora, visual e a dos rios
o spam
os comerciais de tv
os engarrafamentos
os deputados
os enlatados
o desgelo das calotas polares
o domingão do faustão e gugu
os juros de cartão de crédito
a gripe aviária, a suína e a dengue
os radicais livres, a gordura, as calorias e o açucar
os flanelinhas
o Angra 1 e o 2
a carga tributária
preta gil
as casas bahia
.
.
eu acredito em milagres

start


amanhã eu vou apertar um botão e o mundo vai funcionar do meu jeito!


se eu começar a escrever sem acento

se eu escrever pela metade, pra completar com o pensamento

se eu nao quiser mais seguir nenhuma regra gramatical

se eu achar que não preciso justificar minhas opniões

se eu começar a escrever apenas cartas pra minha sobrinha e pra humanidade vindoura

se eu quiser ser atemporal

se eu postar várias pinturas de Picasso

se começar a não falar mais nada sério

se voltar às poesias

se passar a comentar mais do que escrever

se postar posts vazios



é sinal que eu apertei o botão


18 de junho de 2009

porque gostei demais



"Sem mais ter o que perder, me entreguei às letras e aqui vou eu."
Lola



ps.: bem que poderia ser o subtítulo do meu blog!



num tapa


A diferença entre o homem mais poderoso do mundo e um indivíduo qualquer usuário de transporte coletivo pode ser exemplificada através de um ato assassino. Obama matou uma mosca e o vídeo foi visto mais de cento e cinquenta MIL vezes no hetube. Eu já matei umas oitocentas muriçocas no verão passado e, pelo que fui informado, não houve nenhuma repercussão global. Tudo bem, foi de uma agilidade excepcional. Não é pra qualquer um. Mas... vocês já observaram o tamanho da mão de Obama?

Eu não saberia medir o tamanho do impacto ambiental, do desequilíbrio ecológico provocado pela eliminação daquela mosca pelas mãos do homem que deveria dar o maior exemplo. Talvez seja pequeno, mas foi o presidente dos Estados Unidos da América quem matou. Existe toda uma força simbólica. Fico me perguntando se não haveria de ser tipificado como crime ambiental. Não é possível que a única função da mosca no ecossistema seja atrapalhar entrevista de presidente da república. Se crime, quem sabe o Homem fosse parar em Guantánamo...Não é pra reclamar. Já disse a atual miss universo que lá é um lugar "suuuuper divertido".

Mas Obama não é bobo. Esses homens nunca perdem uma oportunidade diante das câmaras. Tem gente pensando que Obama é tranquilão demais, devagar...Foi uma forma então dele responder: não contavam com minha astúcia! Será que na hora de explodir uma bomba atômica lá na Coréia do Norte, sobre a cabeça de Kim Jong-il, ele vai pensar duas vezes? Sei não...acho que temos muito o que aprender com a história dessa mosca. É um comportamento observável. Pode ajudar alguém a traçar seu perfil psicológico. Será que isso indicaria algum componente violento na personalidade do presidente? Não, não. Foi apenas uma mosca. Mas será que quando criança ele não rodava gatos pelo rabo e jogava na parede? Como diria Freud, nada acontece por acaso. É preciso dar uma checada nesse inconsciente. Pobre da mosca. Mas teve um morte honrosa. Não foi qualquer mão, não é?

Fiquei sabendo esses dias que os estudiosos estão mudando a forma de dividir a história. Não estão usando mais Cristo. Agora usam outro nome lá, digamos, neutro. Não gostei da idéia. Mas, ok, ok. Acho que pensaram: se Nietzsche já matou Deus... O que não posso aceitar é que a morte de uma mosca divida o theytube, ou ganhe mais audiência que a morte de John lennon. Não, não. Imagine se tivesse matado um rinoceronte.
Mas por que diabos eu estou falando dessa mosca aqui? Acabou, boa sorte.

ps.: sem o google, eu não escreveria JAMAIS o nome...peraê...Nietzsche.

14 de junho de 2009

vai passar, vai passar...

