16 de fevereiro de 2010

Carta à Nasa

Assisti a watchman ontem pela primeira vez. A parte que mais gostei? Aquela em que o Dr Manhattan, em meio a acusações infundadas de que teria gerado câncer em algumas pessoas, inclusive na ex-namorada, resolve se teletransportar para Marte. Eu não chegaria ao extremo de cogitar, como ele, que a vida humana talvez fosse sem importância, nem de achar que milagre é algo simples já que só acontece aquilo que é possível acontecer. Mas seria interessante se eu pudesse sumir do planeta Terra rumo a Marte toda vez que sentisse que alguém ou alguns estão consumindo meu juízo sem um motivo razoável. Quando eu era criança, minha vontade era de voar na casa de Dorothy rumo à terra encantada do Mágico de Oz. Hoje, os planos mudaram, a ciência evoluiu e eu escolheria Marte. Só espero que lá tenha água.

pipoca (impressões de um quase turista no carnaval de Salvador)

Água, dois reais. Murro na cara, não tem preço. Tum, tum, tum, é chicletão que tá passando. Empurra, empurra, sai de baixo que a madeira vai descer. Madeira desceu. Pou, pou, pou. Acho que doeu. Os barulhos se confundem. Tá apertado. Alguém pisou no meu pé. Colé meu irmão, você é maluco é? - griou um homem feio e fedorento. Beijo na boca. Latão skol dois reais. Beco da ondina, ou beco da fuleragem. Segundo alguns, é lá que rola a putaria. Beija, beija, beija. Empurra, agarra, solta, esfrega. Vai, vai, vai. O grave do trio treme o corpo. Suor. Calor. Tira o pé do chão. "Eu sou o lobo mau, vou te comer". Venha mainha! Quem vem aí? É timbalada. Tá rolando brother. Não fique aí não que é esparro. É aqui que a porra vai inchar! Não solta minha mão! Ai, o menino puxou meu cabelo. Lá vem os homi véi. Os cara tão batendo com cacetete de madeira. Segura aí brother. Chuva de cerveja. Você viu aquela mulher ali véi, que gostosa?! Rapa, é só chegar e dá a idéia, uma idéia forte. Tem que garrar meu irmão! Tá vacilando é? Sai do chão, tum, tum tum, tá rá tá tá, tá rá tá tá. Eu sou o lobo mau, au au.

11 de fevereiro de 2010

enriquecido a 20%

Ultimamente ando meio preocupado porque o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, acordou mal intencionado e resolveu elevar a 20% o grau de enriquecimento do urânio. Igualmente preocupado estaria caso levasse o prêmio acumulado da mega sena desta semana. De uns sete anos pra cá, quando comecei a acompanhar mais de perto as notícias internacionais na internet, descobri o óbvio: afeta tanto a minha vida quanto o que um alienígena sonhou na noite passada em Marte. Caso eu some o tempo da net mais o tempo da tv, reforçamos a conclusão de que as notícias internacionais funcionam como um filme de comédia ou terror, ou um jogo de video game. Pra mim, não significa nada saber que 165 pessoas morreram por causa de uma tempestade de neve no Afeganistão. Embora eu imagine que um americano pularia da cadeira dando socos no ar e berrando: "morram malditos filhos de Bin Laden!" Claro que num mundo cada vez mais globalizado, o que acontece na China pode afetar uma empresa ou a economia de qualquer país no mundo. Mas não é a notícia de que Hu Jintao resolveu elevar a compra de ferro do Brasil que vai alterar o percurso de minha casa pro trabalho ou provocar qualquer outra mudança significativa na minha vida. É como se a internet fosse um terreno baldio na periferia da cidade onde o indivíduo vai e joga o que quer, quando o único propósito é apenas jogar. Virou brincadeira informar. Informar muito, o máximo que se pode, em vez de informar o que e como. É mais significativo pro brasileiro, creiam, saber que Beyonce declarou se sentir carioca do que ser informado de que o ministro da saúde da Venezuela resolveu renunciar. Pra mim, pouco importa se a Nasa está avaliando um ladrilho rachado na blindagem térmica e um anel de cerâmica solto no ônibus espacial Endeavour. Nesse constexo, seria mais interessante pra mim receber a notícia de que fui convidado para dar uma voltinha no ônibus espacial. Qualquer outra notícia, podem deletar.

9 de fevereiro de 2010

jegue

Quando eu era criança, um velho passava em frente de casa montado num jegue vendendo leite. O leite era barato e bom. E era divertido comprar leite de um velho montado num jegue. Hoje em dia, comprar leite de caixa ruim no supermercado não é divertido, nem saudável, nem barato. Não sei, mas o mundo industrializado, em que o homem consome o próprio homem, me traz sempre um sensação ruim de elo perdido, uma estranha tristeza bucólica de poeta barroco, uma vontade irracional de me transportar via internet ou satélite para a casa dos tios de Dorothy. Sim, Dorothy de o Mágico de Oz. Eu sempre quis voar naquela casa, desde que assisti pela primeira vez. Mas a realidade me diz que "we are not in Kansas any more". Sim, eu estou dentro de um supermercado em frente a uma tv de led e um tocador de blu ray. No trajeto rumo ao caixa, Beyonce na capa de uma revista. No Brasil, da janela do hotel, até parece um ser humano normal. Morena, cabelos encaracolados, barriguinha de fora...Acho que faltou o salto para parecer a mulher maravilha.
Eu tenho saudades do tempo em que assistia superman e rambo num tv 14" e acreditava na fantasia de hollywood. Eu tenho saudades de chacrinha, ou seja, do tempo em que um programa de auditório paralisava as famílias. O mundo mudou, ok. Hoje vivemos uma revolução na mídia. Só resta saber onde vamos depositar tanto lixo.