30 de setembro de 2007

Inteligência alienígena

Antônio Abujamra, em seu programa Provocações do dia 26/09, pergunta ao entrevistado do dia, João Sayad, Secretário de Cultura do Estado de São Paulo:
Existe alguma diferença entre assaltar e fundar um banco?

Um vaca per capita

Estava eu hoje pela manhã perambulando por um supermercado do bairro onde moro, tentando distinguir dentre os produtos, aqueles que me acarretariam menor prejuízo financeiro, quando ouvi, sem intenção qualquer de fazê-lo, uma senhora dizendo a si própria numa espécie de diálogo interno exteriorizado, que não entendia porque o leite tinha ficado tão caro. Eu respondi mentalmente, confome havia lido ou ouvido em algum lugar, que tal reajuste (?) se devia a um aumento da demanda pelo produto na China. Olhei para a lata de leite no meu carrinho e me assustei ao ver uma cara branca e redonda com aqueles olhos puxados de chinês. Chinês é um povo ruim e comunista que vem lá do outro lado do mundo pra diminuir meu poder de compra.
A senhora permaneceu por alguns instantes de dúvida angustiante diante das latas e resolveu por não levar nenhuma. Um outro rapaz, pegou um caixa de leite, que ele classificou já conformado como "leite de água pura".
Eu voltei pra casa com uma lata e com raiva de chinês.
Será que lá na China não tem vaca suficiente?

De cabeça fria

A paranóia por corte de custos nas organizaões contemporênas afetaram de modo decisivo o ambiente restrito e privado da vida doméstica na sua dimensão mais simples e corriqueira: o ato ou movimento automático de esforço desprezível de acender um minúsculo, magricelo e quebradiço palito de fósforo. Isto porque, pesquisa empírica realizada por mim nas últimas semanas demonstra de forma inequívoca que a chama de um fórforo de hoje não dura mais quanto a de antigamente. A dúvida que permaneceu sem respostas é se o problema está na quantidade de pólvora ou no tipo de madeira utilizada.
De qualquer forma, a medida é compreensível, afinal, por que só eles deveriam continuar de cabeça quente?

8 de setembro de 2007

Porque devo jogar minha tv no lixo

Diz-se por aí que a internet vem revolucionando os meios de comunicação e, por isso, tem afetado, mesmo, instituições poderosas de nossa época como a televisão. Televisão vem do burronês e quer dizer “aquilo que faz o sujeito ver”. Traduzindo num sentido mais prático, “o que faz o indivíduo pensar estar vendo algo que lhe interessa”. Para piorar, pode-se dizer que a televisão é um elemento da vida cotidiana mundial incompatível com a espécie humana desde sua invenção, não podendo, por isso, atribuir aos nerds do Vale do Silício a culpa por sua decadência natural. Vários características (próprias ou que lhe foram atribuídas anonimamente) eu poderia citar para fundamentar minha tese. Poderia fazer eco à voz de todos aqueles que passam a vida demonizando a tv ou acusando-a de instrumento de lavagem cerebral, o que, nas palavras de Durkheim, corresponderia a dizer de maneira mais elegante, um instrumento de moldagem da “consciência coletiva”. Mas não é sobre o poder de formar ou deformar opiniões que quero tratar. Muito menos se a tv contribui ou não de forma bem intencionada e inteligente para o desenvolvimento intelectual ou cultural do povo brasileiro. Muitos críticos consideram a novela uma ameaça terrível aos bons costumes por querer difundir de maneira pervertida os valores e hábitos de uma sociedade. Mas, não é sobre questões como essa que quero meter meu dedo e nariz. Minha crítica vem de uma observação bem menos polêmica ou complexa: “ A tv é um abuso". Isto porque (retomando o sentido original da palavra) ela "diz" e "quer" nos convencer de tudo aquilo que não queremos saber ou ser convencidos. Por esse motivo, só não vou jogar a minha fora amanhã porque ainda alugo dvds. Evidentemente, essa não é uma característica exclusiva e deplorável da tv. A maioria das mídias como jornais impressos e rádios sofrem do mesmo mal. Falo da tv pela razão óbvia de ser mais popular. Todo mundo, até minha sobrinha de um ano de idade, já descobriu que a tv é um milhão de vezes menos interessante que a internet. E por um motivo muito simples: não podemos escolher “o que” e “quando”. Já diante do mundo virtual, a mágica é perfeita. Ela pronuncia a palavra “Pimbo”, (manifesta sua vontade) - referindo-se ao desenho “Pingo”- dá um clique único (não precisa de muita coordenação motora) e pronto, desejo realizado. Já como a tv, a interatividade é substituída por aquela unilateralidade prepotente: "isso não me interessa, mas eu não tenho escolha". E para aqueles que defendem o controle remoto ou a tv a cabo como mecanismos de escolha, basta lembrar que ainda assim precisamos esperar (parece um palavrão) sempre. E se não podemos “escolher o que e quando” não podemos nada. Vê-se com isso que, além de todos as mazelas já mencionadas, a tv é ainda antidemocrática, ao ferir profundamente a liberdade individual. Diante da tv, não possuímos nem o direito essencial de dirigir nossa atenção, o que significa dizer que ela provoca uma “obstrução direta e rígida ao direito essencial de dirigir nossos pensamentos e, consequentemente, nosso ato de pensar”. Filosofia do Direito à parte, nossa experiência como telespectadores denuncia essa relação manipuladora tv-homem. Um exemplo clássico são as propagandas comerciais. Pagamos contas altas de energia, desperdiçamos tempo (o bem mais valioso de nosso século) para assistir ao mercado querendo introduzir em nossos cérebros uma idéia consumista de uma necessidade artificial de se comprar um bem fútil, algo sempre extraordinário. Há quem defenda que carro não é fúltil, mas, por outro lado, eu não tenho disponibilidade financeira (dinheiro) suficiente para comprar um à vista por R$ 34.000 (trinta e quatro mil reais). Mas é só esse fim de semana! Aproveite essa promoção! Oportunidade Imperdível! Eu, decididamente, não quero perder meu tempo assistindo a comerciais que, absolutamente, só interessam a quem vende. Definitivamente a internet é a salvação (a palavra é essa mesmo). E não falo isso olhando só pro meu umbigo. Pesquisa realizada por mim entre meus vizinhos revelam com dados incontestáveis que todos eles, após terem comprado um computador, vêm apresentando quadros graves de amnésia completa com relação a tvs. Tvs e comerciais, eu, conscientemente, vos sepulto!