Ontem eu estava, por acaso, na sala vendo tv, e tava passando aquele programa Lar doce Lar, do Caldeirão do Huck. Num dado momento, Luciano disse que a moça lá que ia ter a casa reformada "estava mega sem grana". Pause. Luciano não quis dizer que a moça não conseguia reformar a casa porque era pobre, mas sim porque estava pobre. A substituição do verbo ser pelo estar evidentemente coloca de lado a idéia de algo que seria permanente, para nos transmitir a idéia de um estado transitório, passageiro.
No livro "A cultura do medo", Barry Glassner fala que nos EUA não se olha para a sociedade como aqueles que têm dinheiro e aqueles que não têm. Ao invés disso, a sociedade é vista como aqueles que têm e aqueles outros que irão ter. No Brasil, com certeza, esse olhar não é diferente. Pelo visto, essa idéia da pobreza como algo passageiro, como, sei lá, uma etapa no processo de ascensão social, é típica de países capitalistas que sempre proclamam a mobilidade social como uma de suas características especiais.
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Talvez não fique legal para um apresentador bacana, num programa descontraído que, enfim, está ajudando algumas pessoas a morar num ambiente melhor, dizer que essas pessoas são pobres. Pode não soar bem. Dizer que alguém é pobre, aliás, pode ser entendido como ofensa. A negação da pobreza como uma condição estável, com uma realidade persistente e, consequentemente, a negação do pobre como um indivíduo que é pobre, reconhecendo apenas o que está pobre, produz um efeito curioso: para que o indivíduo pobre ganhe existência, sentido e valor social ele precisa negar sua própria realidade e existência como tal. Se não existe pobreza como uma realidade social permanente na sociedade, também não existe a figura do pobre, mas a figura do que está deixando essa fase de pobreza, conquistando seu espaço na sociedade.
Surge então a figura do batalhador, do guerreiro, daquele que está, como no filme, "em busca da felicidade", daquele que irá ter. Nesse contexto, pode ser ofensivo dizer que alguém é pobre, porque tal classificação estaria colocando o indivíduo numa dimensão social, esta da pobreza permanente, cuja cultura capitalista não reconhece, muito menos valoriza, pelo contrário, nega a existência. Quando não dá conta de negar, menospreza, considerando que tal condição existe como um corpo estranho ao sistema. Assim, se referir a alguém como pobre seria o mesmo que dizer que essa pessoa não pertence à sociedade.
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A exclusão aqui ganha outro sentido curioso. Não é mais o capitalismo como um sistema concentrador que exclui a maioria. A exclusão agora só ocorre se o indivíduo optar por admitir a existência da pobreza em sua vida como uma condição estável que é reflexo da realidade social. A exclusão se transforma num processo de auto-exclusão. Caso ele concorde que não é pobre, mas que apenas está sendo, assume o papel de guerreiro, de super herói, e então passa a ser reconhecido pela sociedade. É uma questão de opção.

Essa visão da probreza como algo transitório também é adotada com respeito à violência. Foi num post de Marjorie Rodrigues que peguei as palavras de Marilena Chauí sobre o tema. Segundo a professora, há dois "procedimentos" usados na elaboração do "mito da não-violência brasileira". Um deles é o

de distinção entre o essencial e o acidental — por essência, a nação é não-violenta e, portanto, a violência é algo acidental, um “surto”, uma “onda”, uma “epidemia”. A violência é algo que pode acontecer sem afetar a essencial não-violência brasileira. A violência é passageira, momentânea e pode ser afastada.

Enfim, o consolo de que tudo nesta vida é passageiro.


12 de junho de 2009

o espetáculo acabou


Coço minha barba três vezes tentando entender um pouco sobre o que se anda discutindo por aí à respeito da chamada revolução nos meios de comunicação. Diz-se que agora está por fim a era do ''eu digo vocês ouvem". Ou seja, esse modelo em que um punhado de órgãos de imprensa contam a estória do mundo e das coisas e guiam a opnião e visão da população, a partir de um ponto de vista restrito que é o seu próprio, está cedendo lugar à proliferação de diversos núcleos que fornecem, compartilham e debatem informação, representados por indivíduos ou grupos que manifestam assim sua própria interpretação sober os fatos. Seria ingênuo dizer que só agora, os indivíduos estão mais conscientes da necessidade de intervir na construção da informação ou do conhecimento midiático. Ao longo da história de nosso país, sempre tivemos núcleos de crítica e constestação, a exemplo do próprio movimento estudantil no período do regime militar. O que parece evidente hoje é a facilidade com que qualquer pessoa pode veicular sua opnião. Fala-se de uma "grande imprensa" que opera agora enfraquecida, desorientada, em conflito com esses núcleos/fontes de informação autônomos. Tem crescido a crítica a esses grandes orgãos de comunicação, que são acusados de serem manipuladores e tendenciosos. Recentemente a Folha veiculou um comercial, tal como uma contra-ofensiva. Em cada frase, percebemos claramente os aspectos críticos em torno dos quais gira todo o questionamento. Segue o texto:

"Quando você assina a Folha, você está assinando por um Brasil mais plural, moderno e democrático. Você assina embaixo pelo respeito às diferenças. Pelo respeito à liberdade e à divergência de opinião. Você diz sim às novas idéias. E à verdade acima de tudo. Assine. Sua assinatura faz a Folha ser cada vez mais a Folha".

O perigo de uma campanha feito essa, em que se destacam tantas qualidades, é justamente o do feitiço voltar contra o feitiçeiro e o Jornal ser visto mais ainda ludibriador. Está claro o embate. De um lado a grande imprensa, formadora de opnião massificada, integrada por jornalistas profissionais, com orgãos geralmente aliados a fortes centros de poder político e econômico. Do outro, indivíduos que sentem a necessidade de expor o que pensam e como pensam sobre a realidade que os cerca. Expor sua opnião, sua experiência, sua percepção, sua compreensão. Acho que o maior ganho é quando o indivíduo se dá conta de que pode construir conhecimento a partir de sua própria iniciativa, como sujeito ativo que coleta, analisa e interpreta informação. Os grandes órgãos falam de jornalismo profissional. A revista Veja, numa reportagem especial sobre a China, há uns 2 meses atrás, logo nas primeiras páginas, usava esse argumento para fazer frente ao conteúdo oferecido pelos blogs e outros meios afins. Acho que seria uma atitude medíocre desmerecer ou desacreditar o trabalho do jornalismo profissional. Mas, como já diz o velho ditado, dai a Cesar o que é de Cesar. Seria igualmente medíocre supor que o conhecimento confiável, articulado, robusto e inteligente sobre um fato qualquer, dependesse desse profissionalismo. Caros, existem milhões de brasileiros, eles possuem cérebros, são dotados de percepção, raciocínio, linguagem e capacidade de compreensão. Se existe algo, natural ou sobrenatural, que dificulte esse processo de análise e interpretação dos fatos, compreensão da realidade e construção de conhecimento independente dos grandes órgãos de comunicação, isso com certeza se deve mais a forças culturais do que à suposta incapacidade dos chamados amadores. E que forças culturais são esses que fornecem a ilusão de que o povo é um bando de cegos que precisa de uma entidade suprema que revele a verdade do mundo e das coisas?
Não tenho dúvidas de que a participação desses diversos núcleos na produção de conhecimento representa um ganho extraordinário na formação de uma sociedade mais próxima de si mesma e mais dona de seu próprio destino.

10 de junho de 2009

quem sabe...

Fui até a cama de minha sobrinha (Beztriz de 7 anos) dar um beijo de boa noite e perguntei a ela como tinha sido o dia na escola. Ela disse que a escola estava em greve. Então eu perguntei:
--- mas por que está em greve?

e ela repondeu:

--- porque o prefeito não mandou o material.


Outro dia eu havia perguntado a ela como tinha sido o dia na escola. Ela falou que tinha brincado. Eu questionei: brincou o tempo todo? Não ensinaram nada hoje? Ela respondeu que sim.

Pergunta nº

1: o que o prefeito da cidade de Salvador está fazendo com o dinheiro da Educação?

2. será que as sobrinhas do prefeito também estão sem estudar?

Minha sobrinha é uma pessoinha inteligente. Aprendeu a ler e a escrever bem cedo. Mas, entre brincadeiras e greves, como fica o futuro da nação?

9 de junho de 2009

como uma sombra no ar


Num texto sobre o acidente do airbus , voo 447, Aline tocou num tema que me chamou atenção. Ela disse que os mortos nesse voo tinham personalidade. Ela analisou a forma diferenciada com que a mídia trata a morte de alguns, a das pessoas bem sucedidas socialmente, em relação a de outros, a dos pobres. Falou dos nodestinos mortos nas últimas enchentes, que não eram vistos como sujeitos individualizados, mas sim como um único corpo. Eu comentei com ela sobre essa visão que temos do pobre como massa, e que seu texto havia me lembrado um livro que dizia que no Brasil, o criminoso que tinha dinheiro era identificado pelo nome, profissão, título. Já o pobre, era apenas o 'elemento'.

Ao pobre realmente é negado personalidade, com se não bastasse lhe negar tantas outras coisas. Na verdade, não sei qual o pior para um indivíduo. Se é lhe negar posse de bens materias, ou destituí-lo de personalidade, identidade social, individualidade. Que importância social se pode dar a um ser - que aqui já não pode mais ser chamado de indivíduo, já que não possui mais individualidade - ao qual lhe é negado sua própria existência social? É interessante lembrar que já a partir do nascimento, é atribuído ao ser humano personalidade jurídica, o que significa a condição para adquirir direitos e contrair obrigações. Mas esse tipo de personalidade, pelo seu caráter meramente jurídico, não faz muita diferença na vida do pobre. Pode-se comparar essa situação à questão da igualdade de todos perante à lei. Mais uma vez o pobre se movimenta na dimensão jurídica, quando o que se pretende e o que, de fato, faria diferença para sua vida seria possuir personalidade ou identidade e igualdade na dimensão social. Embora detentor de direitos, ao possuir personalidade jurídica, e igual aos outros no âmbito legal o pobre, sob o olhar social, continua sendo ninguém, ou apenas uma sombra, a de todos que lhe são iguais na pobreza. Destituir, socialmente, um sujeito de personalidade é um ato de violência, no mínimo. Isso porque, num país como o nosso onde é costume se fazer perguntas do tipo: ''você sabe com quem está falando?'', talvez seja o mesmo que lhe conferir uma certidão de óbito pregada na testa. Mas há uma forma de compensar. Se não temos uma identidade individual para dar ao pobre, vamos dar pelo menos uma coletiva. O menino que nasce na favela, portanto, geralmente não é identificado por caractísticas pessoais, como traços de sua personalidade ou aptidões intelectuais, mas por elementos como time de futebol ou estilo de música. Pelo menos, algo pra se contentar.

Quando entrei na faculdade, a aula inaugural foi com uma senhora, aparentemente louca, pelo forma como estava vestida, colares, cabelo assanhado e gestos desmedidos. Mas não era louca. Durante a aula toda ela nos fez refletir, através de algumas brincadeiras, sobre a complexidade do ser humano. Ela usou uma bonequinha russa, daquelas que na verdade são cinco, uma dentro da outra para simbolizar que possuímos várias dimensões como seres humanos, feito a espiritual, emocional, intelectual, etc. Para a faculdade, era importante que o aluno tomasse consciência de seu significado e riqueza como ser humano, o que contribui sem dúvidas para seu senso de importância e de individualidade como sujeito social. Sem dúvidas, essa olhar mais amplo sobre nossa identidade, automaticamente nos ajuda a quebrar certos rótulos. O processo de inserção no ambiente acadêmico e, consequentemente, num meio social mais destacado tinha, portanto, como pré requisito adquirir, agora sim, identidade individual, deixar de ser massa para que, através disso, se pudesse manifestar a personalidade para seu devido reconhecimento social.

Não é a toa a famosa frase, "virar alguém na vida". É triste ver alguém que não é ninguém, porque a este pouca é dada a oportunidade de falar, de manifestar suas necessidades e vontades. Qual o sentido de ouvir alguém cuja existência social já lhe foi negada desde que nasceu?

6 de junho de 2009

Dorothy, King e a imaginação


Matin Luther King sabia da importância do sonho para a sociedade. Em seu discurso "Eu tenho um sonho", em 1963, o ativista político convidava a nação americana para sonhar com ele, sonhar por um mundo melhor, onde não haveria injustiça, discriminação nem violência contra os negros.
Sonhar tem a ver com imaginar. E não é demais lembrar que a imaginação tem um papel importante no processo de transformação social. Segundo Marilena Chaui, "a imaginação utópica cria uma outra realidade para mostrar erros, desgraças, infâmias, angústias, opressões e violências da realidade presente e para despertar, em nossa imaganinação, o desejo de mudança".
Imaginamos muito quando crianças. Mas parece que com o tempo, à medida em que vamos nos tornando adultos, esse impulso para imaginar vai perdendo força, ao tempo em que nos tornamos cada vez mais conformados e adaptados à realidade. Há sempre um eco fantasmagórico dizendo que devemos aceitar a realidade.

Uma das experiências e lembranças mais gostosas de minha infância, no que diz respeito à imaginação, foi quando assisti pela primeira vez "o mágico de oz". A imagem que ficou guardada na minha mente até hoje foi aquela em que a casa onde Dorothy morava com seus tios, começou a voar após um tornado. Enquanto a casa ia voando e girando, girando e voando, eu ia girando e voando junto. Agora, Dorothy e eu, não estávamos mais na fazenda, naquela vida que ela considerava infeliz. Estávamos voando rumo a um outro mundo, o reino mágico de oz.
Eu não sei se o povo americano voou na casa de Dorothy, mas é possível dizer que a situação do negro nos EUA melhorou um pouquinho de lá pra cá.

Olhando pela janela, para esse mundo dos adultos, desconfio de que as pessoas, na verdade, nunca deixam de sonhar. Talvez elas apenas não sintam mais vontade ou coragem para expor alguns sonhos. Como forma de compensação, me parece que a sociedade delega aos artistas, sejam eles pintores, escritores, atores, essa função ou papel de imaginar, de elaborar realidades que seriam melhores de se viver, ainda que essa mesma sociedade pareça não acreditar ser possível acontecer, ou tenha medo que aconteçam. Talvez por esse medo de que certas mudanças sejam imaginadas pela sociedade, é que se atribui indiretamente ao artista esse papel de sonhador coletivo, cabendo a ele, dessa forma, expressar no seu trabalho os desejos e aspirações da sociedade. Mas atribuir ao artista o papel de sonhador coletivo, a meu ver, pode trazer efeitos negativos. Um deles é o de supor que elaborar cenários imaginários seja uma função exclusiva do artista. Um outro, esse mais grave, é o de vincular a imaginação criadora,que é algo positivo, com a imagem ou estereótipo que se faz, muitas vezes, do artista, quando é visto como o tipo de indivíduo que vive fora da realidade. É como se a sociedade, de alguma forma dissesse: não imagine demais, pois isso é coisa de gente maluca.
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Outra situação curiosa vem do fato de vivermos num mundo repleto de mudanças. Assim, ao mesmo tempo em que existe essa voz dizendo para aceitarmos ou nos conformarmos com a realidade, ou seja, essa repressão sobre a consciência imaginativa, para que esta não proponha uma forma diferente de as coisas funcionarem, essa mesma sociedade que muda tudo, ou quase tudo, o tempo todo, termina por nos forçar a mudar nosso padrão de pensamento, a olhar para as coisas sob uma nova perspectiva, a fim de nos adaptarmos ao novo. Nessas circustâncias, o homem vive um conflito. Ele não deve sonhar com mudanças, porque isso pode ser perigoso para o funcionamento social, mas deve, ao mesmo tempo, aprender a conviver com mudanças constantes, com as quais ele talvez nunca tenha sonhado. Em outras palavras, se hoje somos instruídos a ter que aceitar a realidade, porque não podemos fugir da realidade, amanhã podemos ser instruídos a esquecer essa mesma realidade, porque, enfim, as coisas mudaram. Nesse contexto, não cabe ao homem sonhar com mudanças, mas apenas se adaptar às que vierem pela frente, sempre comunicadas como naturais.
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É possível ainda fazermos outra distinção. Quando sonhamos com um mundo melhor, nosso desejo é por transformação. Ocorre que no mundo em que vivemos, em que os sonhos são sufocados pela realidade que devemos aceitar, as mudanças às quais devemos nos adaptar são geralmente apenas mudanças, e não transformações. Dorothy não queria mudar de fazenda, mudar a cor das paredes, mudar o nome do cachorro. Dorathy queria uma transformação, algo que representasse de fato uma nova experiência de vida.

Não sei quais sonhos as pessoas de hoje sonham. Não sei se ainda sonham, nem se nossos artistas estão representando devidamente os sonhos que lhe foram delegados. Às vezes me parece tudo natural e aceitável. Outras vezes, talvez em momentos de desconforto e inconformismo, a imagem da casa de Dorothy voando ressurge em minhas lembranças, como que me dizendo para nunca abandonar de vez a imaginação.

5 de junho de 2009

É uma pássaro? É um avião?

Não. É o super Jobim.

Não sei exatamente qual título daria a esse post. Então vamos aos fatos para ver se clareia.

Fato 1: "A imprensa francesa criticou a precipitação das autoridades brasileiras (Nelson Jobim, ministro da defesa) em confirmar a origem das peças encontradas na área em que o Airbus teria caído".

Fato 2: " O ministro Joaquim Barbosa acusou o presidente do STF (Gilmar Mendes) de estar destruindo a credibilidade da Justiça brasileira".

Como a maioria deve lembrar, Nelson Jobim já foi presidente do Supremo Tribunal Federal. Isso significa que ele já tem experiência na função, de modo que não haveria problemas em ele retornar para desempenhá-la. Com um despacho só, resolvemos então dois graves problemas institucionais brasileiros: Convidamos Gilmar Mendes para sair às ruas de uma vez por todas, ao mesmo tempo em que enfraquecemos o ânimo das autoridades brasileiras de querer parecer competente diante dos olhos estrangeiros, até mesmo quando se trata de um fato invisível. Ninguem viu, ninguem sabe, mas Jobim tem certeza.

Jobim foi chamado pelo presidente Lula para assumir o ministério da Defesa no auge da crise aérea. Pelo visto, a experiência adquirida nessa fase foi suficiente para que o ministro, agora, chegasse a conclusões, com base em sua imaginação, sobre questões puramente técnicas da alçada da FAB. Um giro de holofotes, please! O que temos até agora é o sumiço de um avião, mas o governo de tão eficiente, já tratou logo de antecipar publicamente sua qualidade de atrapalhado, quando poderia esperar, sem custo de imagem, por um motivo concreto mais adiante que, com sorte, poderia nem surgir. Parece que o ministro pensou: ora, não basta o sumiço de um avião, precisamos inventar uma crise aérea.

Fiquei em dúvida então se o título do post seria: "Super-Jobim, o retorno" ou "Contra a crise aérea e a crise na Justiça, volta Jobim"

não

A luz vermelha acendeu.

Do lado de fora, o frio, um chuvisco e uma menina segurando saquinhos de amendoim. Parecia ter seus nove ou dez anos. Pés descalços, roupinha suja maltrapilha e uma expressão de por favor. Automaticamente respondi que não. Como é fácil dizer não... A menina afastou-se sem relutância. Talvez já acostumada com nãos. Mirei em seus olhos, distantes e pequeninos, e pude ver, sem querer, a cor da fragilidade, da carência e do abandono. Cor assim, não deveria de haver nos olhos de uma criança.

A luz verde acendeu.

4 de junho de 2009

da tristeza literária


Às vezes sinto uma tristeza literária. É uma tristeza que pode ter uma série de motivos do mais diversos, dos mais complexos, dos mais jamais compreendidos. Sinto tristeza literária do ponto de vista de leitor quando, por exemplo:


não entendo a informação
entendo a informação, mas não entendo o texto
entendo o texto, mas não entendo o contexto
entendo o contexto, mas não entendo o texto
entendo a informação, o texto e o contexto, mas não entendo a motivação do escritor
entendo a motivação, mas não entendo a redação
entendo o que o escritor quis dizer, mas não entendo o que ele disse
entendo o que ele disse, mas não entendo o que, afinal de contas, ele quis dizer
sinto que entendi tudo, perfeitamente tudo, e minutos depois me pulam 9,8 dúvidas
o texto é belo mas o conteúdo é vago
o texto tem o conteúdo é excelente, mas a letra é pequena e o fundo é preto ou vermelho
não entendo absolutamente nada

Outras tristezas literárias tem origem no meu próprio ato de escrever. Elas geralmente ocorrem quando eu>>>

penso, penso, penso e não sai nada que se aproveite, de modo que a conclusão do texto é selecionar tudo e apertar a tecla 'delete'
não penso, fica até chamativo, mas não digo nada
desconfio que nem eu mesmo estou entendendo o que escrevo
cito filósofos e despois descubro que tinha a ver, mas nem tanto assim
não consigo achar a palavra certa
não lembro da idéia que tive na noite anterior
sento pra escrever e esqueço o que ia escrever
analiso demais, considero vários pontos de vista, me perco e então travo
começo a achar que tudo é complexo demais e me sinto uma ameba
leio textos excelentes em blogs vizinhos e vem aquela sensação de "eu ia escrever sobre isso... mas não rolou inspiração"
me preocupo demais com palavras bonitinhas e perco o raciocínio
sinto que deveria ter lido um pouquinho mais antes de escrever
percebo que o que escrevi foi um puro desabafo emocional que nenhum leitor merecia
não consigo distinguir o que é importante escrever
.
talvez a maior tristeza literária seja quando sinto minha cabeça oca

O pior é que não sei se vende na farmárcia algum chazinho que resolva isso.


2 de junho de 2009

porque concordo, em fases


Algumas pessoas dizem que é um erro jogar a culpa toda no governo. Às vezes, concordo com isso. Na verdade, concordo em fases, dependendo do grau de alucinação ideológica. Nas fases em que esse grau é alto, considero que o esforço individual do cidadão contribui para um mundo melhor. Nas fases em que desfruto de sanidade, ou seja, quando lembro que não posso perder a noção de perigo, considero que toda a culpa, não só do mundo, mas de todo o universo, é realmente do governo. Uma das poucas vezes em que vi um político falar uma verdade, foi quando Lula foi eleito presidente, e Geraldo Alckmin, querendo fingir de simpático e socialmente responsável, disse que o Brasil chegara a um momento de repensar os graves problemas gerados ao longo da história por nossas elites políticas e econômicas. Não foram exatamente essas palavras. Mas o sentido foi esse.
Semanas atrás, num post sobre questões ambientais,
Aline se referiu ao "poder de decisão" que nós, mortais, geralmente não temos. Num videozinho americano que assisti agorinha, entitulado "the story of stuff" (a história das coisas) e que trata basicamente do ciclo econômico de produção, consumo e descarte, a moça simpática que apresenta o vídeo também falou em "poder de decisão". Quando estou alucinado, sinto que posso transformar o mundo com meu poder de decisão sobre questões do tipo 'se vou trabalhar a pé ou se pego aquele engarrafamento de buzu com direito a tv bus', ou 'se faço três refeições ao dia ou pago minha faculdade'. Em fases normais, tenho a leve impressão de que o poder de decisão do Estado faz com que eu exista a partir do governo, pelo governo e para o governo. Por mais simplório e ingênuo que possa parecer, reafirmo que o problema vem de lá de cima mesmo. Mas falo em governo num sentido amplo, como tudo aquilo que, de alguma forma, nos governa. Governo, como todas nossas instituições derrocráticas, sejam elas políticas, econômicas, governamentais, jurídicas, financeiras, etc. A meu ver, todas elas, na prática, reproduzem, a seu modo, esse mesmo poder de decisão do Estado, e acabam assumindo mesmo o papel de governo todas as vezes em que manifestam seu poder de agir sobre a sociedade regulando,controlando, restringindo, boicotando ou simplesmente atrapalhando as ações e atividades de indivíduos e grupos. Essas instituições que, ao longo da história de nosso país, construiram e preservam essa nossa estrutura social geradora de distorções.
Mas se amanhã eu pegar um cogumelo e fizer um suco, vou montar num jegue e ir para a beira do riacho mais próximo proclamar a segunda independência do Brasil.